06/06/2021 às 08h49min - Atualizada em 06/06/2021 às 08h49min

​PERU E ALEMANHA EM ELEIÇÃO

E O BRASIL, SÓ NO ANO QUE VEM...


Eleição é sempre muito bom. Mas é muito melhor quando vemos os conservadores em queda pelo mundo. A eleição deste domingo, 6, no Peru (lá são duas horas mais cedo, com relação a Brasília), está deixando  a direita sul-americana em pânico.
As mudanças políticas no Chile e os protestos na Colômbia fazem as forças conservadoras tremer diante do fortalecimento do eixo de esquerda na região – e é o que pode acontecer, caso o candidato Pedro Castillo vença.

Os protestos e as transformações políticas no Chile, a onda de manifestações contra o governo de Iván Duque na Colômbia, a eleição de Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), na Bolívia, e o enfraquecimento da oposição de direita liderada por Juan Guaidó e Leolpoldo López na Venezuela, tudo isso representa um vendaval de pavor na direita sul-americana.

Caso o candidato de extrema esquerda Pedro Castillo, do partido Peru Livre, consiga derrotar a conservadora Keiko Fujimori, do Força Popular, o Peru se unirá a uma frente de governos de esquerda, para desespero de Bolsonaro que, obviamente, aposta na filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), envolvida em processos de corrupção. Um dos principais assessores de Keiko é o ex-chanceler Francisco Tudela, antigo conhecido do Itamaraty. Em entrevistas a jornais locais, Tudela afirmou que Castillo significaria a destruição da democracia peruana, e que representa "o socialismo do século XXI" – o que pode significar mais e mais votos para Castillo...

Todos sabem que o candidato do Peru Livre está mais próximo do MAS boliviano e do governo venezuelano de Nicolás Maduro. Uma das primeiras consequências da eleição de Castillo seria a saída do Peru do Grupo de Lima, criado por iniciativa de Lima para pressionar pela recuperação do poder na Venezuela.
A Argentina de Alberto Fernández já abandonou o grupo e hoje está entre os países que defendem uma solução negociada para a crise venezuelana, que inclua a participação do governo chavista — em sintonia com vários outros governos, entre eles o de Joe Biden. Fernández foi ainda mais longe, e retirou seu país da denúncia apresentada por vários países e pela Organização de Estados Americanos (OEA) contra o Estado venezuelano no Tribunal Penal Internacional, em Haia, em 2018, por supostos crimes de lesa-Humanidade.

Se Castillo vencer, Maduro certamente será convidado para a posse, além das mais altas autoridades do governo cubano, que têm forte vínculo com Vladimir Cerrón, polêmico fundador do partido de Castillo e, como Keiko, envolvido em processos de corrupção. Para a oposição venezuelana, seria um revés doloroso, em meio a um processo global de revisão do reconhecimento ao "governo interino" de Guaidó. Isso explica por que López e sua mulher, Lilian Tintori, foram até Lima fazer campanha por Keiko.

“Estamos vindo do futuro e no futuro, se for implementado um modelo como este, o que vem por aí é escuridão, fome, desolação e tristeza. Não queremos isso para o Peru, queremos uma democracia forte, sólida” — declarou López em evento na capital peruana. “Com toda a humildade, lhes pedimos que melhorem sua democracia e não permitam que uma proposta autoritária, que promove a violência, o confronto, a divisão, destrua todo um país” — discursou o líder opositor venezuelano, provavelmente provocando risadas.

Em Lima, comenta-se que López chegou ao país por iniciativa do escritor Mario Vargas Llosa (Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, marquês de Vargas Llosa, conhecido escritor, político e jornalista), que nesta eleição engoliu seu fervente antifujimorismo para evitar o que considera um mal muito maior para o Peru. Apesar do nome Vargas Llosa, o principal apoio a Keiko vem de empresários e políticos conservadores. Nesses setores, as propostas de Castillo, entre elas a de reformar a Constituição de 1993, causa estupor.

Em sua campanha, Keiko adotou um clássico perfil populista, ofereceu mundos e fundos aos setores populares arrasados pela crise econômica e pela pandemia, mas deixou bem claro que não fará mudanças no modelo peruano – que, como o chileno, trata-se de um modelo da desigualdade.

O Brasil, por exemplo, teme pelo futuro do acordo de facilitação de comércio entre os dois países, já ratificado em Brasília, mas ainda está à espera de um sinal verde do Congresso peruano.
Em Lima, jornalistas, políticos e analistas apostam que, se for eleito, Castillo se unirá a uma frente regional de esquerda — governos, partidos e movimentos sociais — que hoje se sente fortalecida e aposta em mudanças profundas.
Na semana de encerramento da campanha, o candidato do Peru Livre recebeu uma declaração pública de apoio do ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica:
“Você tem um desafio grande pela frente. Fico feliz por ter te conhecido e saber que na pátria grande tem gente que a defende, vejo que você está cheio de esperança”, disse Mujica, no ‘Encontro de mestres’, organizado na rede social Facebook. Na Conversa, Mujica pediu a Castillo que não "caia no autoritarismo".

Enquanto isso, na Alemanha, trocando pisco por cerveja, os conservadores vão às urnas com medo de ameaça de extrema direita. A vitória da AfD na Saxônia-Anhalt seria um golpe devastador para a CDU (União Democrática Cristã Alemã) de Armin Laschet.
A CDU tem sido uma força dominante na região oriental por décadas, superando todas as eleições estaduais, exceto uma, desde a reunificação em 1990.
Os alemães do estado de Saxônia-Anhalt, no leste do país, foram às urnas nesse domingo, com a extrema direita representando um duro desafio para os conservadores de Angela Merkel no grande teste final antes da primeira eleição geral, em 16 anos, sem a veterana chanceler concorrendo.

A Saxônia-Anhalt é um dos menores estados da Alemanha com uma população de 2,2 milhões, mas com a União Democrática Cristã de Merkel concorrendo cabeça a cabeça com a extrema direita Alternative für Deutschland (AfD).

 
Leia também em O Globo, The Guardian e FlipBoard.


 
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