15/12/2020 às 09h37min - Atualizada em 15/12/2020 às 09h37min

BRASIL CRESCE NO CORONAVÍRUS

E CAI NO IDH...


A notícia é desta terça-feira, dia 15. O Brasil caiu cinco posições no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) produzido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgado nesta terça-feira (15). O Brasil agora é o 84º dos 189 países
Os dados do relatório atual são do ano passado. No documento anterior, que analisou os dados de 2018, o IDH brasileiro era de 0,761, o 79º da lista.
 
O IDH é um índice que vai de 0 a 1 e é calculado todos os anos com base em três critérios: a expectativa de vida, os anos previstos e a média de anos de escolaridade e renda nacional per capita.
 
Apesar da classificação atual, o Brasil é considerado um país de alto desenvolvimento humano.
O país com a melhor classificação continua sendo a Noruega. O segundo é a Irlanda, empatada com a Suíça. A Alemanha, que era a terceira colocada no ano passado, agora está na sexta posição, atrás de Hong Kong e Islândia, empatadas em quarto lugar.
O Brasil é o sexto entre as nações da América do Sul, atrás do Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia - os dois últimos estavam abaixo e empatado com o Brasil no ano passado, respectivamente.
 
Apesar do crescimento de 0,004 ponto, a queda significa que outros países tiveram um desempenho melhor no último ano.
"O Brasil apresenta melhorias constantes e consecutivas. Não há nesse ano mudança em termos de ter retroagido", explicou Betina Barbosa, coordenadora do PNUD, durante apresentação do relatório. "A queda de um país no ranking final dos países se faz como consequência da melhoria de outros países no comparativo à performance brasileira."
A ONU considera mudanças na terceira casa decimal "estatisticamente insignificantes". (Que na verdade confirma que o Brasil está em queda na classificação.)
Para Barbosa, a melhoria brasileira deste ano poderia sinalizar um crescimento da taxa mais acelerado no próximo relatório - não fosse a pandemia. "É uma melhoria que, comparativamente, seria um arranco, porque sinalizava que a gente estava na trilha ascendente a taxas mais elevadas. Na minha avaliação, em 2020, se não fosse a pandemia, a gente teria um desempenho ainda melhor", afirmou. (Mas é claro que os outros países também poderiam ter um desempenho ainda melhor – portanto, não dá para adivinhar se subiria ou se cairia no ranking.)
 
O relatório alerta que o documento do ano que vem trará um "choque sem precedentes para o desenvolvimento humano" por conta da pandemia da Covid-19. A ONU projeta que será a primeira vez que o IDH global sofrerá decréscimo.
 
Pressão planetária
 
O relatório lista o índice ajustado a outros fatores - como desigualdade social e de gênero - e traz uma nova métrica: o IDH-P, que é o Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à pressão Planetária.
O documento da ONU explica: "é hora de todos os países redesenharem seus caminhos para o progresso humano, responsabilizando-se integralmente pelas pressões perigosas que colocamos sobre o planeta".
 
O índice é calculado ao tirar a média das emissões de gás carbônico (CO2) e da pegada ambiental, que mede a quantidade doméstica e exterior de extração de materiais, como biomassa, combustíveis fósseis e minérios. Esse número, então, é descontado do IDH.
Nessa lista, o Brasil sobe 10 posições (Deus te ouça!). A China, por exemplo, desce 16.
 
O país que mais cai é o grão-ducado de Luxemburgo, que despencaria 131 posições. Em segundo lugar, ficaria Cingapura, com 92 posições perdidas, e, em terceiro, o Catar, com 84.
Para Barbosa, o Brasil tem bom desempenho nesse quesito não só porque tem um conjunto ecológico preservado. "Outros países tiveram performance visivelmente pior. Não é que a gente não exerça pressão que possa ser um fator que traz um ajuste negativo. É porque os outros países exercem pressão planetária maior", explicou.
 
