14/11/2020 às 13h29min - Atualizada em 14/11/2020 às 13h29min

O CAVALÃO NO PODER

QUEM VOTOU NELE?

 
Mario Sergio Conti escreve na sua coluna da Folha deste sábado, 14, um texto muito forte retratando a realidade cavalar que o país vive. Cavalgando por suas palavras, a gente não sabe se fica feliz por ver alguém retratando perfeitamente a nossa realidade ou se fica infeliz de uma vez por todas. Tem coisa que se pode discordar, claro. O Daqui&Dali, por exemplo, não concorda com a agressão gratuita a Lula. Mas, com certeza, vai concordar com tudo mais. Veja você mesmo se encontra uma saída – para o cavalão sair e nunca mais voltar...
 
O AMAPÁ DE HOJE SERÁ O BRASIL DE AMANHÃ SE O CAVALÃO NÃO FOR DETIDO
 
O presidente é aquilo que a sua camarilha da caserna dizia: um Cavalão com maiúscula. Cavaleiros da elite quiseram botar-lhe cabresto e tomaram coices. Arisco, ele relincha e baba fel nos que tentam ajudá-lo. É uma besta.
 
Besta fera política, um quadrúpede da extrema direita. Não adianta tomá-lo por interlocutor. Mesmo xingá-lo é inócuo. O bate-boca é o pasto no qual empapa a pança.
Não admitiu a derrota de Trump? Danem-se os dois. Disse que os brasileiros são maricas? Afe, está inseguro da sua macheza. Vai bombardear os Estados Unidos? Que se exploda.
 
É de caso pensado que ele bate os cascos no asfalto e provoca faíscas. Acha que as centelhas da idiotice disfarçam o tropel trôpego do seu desgoverno.
 
Veja-se o Amapá, onde há 11 dias uma estação elétrica explodiu. Acabou a luz e, a 35 graus, a comida apodreceu nas geladeiras. Não deu para tomar banho, carregar o celular, encher o tanque, sacar nos caixas eletrônicos. O apagão levou 780 mil pessoas a andarem às tontas na rua.
O ministro das Minas e Energia é milico, é claro. Uma semana depois do naufrágio, o almirante Bento Albuquerque disse que "o sistema está muito mais sólido". Também, pudera: comandou a perigosa frota nacional de cinco submarinos, dois dos quais bichados e recolhidos ao estaleiro.
O Cavalão prometeu que a luz logo voltaria — era mais uma mentira. Não se sabe nem porque a transmissora estourou. Mas se sabe é que ela é uma joia da dobradinha privatização-agência regulatória, urdida no covil Planalto-Faria Lima.
Podre, a infraestrutura está entregue ao deus-dará, também conhecido por Paulo Guedes. De nona economia do mundo, a brasileira caiu para a 12ª posição. Há 13,5 milhões de sem-emprego e 5 milhões desistiram de procurá-lo. Um por cento de ricaços abocanha 48% da renda nacional. Eis a obra do Equinão no equinócio.

O Amapá de hoje é o Brasil de amanhã. Até porque o apagão apagou a democracia e a eleição foi adiada sine die. Um beneficiário do adiamento é candidato a prefeito de Macapá e, não por acaso, irmão de Alcolumbre, o bolsonarista enrustido que preside o Senado.
O que não falta são Alcolumbres. O Brasil se degrada, 162 mil morreram devido à peste, a Amazônia e o Pantanal pegaram fogo, a inflação bate à porta, o orçamento do próximo ano será diminuído ainda mais – e o que fazem eles?
Eles batem papo sobre 2022. Até lá, os brasileiros que se virem e aturem o Corcel do Apocalipse. Ciro e Lula se acochambraram depois de meses de insultos. Moro e Huck trocaram uma ideia. Como Maia ficou enciumado, o apresentador disse que também ele é bacaninha. É uma farsa.
 
O farsante-mor é Moro. Numa entrevista a Bela Megale, disse que Hamilton Mourão - o vice que enaltece o assassino e torturador Ustra, o responsável direto pelas queimadas na Amazônia tem "perfil de centro" e seria um "bom candidato" ao Planalto.
A casta política não mexe o mindinho para frear a Grande Cavalgadura. Enquanto isso, ele passa a boiada. Aparelhou a Anvisa, a Receita, a PF, a Procuradoria-Geral e a Abin. Indicou um plagiador para o Supremo, que foi referendado por 57 senadores — e petistas lhe teceram loas comoventes.
Seu objetivo é proteger as crias, atoladas até o talo em milícias, roubo e rachadinhas. Isso implica manipular o Estado, desmanchar a democracia e continuar sua sina destruidora, cujo ápice é a sabotagem da vacina contra o corona.
 
O Cavalão precisa ser detido. Mas os politiqueiros dizem que sua destituição seria barrada pelo Congresso. Por isso Maia está sentadão numa poltrona de pedidos de impeachment. Seu argumento se assenta em dois fatos: Bolsonaro foi eleito; a maioria do povo não está nem aí.
Foi eleito, sim, mas cometeu dúzias de crimes e o impeachment é o mecanismo para destituí-lo. E, guiado pelas suas necessidades prementes, o povão o tolera devido ao auxílio de R$ 600 -  sendo que Bolsonaro era contra, queria R$ 300.
 
Nada disso isenta os políticos. O impeachment pode até vir a ser derrotado no Congresso. Trump, por exemplo, o venceu, mas seu governo foi virado do avesso durante meses e se enfraqueceu, abrindo caminho para o grande movimento contra o racismo e a violência policial.
O povo não é uma categoria fixa. Convencido, mudará o modo de pensar e agir. O processo de impeachment é uma prática social. Pode propiciar debates, atos, passeatas, uma campanha popular. Pode ser uma faísca diversa das do Cavalão —e tocar fogo no brio dos brasileiros.

Mario Sergio Conti
Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".
 
Leia também na Folha.

 
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