Mourão não via a hora de tirar o time de campo, não aguentava a ideia de se transformar apenas em um vice-besteirão. Sentiu que era essa a hora, principalmente depois que a candidatura Lula tornou-se a nova realidade do país. E depois também que se tornou mais escandaloso o seu afastamento de Bolsonaro. Talvez Mourão gostasse da ideia de sair atirando, detonando Bolsonaro, mas não pode passar a ideia de traíra. Precisa dos recursos financeiros e dos votos associados a seu presidente. Espertamente, convenceu Bolsonaro a apoiar a sua candidatura ao Senado em 22 – ou pelo menos fazer de conta que apoia. Na sua entrevista ao Valor Econômico desta segunda-feira, 26, mostrou habilidade em demonstrar afastamento de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que evitava passar a imagem de traíra.
De acordo com Mourão, Bolsonaro quer "outra pessoa" como candidato a vice-presidente em 2022, apesar de ainda não terem conversado sobre o assunto – deu pra entender? Ele quer distância, ao mesmo tempo que tenta convencer que os dois estão afinadíssimo na ideia.
"Bolsonaro vai escolher outra pessoa para acompanhá-lo para a reeleição. O que tenho visto nas declarações de Bolsonaro é que ele precisaria de outra pessoa no meu lugar. Mas ele nunca disse isso para mim" – o que deixa bem evidente que se trata de voo solo de Mourão.
Questionado sobre uma eventual "terceira via" para a disputa da presidência em 2022 - um nome que não seja Bolsonaro ou Lula - o vice-presidente disse que o candidato precisa ser um "nome factível, que empolgue o eleitorado". "A terceira via, para surgir, tem que se valer da união dos partidos de centro, centro-direita, centro-esquerda". Ele admitiu não ter força para ser a chamada "terceira via".
Para Mourão, seu caminho será disputar uma vaga para o Senado pelo Rio Grande do Sul. "Se abrir possibilidade, vejo que disputar cadeira ao Senado estaria mais ao encontro da maneira como sou, como atuo".
Foi nesse clima que, na Cúpula do Clima, Bolsonaro decidiu afastar Mourão das decisões e discussão de estratégias para o evento. É como se dissesse: “Quer ser Senador às minhas custas? Te vira!”
