22/07/2020 às 10h02min - Atualizada em 22/07/2020 às 10h02min

CORONAVÍRUS AGITA O MUNDO DA ESPIONAGEM:

TRUMP X CHINA, EUROPA X RÚSSIA


Estudo mostra que as primeiras levas de coronavírus na Itália não vieram da China. É o que diz a versão pré-impressa da pesquisa publicada segunda-feira, dia 20, no MedRxiv (site que distribui impressões não publicadas sobre ciências da saúde; são manuscritos completos, nas áreas de medicina, pesquisa clínica e ciências da saúde relacionadas). 

Segundo avaliação do estudo, os pesquisadores concluíram que poderia ter havido "múltiplas introduções" do vírus e que poderia ter chegado ao território italiano vindo da Europa Central.
Numa análise aprofundada, faz sentido sugerir que os primeiros coronavírus na Itália não vieram da China, como sugerido anteriormente. A versão pré-impressa da pesquisa foi publicada segunda-feira no MedRxiv, mas não publicados, nas áreas de medicina, pesquisa clínica e ciências da saúde relacionadas) .
Os cientistas analisaram "exaustivamente" 346 genomas completos do novo coronavírus e descobriram a circulação simultânea de duas principais linhagens virais na Lombardia, a região mais populosa da Itália e onde o maior número de infecções foi registrado entre fevereiro e abril de 2020. Mas vale destacar que os investigadores determinaram que "uma transmissão comunitária sustentada estava em andamento muito antes do primeiro caso de coronavírus (Covid-19) encontrado na Lombardia", aparentemente desde a segunda quinzena de janeiro, embora o primeiro caso oficial tenha sido confirmado pelas autoridades de saúde em 20 de fevereiro.
 
Está claro para todo mundo? Se não está, é porque Trump insiste em colocar a China como a grande culpada por tudo. Por trás disso, existem pelo menos duas motivações.

A primeira é econômica. O próprio Jerome Powell, presidente do Banco Central americano, foi categórico ao afirmar que a economia só se recuperará quando a pandemia for controlada. Portanto, a maior economia do mundo quer porque quer barrar o avanço da segunda economia do mundo rumo ao título de campeã. É natural agir assim. A história da humanidade está repleta de exemplos semelhantes.

A outra motivação é político-eleitoral. Trump está em queda no apoio popular e isso pode acabar influenciando os votos do colégio eleitoral na próxima eleição presidencial, em 3 de novembro (daqui a cerca de 100 dias).
Obviamente, é a economia, estúpido. Mas é natural também que ele procure se defender eleitoralmente da culpa pela tragédia humana que avassalou os Estados Unidos. Acontece que Trump tem, sim, culpa no cartório. Tratou com descaso a pandemia e ficou mais interessado em manter a economia em alta do que defender as vidas de seu prováveis eleitores. Perdeu, brou. E os chineses não são culpados disso.
 
O conflito também é forte entre as outras duas grandes economias mundiais, a europeia e a russa.
O relatório de uma comissão parlamentar do Reino Unido acusou o governo britânico de ter subestimado um possível envolvimento da Rússia no referendo sobre o Brexit, em 2016 (quando os britânicos decidiram sair da União Europeia). O grupo ainda solicitou investigação sobre essa possibilidade de os agentes russos terem interferido na votação.
O documento foi produzido pela Comissão Parlamentar de Inteligência e Segurança (ISC, na sigla em inglês). Com 55 páginas, o relatório concluiu que a interferência da Rússia no Reino Unido é o "novo normal" e que essa situação foi "seriamente subestimada".

Apesar das denúncias de uma suposta negligência do governo no referendo, a comissão não mostrou evidências de interferência russa na votação do Brexit. O relatório afirma que Moscou teve influência no referendo sobre a independência da Escócia, em 2014, quando 55% dos eleitores votaram para permanecer no Reino Unido - mas não traz detalhes do caso. "Houve comentários críveis sugerindo que a Rússia realizou campanhas de influência em relação ao referendo da independência escocesa em 2014", diz apenas.
 
- Deveria ter sido feita uma avaliação sobre se houve interferência russa no referendo do Brexit. Tem que haver uma, e os resultados dessa avaliação devem ser divulgados ao público - disse o deputado trabalhista Kevan Jones, membro da comissão.
 
Jones acredita que o Reino Unido não avaliou a interferência russa no referendo sobre a saída do país da União Europeia e ressaltou o "contraste esmagador" com o comportamento dos Estados Unidos em relação ao envolvimento russo nas eleições americanas de 2016.
 
Pouco antes de o relatório ser apresentado, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, afirmou que "a Rússia nunca interveio no processo eleitoral de nenhum país do mundo, nem nos Estados Unidos, nem na Grã-Bretanha, nem em nenhum outro lugar". Se é verdade ou se não é verdade, isso não tem a menor importância. Devem ter interferido, realmente. E teriam feito o óbvio, são essas as regras do jogo internacional. Cada um por si e os deuses contra todos.
Segundo a comissão, sucessivos governos no país receberam "de braços abertos" magnatas russos e o dinheiro deles.
 
A Comissão Parlamentar de Inteligência e Segurança iniciou a investigação em novembro de 2017 e entregou o relatório ao primeiro-ministro Boris Johnson em outubro de 2019, mas ele foi mantido em sigilo até essa terça-feira, 21. E, apesar de serem alegadas questões de segurança, o motivo evidente foi eleitoral. Até James Bond saberia disso. Se o relatório fosse tornado público, Boris Johnson certamente teria sido derrotado.
 
O Reino Unido também acusou os serviços de inteligência russos de estarem por trás de uma série de ataques cibernéticos com o objetivo de roubar dados sobre uma vacina contra o novo coronavírus. Que loucura! Nesse domingo, 19, o chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, declarou que está "absolutamente seguro" do envolvimento da Rússia.
 
A acusação havia sido feita também pelos Estados Unidos e pelo Canadá na última quinta-feira. Segundo os países, um grupo de hackers russos, operando "quase certamente no âmbito dos serviços de inteligência" do país, atacou organizações britânicas, canadenses e americanas para roubar os resultados de sua pesquisa sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o SARS-CoV-2.
 
O governo da Rússia negou a acusação, afirmando que são "alegações sem fundamento". Mas é claro que tudo é possível. Talvez Trump, Putin e Bolsonaro sejam sócios na produção da vacina...
 
Leia também na Veja e no Globo.
 

 
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