15/07/2020 às 10h09min - Atualizada em 15/07/2020 às 10h09min

MACRON SE OPÕE A BOLSONARO

DIZ QUE NÃO TOMARIA CLOROQUINA


Logo após a cerimônia de 14 de Julho (data do início da Revolução Francesa), o presidente francês, Emmanuel Macron, deu entrevista sobre a crise sanitária do coronavírus (Covid-19), sobre questões econômicas, ecológicas e outros assuntos.
Macron disse que é favorável à obrigatoriedade do uso da máscara em locais públicos, criticando o relaxamento dos franceses em relação a esse gesto de proteção. Ele lembrou que há uma aceleração do número de casos, embora ainda seja discreta. A obrigatoriedade pode ser decretada a partir de 1° de agosto. Ele prometeu também a garantia de testes contra o coronavírus para todos.
No caso de uma segunda onda, Macron garantiu que o país está preparado, após a longa quarentena. “Muitas pessoas morreram, conseguimos controlar o vírus e a vida está quase normal. Isso não era claro no começo, os franceses podem estar orgulhosos”, declarou. “Mas há sinais de uma possível volta, precisamos nos preparar e prevenir”, acrescentou. Ele fez um apelo para que os franceses usem máscaras em público também, o máximo possível, sem negligenciar o álcool gel e o distanciamento.
 
Macron enfatizou a mensagem para os jovens, que visivelmente descumprem as orientações e vêm participando de grandes aglomerações e festas. “Eles precisam se conscientizar que podem transmitir também”.
 
Testes para todos
O presidente garantiu que os testes poderão ser feitos com mais facilidade e sem necessidade de receita médica. “Todos que tiverem qualquer dúvida, vão poder se testar”, disse. Um dos jornalistas lembrou os erros de comunicação e os estoques insuficientes em abril, mas Macron garantiu que a França está pronta no caso de um segundo pico: “Temos estoques, boas quantidades que superam as projeções, com máscaras, medicamentos, respiradores e organização local”.
 
Quarentena e desigualdade
“A quarentena na França foi geral, rígida e com muitas consequências. Pessoas com outras doenças não foram se cuidar, outras tiveram problemas psíquicos, não se levou em conta o tipo de moradia. A quarentena é um sinal de desigualdade. Se for aplicada de novo, será localmente”.
Questionado se tomaria a cloroquina caso fosse contaminado, Macron descartou a opção: “Não está provado que é o melhor tratamento”. No caso de uma vacina para o coronavírus ser descoberta, ele afirmou que a França estaria entre os primeiros países a receber a fórmula.
 
Contra o nacionalismo sanitário
A pergunta sobre nacionalismo surgiu por conta da polêmica gerada após o laboratório francês Sanofi declarar que, caso a vacina seja descoberta, os Estados Unidos terão prioridade, por conta de um acordo.  Ele se disse contra o “nacionalismo sanitário” e acrescentou que o governo “conversou com o laboratório para garantir a produção e o acesso internacional. Podemos ser patriotas, mas não nacionalistas”.
 
Quanto às escolas, Macron disse que as aulas serão retomadas em “condições quase normais”, em setembro, após as férias escolares de julho e agosto.
A respeito das grandes manifestações dos Coletes Amarelos, ou contra a reforma da Previdência, ou pela greve dos transportes, o presidente francês disse que “as pessoas gostam de criticar um presidente que quer mudar tudo, mas as críticas fazem parte do jogo democrático”.  Macron admitiu erros, mas disse que “não vai cruzar os braços”, vai continuar em busca de uma “França mais forte e independente”.
 
Um dos jornalistas perguntou: “Édouard Philippe era um bom primeiro-ministro, por que foi embora?” Ele respondeu: “É uma página virada, era preciso mudar a equipe”. Analistas acreditam que Macron escolheu o até então desconhecido Jean Castex para substituir um primeiro-ministro que era popular demais...
 
Guinada à direita?
Ao responder se o novo gabinete tendia à direita, Macron disse que “os doentes não querem saber se o governo é de esquerda ou direita. É um governo que tem homens e mulheres que vêm da direita e da esquerda, de um lado e de outro”.
 
Outra questão foi sobre a escolha para o ministério do Interior de Gérald Darmanin, que responde a acusações de agressão sexual. Macron disse respeitar “as emoções e a ira” de feministas, mas defendeu a nomeação em nome da presunção de inocência.
 
Um milhão de desempregados?
O presidente francês admitiu que as projeções entre 800 mil e um milhão de desempregados a mais eram realistas. “A economia parou durante meses, a retomada é difícil”, disse, citando vários setores que sofreram com o coronavírus: cultura, turismo, construção, aeronáutica, automobilismo. “O desemprego será massivo”.
Macron lembrou que os dispositivos de desemprego parcial foram caros e generosos, mas evitaram muitas demissões. E citou outros mecanismos para amenizar a situação: empréstimos, adiamento de pagamentos e exoneração de taxas, além de estimular o mercado de trabalho para os jovens. O presidente repetiu ainda que o polêmico imposto para as fortunas não será reabilitado.
 
Medidas verdes
Em referência ao crescimento dos candidatos dos verdes nas últimas eleições municipais, Macron foi pressionado pelos jornalistas para explicar suas propostas ecológicas. Ele disse que está empenhado em incluir a luta contra o aquecimento global na Constituição, mas que isso vai passar ainda pelo parlamento. Citou subsídios para reformas ecológicas de residências, incentivos para troca de carros por outros menos poluentes e apoio ao desenvolvimento do transporte ferroviário.
Indagado se será candidato para as próximas eleições daqui a dois anos, Macron saiu pela tangente: “Não faço cálculos antes da hora”.

RFI
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