07/10/2020 às 08h40min - Atualizada em 07/10/2020 às 08h40min

BYE-BYE, BRAZIL

US$ 48 BILHÕES VÃO POUSAR EM OUTROS PAÍSES


Os investidores querem ver o demônio, mas não querem o Brasil de Bolsonaro. Neste ano de 2020 a fuga dos investimentos mais que dobrou. O fluxo total estrangeiro deve despencar de US$ 59 bi em 2019 para US$ 11 bi.
Os investimentos no setor produtivo, geralmente de longo prazo e voltados à ampliação de empresas comerciais e industriais, também não se entusiasmarão por essa maravilha bolsonárica: serão de cerca de US$ 49 bilhões, contra os US$ 73 bilhões em 2019.
 
Somando diferentes tipos de entradas e saídas, o Brasil terá um fluxo positivo de dinheiro estrangeiro em 2020 de apenas US$ 11 bilhões. Pelas previsões do IIF (Instituto Internacional de Finanças), que reúne 450 bancos e fundos de investimento em 70 países, as maiores saídas de capital do Brasil estão concentradas em ações e outros títulos de empresas, cujo saldo entre entradas e saques somará cerca de US$ 18 bilhões em 2020. No ano passado, as retiradas nesses itens foram de apenas US$ 2,7 bilhões.
O restante das saídas, aproximadamente US$ 6 bilhões, são de investidores que deixaram de aplicar, principalmente, em títulos relacionados ao endividamento do país, como papéis da dívida pública. No ano passado, esses saques já haviam atingido US$ 8,4 bilhões.
 
Essa redução ocorre em um ano em que os países ricos lançaram pacotes trilionários para injetar liquidez em suas economias - dinheiro que, em muitos casos, acaba “vazando” para economias que oferecem boas chances de retorno. Ou seja, bye-bye, Brasil.
Martín Castellano, chefe do departamento de pesquisas do IIF para a América Latina, considera que a desvalorização do real em relação ao dólar até tem tornado os ativos brasileiros baratos para os investidores. No acumulado deste ano, o dólar se valorizou quase 40% frente ao real. Se a situação estivesse normal, essa seria a hora de os estrangeiros comprarem ações e títulos brasileiros, desembolsando menos dólares para adquirir ativos em reais.
Mas a  situação das contas públicas do Brasil tem desencorajado as compras e estimulado os saques.Os investidores avaliam que seria o risco comprar o ativo hoje e o real se desvalorizar ainda mais. Ou que a Bolsa desabe em um eventual quadro de desarranjo macroeconômico provocado pelo alto endividamento do setor público.
“A fragilidade fiscal continua sendo o calcanhar de Aquiles do Brasil. Ao contrário de outros países na região, o mecanismo de controle do gasto público brasileiro ainda é muito novo e está para ser testado”, diz Castellano, referindo-se ao teto de gastos, que limita a correção das despesas públicas à inflação de 12 meses anteriores.
“A percepção dos investidores sobre a habilidade do governo Bolsonaro em manejar a situação fiscal no resto deste ano e em 2021 será fundamental para determinar o comportamento dos investidores mais à frente”, diz.
O pior é que os desentendimentos nas últimas semanas, dentro do desgoverno Bolsonaro, sobre manter ou não manter o teto de gastos para criar programas sociais, não ajudaram.
Castellano considera que o Brasil entrou na pandemia do coronavírus (Covid-19) bem mais fragilizado do que outros países emergentes, por causa do seu alto endividamento público como proporção do PIB (Produto Interno Bruto).
É verdade que governo e Congresso conseguiram conter uma queda acentuada da atividade, com o auxílio emergencial pago a mais de 60 milhões de brasileiros – o que levou a uma explosão do déficit estatal e ao rápido aumento da dívida pública.
 
Entre janeiro e agosto, o déficit primário (sem contar juros) do setor público consolidado foi de 12,1% do PIB, enquanto no mesmo período em 2019 foi de apenas 0,46%, com um pulo de R$ 549 bilhões. O auxílio emergencial pago entre abril e agosto, por exemplo, somou R$ 213 bilhões. Isso fez com que a dívida pública bruta saltasse de 75,8% do PIB no final de 2019 para 88,8% em agosto - com previsão de chegar a 95% do PIB no final do ano!!!
 
“Embora haja alguns sinais de que as despesas maiores foram transitórias, há dúvidas sobre se o Brasil manterá os gastos elevados de forma mais permanente ou não. Se haverá ou não uma deterioração maior das contas públicas”, diz Castellano.
Nos últimos meses, investidores domésticos também passaram a desconfiar cada vez mais das intenções do governo Bolsonaro no manejo das contas públicas e quanto à manutenção do teto – por isso, passaram a exigir juros maiores para refinanciar a dívida pública em prazos cada vez mais curtos.
Em apenas um ano, os vencimentos em doze meses de papéis da dívida pública praticamente dobraram, de R$ 553 bilhões para R$ 1,02 trilhão, atingindo quase 25% da dívida total.
Mesmo considerando que a taxa básica do Banco Central (a Selic) está fixada em 2% ao ano, o mercado já exige mais que o dobro disso para comprar papéis do Tesouro Nacional com prazos de dois anos.
Em pouquíssimas palavras: o Brasil de Bolsonaro e Guedes, a nossa dupla caipira de plantão, está indo para o fundo do poço, onde não se pode enxergar um futuro melhor.
 
Leia também no Brasil247 e na Folha.
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