Maria Teresa Kumar é a presidente fundadora e executiva da “Voto Latino”, uma organização política com foco na educação e na capacitação dos eleitores americanos de origem latina. Escreveu recentemente esse artigo bem interessante (sobre uma dificuldade do candidato Democrata, Joe Biden, na próxima eleição americana contra a reeleição de Trump), com o título de “Joe Biden tem um problema de eleitor latino. Veja como ele pode consertar”.
Os latinos são um dos grupos demográficos de maior crescimento no país, e seu apoio é essencial para garantir uma vitória que não pode ser contestada - especialmente em estados-chave como Arizona, Flórida, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Texas. No entanto, de acordo com uma nova pesquisa realizada pelo Centro de Participação do Eleitor em parceria com a Voto Latino e a Latino Decisions, menos de 60 por cento dos eleitores latinos dizem que planejam votar em 2020 e demonstram pouco entusiasmo com a candidatura Democrata do Vice Presidente Joe Biden. Embora Donald Trump não tenha caminho fácil para alcançar o apoio da maioria latina, já que faz da anti-imigração a base de sua reeleição, a aprovação de Biden entre os jovens latinos está diminuindo. Agora em agosto, o apoio a Biden caiu sete pontos (estava em 67% em fevereiro). Nesse período, em 2016, Hillary Clinton tinha 73% de apoio entre os latinos.
Um grande problema é o alcance da comunicação. A maioria dos latinos afirma não ter ouvido falar da campanha de Joe Biden nem do Partido Democrata. Apenas 32% dos eleitores latinos de baixa propensão dizem que os Democratas estão fazendo um bom trabalho de divulgação, enquanto apenas 27% dos latinos entre 18 e 29 anos concordam.
Ao contrário, os Republicanos latinos relatam níveis mais altos de conectividade com seu partido do que os Democratas: 53% dos Republicanos se identificam, e os Democratas são apenas 43%. A divisão aumenta entre aqueles que expressam uma preferência específica de candidato, com 59% dos apoiadores de Trump e apenas 41% dos apoiadores de Biden relatando terem sido contatados por um partido político, campanha ou organização até agora.
No contexto de um presidente que visa latinos e outras comunidades de cor, esses números são alarmantes. Os latinos exigem um alcance sustentado de campanhas e organizações para falar com eles, compreender suas vidas, seus medos e aspirações, a fim de motivá-los a votar em seu candidato. A pesquisa descobriu que essa lacuna de entusiasmo é mais pronunciada entre latinos com menos de 30 anos, com apenas 46% expressando a intenção de votar em novembro, e com eleitores latinos indecisos, com apenas 37% dizendo que definitivamente votarão. Esses números determinam as eleições, não apenas para presidente, mas para todos os candidatos nas cédulas eleitorais.
Então, o que Biden precisa fazer para transformar essa apatia em empolgação e depois em votos? Para realizar plenamente o potencial de apoio entre os latinos, a campanha Biden deve ter uma comunicação ativa e regular com os latinos, especialmente os mais jovens. O raciocínio é que os latinos mais jovens desempenham um papel desproporcional em suas famílias, de certa forma “navegando” na América para suas famílias e mobilizando suas tias, tios e avós para as urnas. Uma força poderosa, com certeza, mas apenas 43% dos jovens latinos estão entusiasmados com Biden no momento.
Em 4 de agosto, a campanha Biden anunciou “Todos con Biden”, sua agenda com a comunidade latina, focada em saúde acessível, acesso à educação de qualidade, reforma da imigração e o que eles estão chamando de Iniciativa de Oportunidade de Pequenos Negócios. Embora essa especificidade seja bem-vinda, o vice-presidente e sua equipe podem fazer muito mais. Existem outras áreas em que o vice-presidente pode encontrar uma oportunidade de obter apoio entre os latinos. Nossa pesquisa descobriu que os latinos exibem forte apoio ao Black Lives Matter, com 76% dizendo que apoiam ou apoiam fortemente o movimento. E a reforma da polícia chamou a atenção dos latinos, tanto que, embora 3% dos entrevistados em uma pesquisa nacional de abril de 2020 tenham dito que a reforma da polícia era uma questão importante, agora são 19% os que pensam assim.
Em meio à pandemia, em que empregos e saúde são incertos e inseguros para a maioria da comunidade latina, desvincular os serviços de saúde dos empregadores seria uma grande ajuda. O mercado futuro aponta para gigantescas economias – e como os trabalhadores navegarão nesse novo e admirável mundo dependerá do governo criar as regras para os negócios avançarem. De forma mais prática, a experiência e a familiaridade dos latinos com o voto por correspondência são limitadas, com dois terços admitindo que não estão familiarizados com a forma de votar pelo correio em seu estado. O investimento imediato em divulgação online em plataformas digitais, rádio latino e educação do eleitor por mala direta será básico, assim como divulgação e treinamento para líderes comunitários locais confiáveis entre as comunidades latinas e para idosos que podem não dominem bem o meio digital. Essas descobertas devem ser preocupantes. Porque, embora Trump não presuma que seu caminho para a vitória será com o apoio da maioria dos latinos, ele certamente explorará qualquer fraqueza para minar o vice-presidente e outros candidatos.
Para despertar o entusiasmo morno dos latinos, Biden e seu grupo precisam continuar se envolvendo e conhecendo a comunidade onde estão. A Agenda Latino do vice-presidente é uma oportunidade para turbinar essa conversa necessária a fim de dominar as eleições de novembro.