04/01/2021 às 13h09min - Atualizada em 04/01/2021 às 13h09min

GRUPO BIDEN ATACA BOLSONARO.

ISSO É BOM OU É RUIM?

 
Vamos, em primeiro lugar, deixar claro que tudo que é ruim para Bolsonaro é bom para o Brasil. Por outro lado, já sabemos, de longas datas, que nem sempre o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.
Dito isso, como devemos reagir quando temos notícia de que um ex-embaixador americano, do mesmo partido do presidente eleito Joe Biden, ex-embaixador aqui no Brasil, Conselheiro do Departamento de Estado nomeado por Obama, baixa o big-stick em Bolsonaro? Trata-se claramente de uma advertência ao capitão-presidente brasileiro de que ele terá que arranjar outro trumpet para dançar conforme a música. Seu ídolo Trump já era. Corre até mesmo o risco de desafinar com a justiça. Isso soa bem aos nossos ouvidos, claro. Mas com certeza não pretendemos ser automaticamente afinados com um tom de novo tipo.
 
Shannon faz parte atualmente do Diálogo Interamericano, centros americanos de “pensamento estratégico”, considerados intervencionistas, dedicados a “promover a governança democrática, a prosperidade e a igualdade social na América Latina e no Caribe” e focado em áreas como energia, mudanças climáticas, remessas, indústrias extrativas e outras.
Em outras palavras, estão de olhos nas áreas vitais.
 
O artigo traz um tom duríssimo e, em determinadas passagens, de ameaça. Considerando-se a influência política de Shannon e seus laços orgânicos com o Partido Democrata e a turma de Biden, fica claro que se trata de um recado da futura administração Biden ao governo brasileiro. Ele faz questão de lembrar que a parceria entre os EUA e o Brasil “não é só entre governos, mas entre sociedades”, e que “os encontros que impulsionam o relacionamento são crescentemente entre nossos setores privados, nossas sociedades civis e nossas comunidades de fé” – seja lá o que isso significa, mas não cheira bem e faz lembrar de outras associações de tempos atrás. Ele afirma que “as visões de mundo idiossincráticas de seus líderes (Trump e Bolsonaro) limitaram a capacidade do Brasil e dos Estados Unidos de moldar uma parceria maior e mais coerente” (é de arrepiar).
O ex-embaixador diz que Biden “conhece a importância do Brasil e tem um conhecimento bem desenvolvido da trajetória histórica de nossa cooperação”, e que, por isso, “verá a relação com o Brasil não em termos pessoais, mas em termos dos interesses e valores que ligam nossas duas nações. Ele não permitirá que ressentimentos ou ofensas interfiram em sua busca por atender os interesses nacionais americanos” (deu pra entender perfeitamente...).
 
Shannon sobe o tom da crítica e diz que “o governo Bolsonaro tem feito quase todo o possível para complicar a transição na relação bilateral. Bolsonaro e membros de seu governo romperam com a longa tradição brasileira e expressaram preferência pelo presidente Trump nas eleições de novembro. Bolsonaro também criticou publicamente o então candidato Biden após comentários durante um debate, no qual o então candidato pediu uma ação mais orquestrada do Brasil sobre o desmatamento. Essa gafe, no entanto, perde relevância quando é comparada com a disposição de Bolsonaro de repetir as alegações infundadas de fraude do presidente Trump nas eleições dos Estados Unidos”.
Para Shannon, “atacar a integridade e a credibilidade do processo eleitoral americano é um ataque à legitimidade da democracia americana e à presidência de Joe Biden”. Numa ameaça mais que direta, Shannon diz que isso “É algo que não será facilmente perdoado e não será esquecido”. O que é coisa boba, que serve apenas para colocar Bolsonaro ainda mais na defensiva.
Shannon deixa bem claro que ou o Brasil se enquadra às novas orientações ou arcará com consequências desfavoráveis. E isso, diz ele, depende de Bolsonaro. Ele até cita vários pontos positivos no futuro da relação, mas aí tropeça na questão China. Reclama que “os esforços desse país asiático para se inserir mais profundamente nas economias da América do Sul e construir sua infraestrutura 5G têm causado inquietação e preocupação”.
 
Esse é o ponto traumático. O Huawei-5G é o fantasma que apavora o futuro americano. É um novo mundo que vem aí e onde os Estados Unidos estão perdendo a corrida. Acontece que o Huawei-5G já tem uma forte base no Brasil, de onde poderá partir para o mercado sul-americano e o mercado europeu – e até o asiático, quem sabe – em alta velocidade. É um ponto de altíssima importância que, mesmo compreendendo os “temores” americanos ao avanço chinês, não dá para se abandonar com um peteleco – aliás não dá para abandonar de jeito nenhum.
 
O interessante é que Shannon conclui o artigo insinuando que a relação EUA-Brasil “Pode ser uma parceria de esperança e de realizações, e de grande valor para o mundo, se assim desejarmos”. Na verdade, uma ofensa à soberania e à dignidade nacional, mas que poderá ser aceita pelo presidente que temos, que bate continência para a bandeira americana.
Como nota final, vale lembrar: Shannon sinaliza para um alinhamento do futuro governo Biden com a facção lavajatista da extrema-direita brasileira em detrimento da facção militar-bolsonarista da extrema-direita. Ou seja, se depender da nova turma no poder americano, eles podem providenciar rapidamente uma Lava Jato 2 e até convidar Moro, Dallagnol et caterva.
Isso não constitui novidade, se considerarmos que o empreendimento da conspiração no Brasil, iniciada nos anos 2012/2013 e turbinada com a Lava Jato guiada pelos Departamentos de Estado e Justiça dos EUA, ocorreu justamente durante a Administração Obama-Biden. É bom ficar de olho no desdobramento deste gesto no julgamento da suspeição de Moro pelo STF e com relação à restauração dos direitos civis e políticos de Lula.
 
Leia mais em Diário do Centro do Mundo.

 
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