Não é apenas nos dias de hoje, quando brasileiros e argentinos estamos solidários diante da incerteza do que possa ter acontecido aos 44 tripulantes do submarino argentino Ara San Juan, desaparecido há quase duas semanas, que a irmandade entre as duas nações se expressa.
No dia 30 de novembro de 2008 o Congresso aprovou o Projeto de Lei 55/05, de autoria do então senador e hoje prefeito do Rio Marcelo Crivella, criando o Dia da Celebração da Amizade Brasil-Argentina. O dia foi escolhido porque em 30 de novembro de 1986 foi assinada a Declaração de Iguaçu, primeiro passo para a criação do Mercosul.
Para muitos, a Celebração da Amizade Brasil-Argentina é uma contradição em termos, dada à rivalidade histórica entre os dois países. Para outros, a celebração de uma amizade que, como todo relacionamento entre irmãos, passa por crises e disputas, mas cada um respeitando o outro como igual - menos no futebol, é claro, porque Pelé é muito maior que Maradona...
- ¿Que pasa?:! ¿Está loco? Maradona es mucho mejor que Pelé!
Futebol à parte, pois isso não se discute - o Brasil tem cinco títulos mundiais e a Argentina, dois - qual a origem histórica dessa rivalidade?
Um livro escrito por dois autores, um brasileiro e um argentino, os historiadores Boris Fausto e Fernando Devoto, aponta o século 19 como o início de tudo. Em “Brasil e Argentina: Um Ensaio de História Comparada (1850-2002)”, afirmam que tudo começou no século 19, quando os dois países foram se configurando como os dois mais importantes do Cone Sul, com pretensões à hegemonia. A rivalidade acabou sendo assimilada pela sociedade e passou da política para outras áreas, especialmente o futebol.
Já para o cientista político argentino Rosendo Fraga, os dois países "herdaram a disputa entre Portugal e Espanha pelo controle do Rio da Prata" - o que, na história brasileira, culminou na Guerra da Cisplatina (1825-1828).
Seja qual for sua origem, a rivalidade existe, mas apenas entre nós. Quando da Guerra das Malvinas, embora tenha sido provocada pela ditadura sangrenta argentina, o Brasil, o brasileiro das ruas, formou sua torcida ao lado do povo argentino, contra os ingleses. Mesma solidariedade que se vê agora no caso do submarino desaparecido. As diferenças são postas de lado, porque "nosotros somos hermanos".
Também no campo educacional e científico a amizade Brasil-Argentina está consolidada. A Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro, tem convênio com 18 Universidades argentinas: Instituto Universitário del Gran Rosario, Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales, Universidad de Congreso, Universidad de Flores, Universidad Nacional de Arturo Jauretche, Universidad Nacional de Córdoba, Universidad Nacional de Luján, Universidad Nacional de Mar del Plata, Universidad Nacional de Moreno, Universidad Nacional de Río Cuarto, Universidad Nacional de Rosario, Universidad Nacional de San Juan, Universidad Nacional de San Martín, Universidad Nacional de Tres de Febrero, Universidad Nacional de Villa Maria, Universidad Nacional del Litoral, Universidad Nacional del Sur, Universidad Tecnológica Nacional
A parceria é fruto da Superintendência de Relações Internacionais da UFF, que desenvolve e estimula políticas de internacionalização da Universidade. Essas políticas vão do estabelecimento de convênios de cooperação à gestão da Mobilidade de alunos entre os dois países, fortalecendo os laços dessa amizade, sem deixar a rivalidade de lado.
- ¡Saludos, hermanos!
Para ilustrar essa amizade entre os dois países, nada como uma versão da música Amigo, de Roberto e Erasmo Carlos, por um grupo de punk rock argentino, Attaque 77.