08/04/2021 às 08h15min - Atualizada em 08/04/2021 às 08h15min

​BOLSONARO CAIU NAS REDES.

FOI LULA QUE DERRUBOU.


Faz apenas um mês que Lula foi reabilitado eleitoralmente – e já alterou inteiramente o cenário das eleições de 2022. Passou a incomodar Bolsonaro (era o rei do digital) até mesmo nas redes sociais.

Segundo o IPD (Índice de Popularidade Digital), ranking produzido pela consultoria Quaest, no início desta semana, Lula estava empatado tecnicamente com Bolsonaro em desempenho digital, depois de um pico em meados de março.

Bolsonaro liderava absoluto o IPD desde que o monitoramento foi criado, em janeiro de 2019. Mas ficou atrás de Lula por nove dias seguidos, a partir de 8 de março, quando o Supremo (via Fachin) anulou as suas condenações na Operação Lava Jato.

Na última segunda-feira, 5, quando a Quaest concluiu o relatório do período, os dois pré-candidatos à Presidência estavam em posição de empate técnico: Bolsonaro com 63,3 e Lula com 61,1.
Para os analistas ouvidos pela Folha, esse quadro do meio virtual confirma a previsão de polarização entre o bolsonarismo e o PT para a eleição de 2022, já que não surgiu nenhum nome capaz de rivalizar com os dois campos.

Embora evite se colocar desde já como concorrente, Lula é obviamente candidato e deixou isso bem claro com o seu discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, feito dois dias após o ministro Fachin ter liberado sua candidatura. As entrevistas se intensificaram, tanto no Brasil quanto no exterior, e Lula passou a se colocar como um dos líderes da oposição ao governo.
A antecipação do clima eleitoral tornou-se inevitável, e a campanha do PT obviamente vai se intensificar com a defesa da vacinação e o combate à fome e ao desemprego. Dê o nome que se quiser, mas as campanhas já estão nas ruas – tanto físicas quanto digitais.

Além do nome Lula, a campanha de Bolsonaro piorou por causa do desastre de sua atuação ridícula contra a pandemia e pelo agravamento da crise econômica. Em 1º de janeiro, Bolsonaro tinha 83,2%.

Lula veio ganhando impulso e atingiu o ponto alto em março, quando passou a ter condições jurídicas de se candidatar. Depois disso, caiu e voltou a subir. Seu desafio agora é ampliar sua presença digital, campo onde Bolsonaro tem atuado com muita força.

O IPD avalia o desempenho dos nomes da política nacional através do Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é medida em uma escala de 0 a 100.
São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e Wikipédia).

A única vez em que Bolsonaro tinha sido superado foi em dezembro de 2019, quando foi desbancado por Luciano Huck, cotado como presidenciável. Mas agora é outra coisa, como destaca o coordenador do IPD, o cientista político Felipe Nunes.
Os parâmetros do estudo foram atualizados desde março de 2020, quando o acompanhamento deixou de ser mensal para ser diário.

Dos 13 nomes monitorados, um que se destacou no dia do fechamento do novo relatório foi o do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD-MG). Ele disparou ao bater de frente com o ministro do STF, Kassio Nunes Marques, sobre a liberação de cultos religiosos no pior momento da pandemia – um acontecimento absolutamente surpreendente!
Kalil tinha 45,9 pontos na segunda-feira – à frente de nomes como Ciro (com 36,3), Huck (com 29,7), Moro (com 23,1) e João Dória (com 19,7).
Fernando Haddad, que era tido como o pré-candidato do PT antes da decisão que devolveu a Lula o direito de concorrer, aparecia na mesma data na 8ª posição, com 26,7 pontos.
No caso dos dois nomes do topo, a observação de detalhes levou os pesquisadores à conclusão de que Lula vem conquistando novos seguidores em um ritmo maior que o de Bolsonaro,
que se manteve estável no Twitter entre 1º de fevereiro e 12 de março. No mesmo período, Lula cresceu 8%. De 12 de março em diante, ambos tiveram alta, mas em velocidades diferentes: Lula ganhou 117 mil novos seguidores, enquanto Bolsonaro apenas 28 mil.

Segundo Nunes, que é diretor da Quaest e professor de ciência política na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), os resultados do IPD têm apontado para uma relação entre notoriedade no ambiente virtual e voto na urna. Na eleição municipal de 2020, o cenário na internet acompanhou a apuração.
"Os dados de agora mostram uma euforia em torno de Lula em um espaço no qual Bolsonaro sempre foi líder absoluto. Se esse quadro se mantiver, os dois vão polarizar a disputa. Eles alcançam patamares muito altos no nosso levantamento e devem acabar tragando o centro", disse. Na sua avaliação, o espaço para o surgimento de uma terceira via se mostra "muito pequeno".

Há uma semana, seis presidenciáveis (da direita à centro-esquerda) se uniram para lançar um manifesto pró-democracia que pode ser o embrião de uma aliança contra o que classificam como dois extremos.
Além de Ciro, Dória e Huck, o texto foi assinado por Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo) e Eduardo Leite (PSDB). Convidado a apoiar a iniciativa, Moro recusou, alegando razões contratuais com a consultoria Alvarez & Marsal, para a qual trabalha (fez muito bem, porque ficaria desempregado...).

A movimentação do sexteto foi uma reação ao provável antagonismo entre Lula e Bolsonaro.
"O grande desafio na popularidade digital não é crescer. Outros personagens, como Huck, Moro e Mandetta, já tiveram algum momento de ascensão. O difícil é manter engajamento e mobilização em alta, algo que sempre foi o traço marcante das redes de Bolsonaro", afirma Nunes.
Nunes também considera Lula competitivo eleitoralmente, por ter domínio sobre a máquina pública e base consolidada de apoiadores. Segundo pesquisa Datafolha publicada em março, 22% dos brasileiros acham a gestão da crise sanitária por Bolsonaro ótima ou boa. Em janeiro, eram 26%.
A avaliação geral do governo segue no pior nível desde o começo, em 2019. A gestão de Bolsonaro é tida como ótima ou boa por 30% dos entrevistados. Mas, para 44%, ela é ruim ou péssima.

Na opinião da cientista política Juliana Fratini, que organizou em 2020 o livro "Campanhas Políticas nas Redes Sociais – Como Fazer Comunicação Digital com Eficiência", as plataformas digitais vão manter a influência no jogo eleitoral, mas não constituem um fator isolado para a vitória.
"Bolsonaro leva a vantagem de ter uma base ideológica, que vai apoiá-lo aconteça o que acontecer. Lula é quem hoje tem a maior musculatura para enfrentá-lo, mas o campo progressista possui uma deficiência antiga na disputa de rede social", diz.
Juliana afirma que a esquerda perdeu a chance de construir uma arquitetura de disseminação de informações na internet como a utilizada por populistas como Bolsonaro e Donald Trump —mas faz a ressalva de que parte da mobilização se deu "de maneira ilícita, espalhando conteúdos falsos".
"Se quiser concorrer de igual para igual, o PT precisa de um João Santana das redes sociais", segue ela, em alusão ao marqueteiro do partido que "teve muito sucesso na propaganda tradicional, sobretudo de TV". Para ela, a missão nas redes demanda uma gestão profissional.
"O crescimento de Lula depende da contratação de um bom estrategista digital, para organizar a militância em temáticas e distribuição de conteúdos. Não adianta o PT colocar um militante para fazer isso. Precisa mesmo de um profissional, para atrair outro eleitorado além do lulista tradicional."

Leia também na Folha e no Brasil247.
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