Ciro quer se lançar candidato a presidente de qualquer maneira. Quer porque quer. E pensa que, quando ele quer, todo mundo tem que aceitar. Ele lembra aqueles coronéis das antigas. Felizmente, a cegueira política de Ciro não contaminou o partido inteiro. O deputado Túlio Gadêlha, por exemplo, discorda da estratégia de Ciro Gomes que agora só pensa em bater em Lula! Dá pra acreditar? "Ciro tem que criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula. Ciro não vai conquistar os votos de Bolsonaro", diz Gadêlha, com bastante clareza.
Além disso, ele tem que ler as pesquisas. Até no Nordeste Ciro não passa do quarto lugar, distante de Lula uma imensidão. E é exatamente na região-origem dos dois em que Lula tem o maior índice de intenção de voto. O líder pedetista Brizola, que era gaúcho, olha de cima e deve estar balançando a cabeça com pensamentos em tons muito altos: “Barbaridade, tchê! Por que não tomas juízo?” Hayle Gadelha
Veja os índices de intenção dos pré-candidatos a presidente por região e, no final, a entrevista de Túlio.
Entrevista. Perguntado pela Folha como vê a movimentação de Ciro e do PDT para 2022, o deputado Túlio Gadêlha foi enfático: "Não tenho achado que seja uma estratégia interessante os ataques ao Lula. No momento em que mais o país precisa de estadistas para vencer esta crise, vemos as nossas maiores referências entrarem em conflito. Isso tem me preocupado e me afastado desses projetos. Até o Brizola, para usar uma referência do PDT, dizia que o campo progressista dividido é escada para a direita conservadora subir. E é isso que está acontecendo".
(Gadêlha está certo. Ninguém em sã consciência pode apoiar essa decisão tola de Ciro. O momento é da mais ampla união contra o fascismo.)
Como vê a movimentação de Ciro e do PDT para 2022? Não tenho achado que seja uma estratégia interessante os ataques ao Lula. No momento em que mais o país precisa de estadistas para vencer esta crise, vemos as nossas maiores referências entrarem em conflito. Isso tem me preocupado e me afastado desses projetos. Até o [Leonel] Brizola, para usar uma referência do PDT, dizia que o campo progressista dividido é escada para a direita conservadora subir. E é isso que está acontecendo. Como pedetista, considera que a legenda deva ter nome? A candidatura de Ciro é legítima? Com certeza, a candidatura de Ciro é legítima, é necessária. Acho que, [sobre] ter candidatura, cabe avaliar, discutir o momento. Tanto PDT quanto PT têm que fazer essa avaliação. Em 2018, não estávamos atravessando uma pandemia nem passando por um período de uma política genocida. Vivemos hoje um momento completamente diferente: extermínio da população brasileira, desemprego em níveis inimagináveis, a retirada de direitos da população mais carente, a destruição das políticas públicas, a entrega do Estado brasileiro, das suas riquezas naturais. E o que propõe? A nossa insistência é em tentar se discutir uma via desse campo progressista que seria imbatível: uma chapa construída por Lula e Ciro, ou por Ciro e Lula. Qual outro candidato hoje no cenário nacional enfrentaria essa aliança com chances reais de vencer? As críticas concomitantes de Ciro a Bolsonaro e a Lula podem ter algum efeito prático, atraindo, por exemplo, um eleitorado mais à direita? Acho que os bolsonaristas arrependidos não são suficientes para levá-lo ao segundo turno. O bolsonarismo ainda é muito forte no país e há muitos defensores do governo, por incrível que pareça. E acreditar em um segundo turno entre Lula e Ciro é viver uma ilusão. Qual é, então, seu pleito em relação à pré-candidatura de Ciro? Ciro tem que colocar a candidatura dele, tem que defender o projeto nacional de desenvolvimento, que nós tanto falamos, tem que dialogar com outros partidos, mas tem que criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula. Ciro não vai conquistar os votos de [eleitores de] Bolsonaro. Ele pode conquistar os votos dos 40% de indecisos, e para isso não precisa atacar Lula.
