Queiroz talvez tenha feito o seu depoimento à Polícia Federal inspirado em Giovanni Boccaccio, aquele que ao ler "A Comédia", de Dante Alighieri, ficou tão fascinado que resolveu mudar o nome para "A Divina Comédia". Pode isso? Queiroz diz em depoimento que deu 'satisfação' a Flávio Bolsonaro sobre a 'rachadinha'. Até aí, tudo bem, era o que se imaginava, já que ele era assessor do então deputado estadual. O difícil é acreditar que Flávio Bolsonaro não fosse o verdadeiro autor dessa tragédia política brasileira – que insistem em transformar em comédia.
Vamos seguir o roteiro do dia a dia parlamentar desses dois. Flávio é um pobre deputado estadual muito idealista que sonha com um futuro melhor para o seu país. Filho do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem como assessor parlamentar o policial militar Fabrício Queiroz, que, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, movimentou em uma conta bancária R$1.236.838,00. Se isso fosse resultado de um ganho mensal, significaria R$103.069,83 por mês – extremamente alto para um assessor parlamentar. Essa é mais ou menos a verba mensal total que cada deputado tem para pagar todos os seus assessores (que têm salários entre mais ou menos R$ 900,00 e R$ 15.000,00). Se você for ver na prestação de contas da Alerj, pouquíssimos ganham acima de 8.000,00, mesmo considerando os “aditivos”. Portanto, Queiroz teria que ser o único assessor de Flávio Bolsonaro.
O Jornal Nacional teve acesso à gravação do depoimento de Fabrício Queiroz na investigação sobre o suposto vazamento de informações sobre a realização da Operação Furna da Onça (iniciada em 8 de novembro de 2018), que investiga corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No vídeo, ele falou sobre a investigação do suposto vazamento da Operação Furna da Onça — o empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro, afirmou a investigadores que o senador ficou sabendo da operação porque as informações foram vazadas por um delegado da Polícia Federal a três assessores e amigos dele. Queiroz disse que deu "satisfação" a Flávio Bolsonaro sobre o caso da rachadinha. Segundo o ex-assessor, o parlamentar demonstrou surpresa ao ser informado a respeito: "Eu tive um contato com o senador — ele não era senador, era deputado, mas já estava eleito. Eu dei satisfação a ele do que aconteceu. Ele estava muito chateado, revoltado. Ele falou: 'Não acredito que tu tenha feito isso, não acredito'."
Está certo o deputado – ninguém acredita... O Ministério Público Estadual do Rio, por exemplo, também não acredita muito nessa versão de Queiroz e Flávio Bolsonaro (que está sendo considerado como chefe de uma organização criminosa). Em documento do ano passado, os promotores apontaram pelo menos 13 assessores que repassaram parte de seus salários a Fabrício Queiroz. Flávio Bolsonaro sempre negou ter cometido ilegalidades. Agora a investigação está passando para a fase de colheita de novos indícios porque as principais testemunhas já foram ouvidas. O objetivo é apurar se policiais federais participaram do suposto vazamento de informações da operação. Tomara que apurem tudo rapidamente. Está na hora de acabar com a comédia em torno desse drama. Leia mais no Brasil247 e G1/Globo.