Para o representante-residente adjunto do PNUD, Carlos Arboleda, o índice é principalmente positivo para o Brasil.
"Acreditamos que, para um país como o Brasil, é um relatório que traz muitas coisas positivas. Provavelmente, elas podem ser obscurecidas pela mensagem de um crescimento veloz ou não veloz, por algumas diferenças", disse, durante apresentação do relatório.
"Acreditamos que, para o modelo de desenvolvimento que o Brasil está construindo nos últimos 20 anos, acrescentar o IDH-P, ajustado às pressões planetárias, faz justiça ao trabalho de um país como o Brasil, à diferença entre os países desenvolvidos e os padrões de consumo", completou.
 
Métricas melhoram
Todas as dimensões usadas para calcular o IDH - renda, expectativa de vida e escolaridade - tiveram ligeira melhora.
A expectativa de vida no país teve leve crescimento em relação ao relatório anterior. A média, ao nascer, agora é de 75,9 anos, contra os 75,7 do ano passado.
Também houve um suave aumento na média de anos de escolaridade, que foi de 7,8 para 8 exatos.
O PIB per capita também foi de 14.182 para 14.263 em paridade de poder de compra, medido em dólares de 2017. 
 
Desigualdade
Historicamente, o Brasil perde muitas posições no IDH ajustado à desigualdade.
Neste ano, a tendência permanece: quando a distribuição desigual de renda, educação e de expectativa de vida ao nascer são levadas em conta, o país perde 25,5% do índice e cai 20 posições no ranking. 20 posições!!! É a segunda maior queda do mundo, perdendo somente para a Ilha de Comores, no leste da África, que perde 21 posições.
 

Se você chegou até aqui e ainda está satisfeito com o desempenho do Brasil, leia a análise publicada hoje, dia 15 de dezembro de 2020, no Estadão, feita por Flavio Comim, ex-economista sênior do PNUD.

NÃO ESTAMOS APENAS ESTAGNADOS NO IDH, ESTAMOS ATROFIANDO
 
Primeiro, é importante entender que a cada ano o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) recalcula o IDH do ano anterior com base em informações atualizadas para medir a nova variação. Nessa revisão, o Brasil não estava na posição 79º do ranking, mas na 84º, onde continua este ano. Isso não invalida a conclusão, com base no conhecimento que temos hoje, de que estamos pior em cinco posições no nosso desenvolvimento humano do que achávamos que estávamos no ano passado.
 
Segundo: vários países ultrapassaram o Brasil no ranking do IDH, como a Colômbia, a Ucrânia, a Macedônia do Norte e o Peru, pese o contexto de que nossos vizinhos mais próximos como a Argentina e o Uruguai, ou mais distantes, como México e Cuba, estão todos nominalmente duas posições acima do que estavam no ranking do ano passado. As evidências sugerem que o desenvolvimento humano do Brasil está atrofiado em relação a alguns países de referência da região.
 
Terceiro, quando corrigimos o IDH pela desigualdade, verificamos que as perdas resultantes da desigualdade de renda aumentaram significativamente em relação ao que tínhamos nas duas últimas edições do índice, passando de -36.7% para -41%. O que quer dizer isso? Que cada vez mais a dimensão renda do IDH representa a renda dos ricos, mais que a dos pobres. Isso não deveria surpreender, pois nesse último ano a parcela de renda dos 40% mais pobres no país, mesmo sendo muito baixa, caiu 0.2% enquanto a dos 10% mais ricos aumentou em 0.6%, situando-se em 42.5% da renda nacional, uma das mais altas do planeta.
 
Essa desigualdade excessiva corrói de maneira silenciosa a vida pública e as instituições do País, naturalizando nosso atraso social e impedindo a busca de soluções efetivas para o desenvolvimento humano.
 
Vale notar que comparado com a média de um país de desenvolvimento humano muito alto, vivemos quase quatro anos a menos, estudamos quase um ano a menos, temos um nível educacional de nossa população adulta que é a metade do que têm esses países (oito anos de estudo comparado com mais de dezesseis deles) e temos uma renda média que é menos de um terço do que possuem. Falar em estagnação é pouco para descrever o que acontece com a atrofia que vivemos.
 
Veja também no Estadão e CNN Brasil.
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