Bolsonaro ultrapassou o segundo ano de seu mandato presidencial carregando uma única alternativa: ou ele sai por impeachment ou permanece no poder garantido por um golpe. Alguém tem dúvida? Claro, alguém pode lembrar que ele pode negociar com o Centrão, garantir-se no poder até o final do mandato. Mas aí ele não teria mais mandato, seria apenas um mandado. É o que comprova a gravação de sua conversa telefônica com o senador Jorge Kajuru, do Cidadania de Goiás, acima de tudo digno representante do Centrão.
No diálogo “mui amigo”, Bolsonaro teria cobrado do senador que a CPI da Covid só está querendo investigar o presidente da República, deixando de lado governadores e prefeitos. Bolsonaro revela seu temor de que o tal relatório da Comissão Parlamentar seja "sacana" com ele. Cobra do senador que seja feito "do limão uma limonada". Kajuru responde que ia se esforçar: “Eu jamais vou entrar em CPI focada politicamente em pegar algo errado do presidente da República. Nós vamos buscar tudo, rigorosamente tudo. E quando eu falo tudo, isso, sem nenhuma dúvida, tem que chegar a governadores, a prefeitos de todo o Brasil. Não vou participar dessa CPI se ela for revanchista, se ela for ‘pessoenta’ contra o presidente Jair Bolsonaro, com quem tenho boa relação. Ele me respeita e eu o respeito”. Um discurso perfeito para alguém que está gravando tudo, garantindo-se para o futuro.
Durante a conversa, Bolsonaro disse também que menos pessoas poderiam ter morrido em decorrência da Covid-19, se governadores e prefeitos tivessem aplicado melhor os recursos no enfrentamento à pandemia. “Kajuru, depois que nós conversamos aqui, nós estamos afinados. É CPI ampla, investigar ministros do Supremo e ponto final”, disse Bolsonaro.
Já no sábado, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou um pedido de aditamento da CPI da Covid para incluir, nas investigações, atos praticados por agentes de estados e municípios na gestão de recursos federais. Tudo quase nos conformes. Veremos a continuidade. Evidentemente, incluir os ministros do STF teria um custo supremo...
