Todos nós já sabemos disso. Basta ir ali na esquina e perguntar. A maioria das respostas vai ser que Bolsonaro não tem capacidade de liderar o Brasil. São 58%, segundo a pesquisa Datafolha realizada na terça, 11, e na quarta, 12. É o maior índice desde que a pergunta começou a ser feita em abril de 2020. Por incrível que pareça, 38% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro possui condições de comandar a nação! E dizem que é com base no que ele fez e está fazendo pelo país!!! São 4% os que responderam não saber.
Na pesquisa anterior, de março, 56% disseram não enxergar capacidade (e não conseguiriam nem usando binóculos), 42% afirmaram que sim e 3% não opinaram. Desde a pesquisa de 27 de abril do ano passado, a parcela dos que respondem que “o presidente carece de aptidão para governar o país” é superior à dos que veem o contrário.
O subgrupo de empresários é o único que, na maioria, acha hoje que Bolsonaro é capaz de liderar o Brasil, com 62% dos entrevistados que expressaram esse sentimento. Que empresários são esses? Não percebem que seus negócios estão perdendo a linha do futuro? Com exceção do empresariado, em todos os demais segmentos relevantes os resultados sobre a inaptidão do atual chefe do Executivo se destacam.
A avaliação de que o presidente tem capacidade para a missão também é elevada entre os evangélicos. Nessa parcela, que usualmente confere popularidade a Bolsonaro, 49% veem nele condições de liderar o país (inacreditável!), índice que cai para 34% entre católicos e para 28% entre espíritas/kardecistas – onde baixou uma luz mais forte.
Geograficamente falando, o diagnóstico de incapacidade atinge o maior índice (65%) no Nordeste, região que, segundo o Datafolha, concentra hoje a maior resistência a Bolsonaro e desaprovação do governo – cabras firmes na política!
Até na região Sul, que apresenta as maiores taxas de aprovação e intenção de voto em Bolsonaro na próxima eleição, o percentual dos que o julgam que ele é capaz é de 44%, contra 51% que pensam exatamente o contrário.
Quando a pandemia começou, Bolsonaro tinha posição melhor no quesito capacidade. No início de abril de 2020, ele era considerado apto para liderar o país por 52%, contra 44% que o julgavam inábil. Depois disso, o povo abriu o olho e a taxa de incapacidadepassou à frente, ocupando a dianteira em todas as pesquisas.
Bolsonaro começou a mostrar quem realmente era. Como presidente, deu sinais de inoperância diante da crise, sabotando medidas de prevenção sanitária, negligenciando vacinas e transmitindo imagem de desalinhamento com seu famoso "posto Ipiranga", Paulo Guedes, a quem terceirizou a condução da economia, como ele fala. Sob o domínio (!) de Bolsonaro, o Brasil se transformou em um dos epicentros globais da Covid, doença que já matou mais de 430 mil brasileiros. A responsabilidade do governo no descontrole da pandemia é alvo da CPI da Covid, que foi instalada no Senado em 27 de abril e já reuniu depoimentos comprometedores para o Executivo.
Segundo o Datafolha, 51% da população consideram a atuação de Bolsonaro na pandemia ruim ou péssima, contra 21% de pessoas que acham sua conduta ótima ou boa.
Na área econômica, os brasileiros apontam o agravamento de problemas como inflação, desemprego e fome, em meio a um cenário de paralisia da agenda do governo no Congresso e do enfraquecimento crescente de Guedes.
Apesar de algumas boas notícias, como a volta do pagamento do auxílio emergencial (agora com alcance reduzido...) e a criação de 837 mil vagas de trabalho com carteira assinada no primeiro trimestre, os sinais de retomada da atividade são lentos e desiguais, formando um quadro ainda preocupante.
Nessa quinta-feira, 13, um grupo de acadêmicos, advogados e professores fez pedido junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) de reconhecimento da incapacidade civil de Bolsonaro para ocupar o cargo de presidente e, naturalmente, reivindicam o seu afastamento. Os autores apontam razões jurídicas, sociais e psíquicas. Afirmam que Bolsonaro "não está exercendo devidamente" a função e falha na execução de políticas públicas, pecando por "palavras, ações e omissões". Além disso, apresenta "incapacidade de cognição e ação".
O grupo requisita ao STF a realização de perícia médica para verificar possível anormalidade de personalidade de Bolsonaro. O relator do caso é o ministro Gilmar Mendes, que ainda não se manifestou. A ação é assinada pelo presidente da APD (Academia Paulista de Direito), Alfredo Attié Jr., e pelos professores Renato Janine Ribeiro (USP), Roberto Romano (Unicamp), Pedro Dallari (USP) e José Geraldo de Sousa Jr. (UnB), além dos advogados Alberto Toron e Fábio Gaspar.
A rigor, nem precisaria perícia médica. O resultado tá na cara.