Uma invasão do site de financiamento GiveSendGo revelou que milhões de dólares foram arrecadados para causas e grupos de extrema direita, muitos deles proibidos de levantar fundos em outras plataformas.
Também identificou doadores de alta renda, anteriormente desassociados à extrema direita, alguns deles muito ricos, com poder ou com importante cargo público. Alguns dos maiores beneficiários foram os membros de grupos como os Proud Boys, tidos como um grupo terrorista no Canadá, muito investigados, estariam diretamente relacionados ao ataque de 6 de janeiro no Capitólio dos Estados Unidos.
A invasão, compartilhada com jornalistas pelo grupo de transparência “Distribuindo Segredos Negados”, mostra que o site foi usado para uma ampla gama de fins legítimos de caridade, como financiamento coletivo de contas médicas, projetos de ajuda e missões religiosas. Mas a postura permissiva do site em relação a atores de extrema direita significa que grupos que foram banidos de outras plataformas de arrecadação de fundos após episódios de discurso de ódio e violência também usaram a plataforma.
Em pelo menos 11 campanhas de crowdfunding associadas aos Proud Boys, os membros do grupo, incluindo alguns que agora enfrentam acusações de conspiração relacionadas ao ataque ao Capitólio, arrecadaram mais de US $ 375.000. Algumas dessas campanhas de arrecadação de fundos rendem grandes quantias de dinheiro em um curto período. Depois que o presidente do Proud Boys, Enrique Tarrio, foi preso em 4 de janeiro por acusações relacionadas a armas de fogo e vandalismo de uma igreja negra em um comício anterior, um arrecadador de fundos anunciado como um "fundo de defesa" ganhou US $ 113.000 em apenas quatro dias.
Uma grande quantia veio de uma série de grandes doadores que optaram pelo anonimato no site. As doações anônimas teriam incluído US $ 1.000 de um endereço de e-mail que seria associado a Gabe Carrera, um advogado baseado na Flórida. Outros US $ 1.000 estariam associados a um endereço de e-mail pertencente a Paul C. Gill, um funcionário da Hawaiian Airlines baseado em Honolulu e ex-piloto que já teria feito doações para as campanhas de Donald Trump e para o Partido Republicano, e que já teria feito comentários políticos públicos na forma de cartas ao editor em jornais locais.
Dos doadores de Tarrio, nenhum respondeu imediatamente aos pedidos de comentários, exceto Gerardo G. Gonzalez, que anonimamente doou US $ 1.000 para Tarrio em 7 de janeiro. Registros públicos mostram que Gonzalez, residente na Flórida, é um ex-farmacêutico que possui pelo menos seis propriedades em Miami Beach e Homestead, Flórida. Os seus apartamentos, prédios de apartamentos e um lote de área cultivada são avaliados em mais de US $ 2,4 milhões e, nas décadas anteriores, vendeu outras propriedades no valor de milhões a mais. Em uma conversa telefônica, Gonzalez disse que seu apoio aos Proud Boys foi motivado por sua persistência de que “não há racismo sistêmico neste país”, e sua aceitação a “BLM e Antifa” que ele disse representar “o verdadeiro extremismo” nos Estados Unidos. Ele também disse termos depreciativos para latinos e Democratas.
Outros arrecadadores de fundos do Proud Boy levantaram grandes quantias e atraíram uma gama semelhante de doações anônimas de alto valor. Após os distúrbios no Capitólio, uma arrecadação de fundos em nome de “Assistência Médica do Garoto Orgulhoso da Capital” arrecadou $ 106.107 em apenas 6 e 7 de janeiro. Uma doação anônima de $ 5.000 foi associada a um endereço de e-mail pertencente a Ou Yin Lu, de Hacienda Heights, Califórnia, que já havia doado $ 14.640 para fundos de campanha de Trump, o Comitê Nacional Republicano e um ex-parlamentar do estado da Califórnia, Bob Huff, durante a fase de financiamento de campanhas de 2020. Além disso, depois que as acusações foram feitas ao organizador dos Proud Boys, Joe Biggs, por seu suposto papel no ataque ao Capitólio, uma doação anônima de US $ 1.000 veio de um e-mail pertencente a uma funcionária pública de Nova York.
Duas campanhas de arrecadação de fundos separadas pediram aos patrocinadores que financiassem equipamentos de proteção e comunicação para filiais regionais dos Proud Boys, arrecadando $ 4.876 e $ 12.900, respectivamente. Mais tarde, eventos de arrecadação de fundos foram realizados em nome de ativistas que agora enfrentariam graves acusações decorrentes dos acontecimentos de 6 de janeiro. Um que arrecadou $ 6.475 em apenas um dia foi para o benefício do Proud Boy do estado de Washington e do ancião Ethan Nordean, também conhecido como Rufio Panman. Outro, para Nick Ochs, o autointitulado líder do capítulo Havaiano dos Proud Boys, arrecadou $ 19.687 entre 8 e 13 de janeiro.
Candyce Kelshall, presidente da Associação Canadense para Estudos de Segurança e Inteligência de Vancouver, que, na Simon Fraser University, pesquisa movimentos sociais transnacionais violentos, disse que o crowdfunding de extrema direita em GiveSendGo era apenas "a ponta do iceberg" e esforços semelhantes estavam acontecendo em até 54 outros sites de crowdfunding que sua pesquisa havia revelado. Ela disse, no entanto, que a GiveSendGo era “particularmente insidiosa”, devido à apresentação de tal crowdfunding sob o disfarce de caridade baseada na religião.
O que fica mais terrivelmente claro em tudo isso é que participar dos grande grupos da extrema direita americana está se transformando em negócio lucrativo. Onde será que isso tudo vai parar? Se é que vai parar...
