Dizem que o homem é um animal político. Pelo menos é o que se supõe a partir de Aristóteles, que falou em zoon politikón. Mas essa história de ser animal está sendo levada muito a sério por Dória, que conduz a política de São Paulo como se fosse um animal. É o que se pode concluir da gravação que teria sido feita inadvertidamente por sua própria equipe durante reunião de Dória com Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, no dia 6 de novembro de 2020.
Dória mostrou-se revoltado com a negociação de seu governo com a China pela aquisição da vacina Coronavac, chegando a dizer “Vou pegar esse chinês pelo pescoço”. (no diálogo, ele não revela quem é o “chinês” alvo das críticas – seria Xi Jinping?)
O trecho foi exibido pela TV Globo nessa quinta, 8, no primeiro episódio do “Corrida Pelas Vacinas”, documentário GloboPlay. Eles gravaram um trecho da reunião, com a autorização da assessoria do Governo de São Paulo, mas os participantes esqueceram de desligar o microfone e os jornalistas da Globo captaram a conversa. No diálogo, Dória pede rapidez na aquisição da Coronavac para São Paulo, dizendo que está “se expondo politicamente”. Não falou das vidas perdidas pela pandemia nem da necessidade de salvar o povo da Covid-19 – falou apenas dos votos que pode ganhar e da eleição para presidente que poderia vencer.
“Tô gastando meu capital político toda semana”, disse ele a Dimas Covas. “Nós estamos gastando 30 milhões de dólares, eu tô me expondo politicamente!”.
Diz para Covas pressionar os negociadores chineses, aproveita para reclamar da exposição política e dos ataques de Bolsonaro e sua corja contra a vacina chinesa: “Só tem um cara que tá se expondo aqui. Sou eu. Fundamentalmente, sou eu. Eu tô no primeiro plano nessa história. Publicamente. Ainda sofrendo ataque do Bolsonaro, bolsominion, bolso não sei do quê. Bando de malucos”. Uma verdadeira comédia, se não mostrasse a tragédia que são certos políticos
Na reunião de novembro, Dória já sonhava com o ganho político que teria contra Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello: “Num pacote escrito vacina CoronaVac. É mortal. Não há Anvisa, nem Bolsonaro, nem bolsominion que resista. Então é importante chegar a vacina. Essa imagem, ela é de uma força de pressão política, institucional, de opinião pública, irresistível. Irresistível. Chegou a vacina. E agora, ministro Pazuello? E agora, Bolsonaro, como fica? Agora, sem isso, é o contrário: E agora, governador João Dória? Cadê a vacina?”.
Dória esqueceu de uma coisa: Lula está muito mais vacinado do que ele. É melhor regravar tudo que disse...
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