30/11/2020 às 08h49min - Atualizada em 30/11/2020 às 08h49min

​BOLSONARO, O DERROTADO

PERDEU DE 12 A 4...


Bolsonaro não se candidatou diretamente. Mas o seu nome estava na roda, chegou a apoiar diretamente 16 candidatos. Desses candidatos, 12 perderam as disputas. No Rio, o seu aliado Marcelo Crivella (Republicanos), não conseguiu se reeleger, derrotado por Eduardo Paes (DEM). Em São Paulo, o deputado Celso Russomanno (Republicanos), não passou do primeiro turno.
 
Nesse segundo turno, Bolsonaro viu apenas Tião Bocalom (PP) vencer em Rio Branco (capital do Acre, onde o D&D teve editor morando uns bons tempos...), e Roberto Naves (PP), em Anápolis (Goiás), serem eleitos. Outros candidatos para quem ele pediu votos não se deram bem. Também seus apadrinhados, Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza, e Delegado Eguchi (Patriota), em Belém, foram derrotados.
 
Em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) perdeu ainda na primeira rodada, a exemplo de Russomanno. Naquela etapa da campanha, o apoio de Bolsonaro surtiu efeito apenas em Ipatinga (MG), com a eleição de Gustavo Nunes (PSL), e em Parnaíba (PI), com Mão Santa (DEM).
 
O assessores de Bolsonaro dizem que a participação dele limitou-se a indicar votos, atendendo aos pedidos dos aliados. Bolsonaro e sua turma preferem citar a derrota do PT em todas as capitais em que disputou segundo turno, tentando emplacar a fakenews de que a esquerda foi a grande perdedora destas eleições.
Para esses assessores, o resultado eleitoral também mostrou que foi acertada a decisão de Bolsonaro se aproximar do Centrão, grupo político que aumentará o número de prefeituras sob seu comando a partir de 2021. Será que ele pretende levar o Centrão para a extrema-direita?
 
Na falta de explicações, Bolsonaro resolveu imitar Trump (mais uma vez) e votar contra as urnas eletrônicas, insinuou que o atual sistema não é confiável e defendeu a apuração pública dos votos. “Eu, como presidente da República, quero voto impresso já”, afirmou ele, aparentemente sem saber que a urna eletrônica também imprime o voto. Disse ter informações de que houve fraude na eleição nos Estados Unidos, onde Joe Biden derrotou o presidente Donald Trump. Esqueceu de dizer (ou ignora) que, lá, o voto ainda é basicamente do tipo impresso.
 
Logo depois de votar, na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona Oeste do Rio, Bolsonaro disse que está conversando com líderes da Câmara e do Senado sobre a necessidade de retorno do voto impresso. Para ele, as mudanças dependem somente de um acordo entre o Executivo e o Legislativo. Que acordo será esse?
 
“Eu ganhei em 2018 só porque tinha muito, mas muito mais votos. Tinha reclamações de que o cara queria votar no 17 (número do PSL, que à época era seu partido) e não conseguia. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteração”, afirmou o presidente, que sempre disse ter vencido aquela disputa contra Fernando Haddad no primeiro turno. “E digo mais: a apuração tem de ser pública, e não feita por meia dúzia de pessoas. O TSE tem a obrigação de entregar os boletos de urna.”
 
Pobre Bolsonaro... Ele chegou a ironizar a ideia do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de liberar o voto por smartphones no futuro. “Alguns falam em voto por telefone. Tem gente que nunca entrou na casa dos mais humildes”, disse Bolsonaro. Quem nunca entrou, aparentemente, foi ele. É humilde, mas não é burro. É pobre, mas a família tem celular.
 
Barroso afirmou ontem que a Organização dos Estados Americanos (OEA) considera o Brasil como dono do “mais ágil e seguro sistema de apuração das Américas”. “Só posso explicar (o funcionamento de urnas eletrônicas) para quem quer entender. Para quem não quer entender, não há fármaco jurídico possível”, disse o ministro ao comemorar a apuração sem grandes incidentes no segundo turno. “O presidente da República tem liberdade para exprimir sua opinião. Sou juiz, não posso me impressionar com retórica política. Respeitando a opinião do presidente, penso que o voto impresso traria grande tumulto ao processo eleitoral.”
Segundo Barroso, se fosse assim, todo candidato derrotado pediria recontagem, nulidade e haveria judicialização. “Agora, se o presidente tiver qualquer evidência, vamos investigar”, disse ele. “Não tenho controle sobre o imaginário nas eleições. Tem gente que acha que a terra é plana, tem gente que acha que Trump venceu nos Estados Unidos”, utilizando um senso de humor muito preciso.
 
Bolsonaro certamente é um dos que acreditam que seu mentor, Donald Trump, venceu. Ignora o fato de a eleição nos Estados Unidos ser por voto impresso e disse que vai aguardar para reconhecer a vitória de Biden. “Tenho minhas fontes (que dizem) que realmente teve muita fraude lá. Isso ninguém discute. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei”, declarou. Santa ignorância!
 
Bolsonaro votou cercado por seguranças,  ao lado do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) e tirou selfies com apoiadores. Ao sair da seção, tirou a máscara de proteção contra o coronavírus. Ao demonstrar preocupação com novas medidas para fechamento do comércio, ele negou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha perdido sua confiança. “Paulo Guedes é 98% da economia”, disse Bolsonaro. “Eu era 1% e passei para 2%. É igual saltar de paraquedas: o cara fica te orientando atrás e você tem que ter confiança nele.”
 
Pobre Bolsonaro. O país definitivamente não confia nele...
 
 
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