07/06/2021 às 09h17min - Atualizada em 07/06/2021 às 09h17min

NÃO BASTA DERROTAR BOLSONARO

É PRECISO DERROTAR O BOLSONARISMO


O bolsonarismo não surgiu do nada. É uma erva daninha que existe há muito, muito tempo. Assume diversas formas, sorrateiras, para se infiltrar mais facilmente nas sociedades. Alguém poderia esquecer do nazismo de Hitler? Ou do fascismo de Mussolini? Ou da nossa ditadura militar? Quem viveu de perto – ou mesmo de longe, na mesma época – jamais poderá esquecer.
Felizmente, conseguimos evitar o rompimento completo das regras democráticas. Mas quando nos deparamos com as imagens do suposto gabinete paralelo da Saúde do governo bolsonarista, não há como evitar um arrepio. A ameaça é muito forte, muito próxima, muito evidente. O bolsonarismo armou-se para ficar décadas. Como também profetizou, anos atrás, o professor Taunay, professor de História, para aqueles assustados jovens de esquerda, querendo uma luz diante do golpe militar de 64.
Já podemos ver claramente tudo isso quando nos deparamos com as imagens do chamado “gabinete paralelo” ou "gabinete das sombras", apresentadas por Bolsonaro a seu ministério privado. Tratava-se, em todos os frames, do Governo Paralelo da República Federativa do Brasil – onde nem existe uma esplanada dos ministérios...
O grupo seria responsável por indicar ao presidente da República o uso de drogas que seriam ineficazes contra a Covid-19, como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. Ou seja, um ministério da Saúde do B (sem nenhuma referência ao glorioso PC do B).  Um Comitê “científico” independente, com Osmar Terra na cabeça.

Investigar esse ministério paralelo passou a ser uma das principais linhas de trabalho da CPI da Covid, talvez até antes (ou simultaneamente) da reapresentação do “ex”-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello.

​O relator Renan Calheiros (MDB-AL) considera que um dos pedidos de convocação analisados será o do ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), apontado como o “padrinho” do grupo de aconselhamento paralelo do presidente.
Ele aparece na mesa de cerimônia ao lado de Bolsonaro, em reunião gravada no Palácio do Planalto com defensores da cloroquina e integrantes da associação Médicos pela Vida.
Osmar Terra também é um defensor assumido da chamada “imunidade de rebanho”, segundo a qual a pandemia desaparecerá em razão do ritmo acelerado da contaminação da população.
Os requerimentos para a sua convocação foram feitos pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é vice-presidente do grupo, Rogério Carvalho (PT-SE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Também deverá ser considerado o pedido para ouvir o virologista Paolo Zanotto. Ele aparece no mesmo vídeo da reunião no Planalto, quando sugere criar uma espécie de “gabinete das sombras” para tratar da resposta oficial à pandemia.
“Talvez fosse importante montar um grupo, e a gente poderia ajudar a montar um ‘shadow board’ (conselho-sombra) , como se fosse um ‘shadow cabinet’ (gabinete-sombra). Esses indivíduos não precisariam ser expostos à popularidade”, declarou Zanotto.
O requerimento para ouvir o anestesista Luciano Dias Azevedo, um dos principais defensores do medicamento junto ao governo, também deverá ser votado. O ofício foi apresentado pelos senadores Humberto Costa (PT - PE) e Rogério Carvalho, no dia 12 de maio.
Foi o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta quem disse, em depoimento à CPI no dia 4 de maio, que Azevedo participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em abril do ano passado, em que se tentou, por decreto, alterar a bula da hidroxicloroquina para ampliar o uso do medicamento no tratamento da Covid. Pausa para várias exclamações -!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Os senadores justificaram a convocação do anestesista, que também é tenente, afirmando que é grave utilizar a Presidência da República para disseminar o uso de medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid.
Outro pedido de convocação é de Felipe Cruz Pedri, secretário de Comunicação Institucional do governo, feito por Renan Calheiros, em 2 de junho.
“A Secretaria de Comunicação Institucional do governo federal tem, ou deveria ter, papel central nas ações de conscientização e informação da população. É importante a presença do secretário perante esta CPI para depor sobre as ações que sua secretaria desenvolveu e vem desenvolvendo durante a pandemia”, justificou Renan.

Documentos da Casa Civil da Presidência da República entregues à CPI da Covid mostram que pessoas apontadas como integrantes do grupo participaram de ao menos 24 reuniões para tratar de estratégias do governo no combate à pandemia. Vale repetir: 24 reuniões para tratar de estratégias do governo no combate à pandemia!

O material remetido à CPI trata de informações solicitadas sobre todas as reuniões que tiveram como pauta o tema relacionado à pandemia da Covid-19 — Bolsonaro não esteve em seis delas, mas todas ocorreram no Palácio do Planalto ou no Alvorada (residência oficial da Presidência).
Ou seja: era tudo em família...

HG

Leia também na Folha e no Brasil247.
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