06/08/2020 às 18h03min - Atualizada em 06/08/2020 às 18h03min

BRASIL, UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA E NEGADA

MORTES PELA COVID-19 DEVEM CHEGAR A 200 MIL EM OUTUBRO.


“Existem países que estão sofrendo proporcionalmente muito mais do que nós. Olhe para o Brasil”. Sabe quem usou o país governado por Jair Bolsonaro como exemplo negativo no combate à pandemia do coronavírus? O ídolo, o “manager” dele, Donald Trump.

Na tentativa de recuperar os índices perdidos com a péssima gestão na crise do coronavírus (Covid-19), o presidente dos Estados Unidos não se cansa de criticar Bolsonaro. E Bolsonaro nem se abala. A poucos meses das eleições presidenciais, Trump quer mais é ficar longe de Bolsonaro e sua turma. Na verdade são todos iguais. Negacionistas que levaram os Estados Unidos e o Brasil ao topo da catástrofe sanitária com essa pandemia. 
Por falta de aviso não foi. Não ouviram a Organização Mundial da Saúde e os cientistas. O negócio deles foi  empurrar a cloroquina, vermicidas e agora até aplicações de ozônio (em lugares não muito “aceitados”).

Jair Bolsonaro e o militares que se instalaram no ministério da Saúde, sem nenhum médico no centro de decisões, não quiseram saber do alerta que o pesquisador Domingos Alves fez sobre a dramática situação do país. Especialista em estatísticas relacionadas à pandemia, o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP projetou que o Brasil chegaria a 100 mil pela Covid-19 agora no início de agosto. Infelizmente estamos a caminho. Segundo o relatório do consórcio de veículos de imprensa divulgado, nesta quinta-feira, 6 de agosto, o Brasil registra 97.692 mortes causadas pelo coronavírus e 2.873.304 casos de contaminação confirmados.
E as projeções de Domingos Alves são  alarmantes. Em entrevista à AFP, uma das maiores agências de notícias do mundo, o pesquisador atribuiu a catástrofe ao negacionismo de Jair Bolsonaro, à falta de medidas sérias para reduzir a contaminação e à suspensão do confinamento, que sabemos que foi muito boicotado pelo governo federal. Para Domingos Alves, se o país seguir nesse ritmo, os números da Covid-19 serão duplicados em outubro. “Devemos chegar a esse número entre os dias 15 e 16 de outubro, se as tendências não mudarem. Eu tinha previsto originalmente que a gente iria chegar entre 9 e 10 de agosto aos 100.000, mas deve acontecer entre (os dias) 7 ou 8. Ou seja, já pode adiantar a predição dos 200.000 óbitos para a primeira quinzena de outubro. Na minha opinião, as curvas (de casos e mortes) vão acelerar nas próximas semanas”.

É só sair às ruas do Brasil para comprovar que pesquisador  Domingos Alves tem razão. Não existe uma coordenação nacional do combate à pandemia, porque Bolsonaro e sua turma insistem na tese que “morr e gente todo dia” e “todo mundo vai ser contaminado pelo coronavírus” e agora, em boa parte dos estados, governadores e prefeitos editam medidas totalmente desconectadas, confundem ainda mais a população e só têm dois pensamentos: agradar os empresários e as eleições municipais do dia 15 de novembro. Enquanto isso, a dor, o sofrimento e os números da Covid-19 aumentam no Sul, Centro-Oeste e em Minas Gerais, áreas  onde o “negacionismo” impera. No Nordeste, mesmo os governadores sendo alvos preferidos de Bolsonaro, o Consórcio formado pelos estados da região está conseguindo controlar a contaminação porque segue as orientações da Comissão Científica para o combate ao coronavírus, coordenada pelo cientista Miguel Nicolelis. 

Enquanto a vacina não chega, como fica a situação do Brasil? “Vejo que essa epidemia vai ficar desse jeito até dezembro, até que tenhamos uma vacina. Com o passar do tempo, a contaminação aumenta no interior dos estados que começaram a reduzir o número de casos nas capitais e regiões que antes não estavam na pandemia”, analisa Domingos Alves.

A situação se agrava, porque o Brasil é um dos países que menos testa a população. “Quanto ao número subestimado de casos, quando começamos a modelar, tínhamos uma subnotificação de 16 vezes. Hoje, está em torno de 6 a 7 vezes. O motivo disso não é porque conseguimos controlar qualquer coisa, na verdade porque aumentou o número de testes. Ainda somos um dos países que menos testa no mundo”, afirma o pesquisador.  E segue criticando a “gripezinha” de Bolsonaro, “O Brasil nunca poderia ter adotado medidas de relaxamento com esse crescente número de casos. Isso é consequência desse negacionismo, agora com o apoio dos governadores. A partir de 1º de junho, temos 26 governadores e mais de 5.000 prefeitos preocupados com as eleições municipais (previstas para novembro). Continuamos tendo recordes diários de casos e óbitos, ao mesmo tempo em que (as autoridades) tentam mostrar para a população de maneira sistemática que a ideia é aumentar o número de leitos. Estão tomando todas as medidas possíveis para promover a reabertura de certos setores da economia. Todo esse plano é um plano de sacrifício da população em torno de uma pseudo recuperação da economia, para satisfazer quem deve financiar as campanhas dos prefeitos do país...

O Brasil rejeitou sistematicamente, tanto por parte do governo federal e agora mais recentemente por parte dos governos estaduais, a adoção das medidas que foram sugeridas pela OMS e que funcionaram em vários países europeus. A ciência foi para o espaço há muito tempo neste país", lamenta Domingos Alves.

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