Bolsonaro é péssimo em tudo. Péssimo motociclista, péssimo ex-militar, péssimo amigo e, naturalmente, péssimo presidente. Que ele é péssimo presidente, já sabemos disso desde que assumiu a presidência. Mas ele consegue se superar, dia após dia, como ficou demonstrado ontem, durante a CPI da Covid, com os depoimentos do deputado Luis Claudio Fernandes Miranda e de seu irmão Luis Ricardo. Como todo o Brasil – e certamente boa parte do mundo – já sabe, Bolsonaro teria acobertado ações criminosas. O próprio Bolsonaro teria dito ao deputado e seu irmão, em 20 de março, que o responsável pelo escândalo em torno da vacina Covaxin era o deputado Ricardo Barros (PP-PR, líder do governo na Câmara), e nada fez. A denúncia do deputado Luis Claudio foi feita com voz embargada, sofredora: “todo mundo sabe que é Ricardo Barros o deputado citado por Bolsonaro como responsável pela situação com a Covaxin”. Uma denúncia que surpreende principalmente pelo “todo mundo sabe“. Como assim “todo mundo sabe“? O que é que todo mundo sabe e ninguém falou nada? Corporativismo? Temor a Bolsonaro – ou ao próprio Ricardo Barros? Essa é a primeira coisa a ter que ser investigada. Mas o mais grave é o que está fortemente associado à denúncia de Bolsonaro: SE ELE SABIA, POR QUE OCULTOU? POR QUE NÃO DENUNCIOU O DEPUTADO? POR QUE, ALÉM DE NÃO TER DENUNCIADO, MANTEVE O DEPUTADO COMO SEU LÍDER NA CÂMARA? A rigor, líderes na Câmara com o perfil deste que Bolsonaro teria denunciado só existem porque existem presidentes como Bolsonaro – se é que existem outros iguais...
Claro que Ricardo Barros tratou de imediatamente ir às redes sociais para negar qualquer relação com as negociações para a aquisição da vacina contra a Covid-19 da indiana Bharat Biotech. Também ninguém tem como comprovar o que Bolsonaro disse aos irmãos denunciantes. Mas, pelos detalhes apresentados, pela função específica do irmão do deputado Luis Claudio Fernandes e conhecendo Bolsonaro como o Brasil já conhece, é mais forte a informação de que Bolsonaro disse o que disse...
Bolsonaro acabou realizando dupla proeza: prejudicou ainda mais o futuro sob sua direção e garantiu definitivamente a sua derrota na próxima eleição. Bolsonarices Nunca Mais!
Talvez fosse o caso de imitar Émile Zola no seu artigo “J’accuse” de 1898: “O Brasil acusa o presidente Jair Bolsonaro de ser péssimo presidente!”
