02/07/2020 às 12h29min - Atualizada em 02/07/2020 às 12h29min

LULA: “EU NÃO QUERO VINGANÇA. QUERO JUSTIÇA”.

FBI ATUOU COM A LAVA JATO, DIZ MATÉRIA DA AGÊNCIA PÚBLICA/THE INTERCEPT


Reportagens de Natalia Viana e Rafael Neves da Agência Pública/The Intercept publicada, desde quarta-feira, dia 1º, comprovam a interferência dos Estados Unidos junto à força-tarefa da Lava Jato na apuração das denúncias de corrupção envolvendo empresas brasileiras. Nesta quinta-feira, dia 2, a matéria revela  os nomes dos agentes americanos que trocaram informações com o coordenador da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, e a Polícia Federal.

Desde 2019, The Intercept vem denunciando irregularidades do ex-juiz Sérgio Moro, dos procuradores e da PF.  A Vaza Jato, denominação do trabalho investigativo dos jornalistas, recebeu documentos e gravações das conversas entre Moro e os procuradores que confirmaram a seletividade das investigações.
Segundo a nova série de reportagens, a colaboração do FBI com a Lava Jato começou em 2014 e foi fortalecida em 2015 e 2016. O foco da operação eram a Petrobras e a Odebrecht. Em 2016, a Odebrecht aceitou pagar a maior multa mundial de corrupção até então: US$ 2,6 bilhões ao Brasil, à Suíça e aos Estados Unidos (EUA). A parcela devida às autoridades americanas, no valor total de US$ 93 milhões, foi paga à vista. 
A partir de documentos entregues ao The Intercept e com apurações em fortes abertas, a repórter Natalia Viana, da Agência Pública, localizou os nomes de 12 agentes do FBI que investigaram os casos da Lava Jato, com a permissão da Lava Jato e da PF. Entre eles está Leslie Backschies, que hoje comanda o esquadrão de corrupção internacional do FBI. Segundo a matéria,  as investigações viraram símbolo de parceria bem sucedida e levaram à promoção  de diversos agentes americanos. Um ex-promotor do Departamento de Justiça americano contou à Agência  Pública que a presença de agentes do FBI no Brasil foi fundamental para o governo americano concluir suas investigações sobre corrupção de empresas brasileiras.

Um dos alvos de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, o ex-presidente Lula reafirmou, em entrevista à Rádio Bandeirantes, na manhã desta quinta-feira, a luta para provar sua inocência e repercutiu as reportagens da Agência Pública/The Intercept. “A gente vem denunciando há anos o envolvimento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos na Lava Jato. Apontamos fatos concretos, que eles chamavam de teoria da conspiração. Agora isso está vindo à tona”, lembrou o ex-presidente. 

O coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, foi duramente criticado por Lula. “O Dallagnol montou uma quadrilha com a força-tarefa da Lava Jato e isso está ficando claro. Espero que em algum momento a Justiça leia os autos do meu processo pra esclarecer a farsa que promoveram pra me tirar do processo eleitoral de 2018”. E avisou. “Eu não quero vingança. Quero Justiça. Por isso nós entramos com um pedido de anulação do processo do Moro na Suprema Corte”, ressaltou Lula.
O ex-presidente também lembrou a interferência dos Estados Unidos na democracia brasileira nas últimas décadas. “Foram 50 anos pra gente ouvir o Kennedy falando com o embaixador Gordon sobre a intervenção militar aqui no Brasil. Podemos levar anos pra revelar a verdadeira história da Lava Jato, mas a verdade vai aparecer”, disse Lula. 
Cristiano Zanin, um dos advogados de Lula, também lembrou que já vem denunciando a interferência dos Estados Unidos há muito tempo. “Essa reportagem de hoje da Vaza Jato mostra que a “teoria da conspiração” que apresentamos desde 2016 sobre a cooperação “informal” dos EUA para construir casos no Brasil, usar o FCPA para “entrar” em empresas brasileiras, etc, estava absolutamente correta”. O ex-presidente da OAB-RJ e também advogado do ex-presidente, Wadih Damous, denuncia a ilegalidade da presença de agentes americanos no Brasil. “A Lava Jato operava com o FBI em território brasileiro. Isso é ilegal. É criminoso. Pisotearam a ordem jurídica e a soberania nacional. Essa turma de Curitiba traiu a pátria. Por essas e outras é que não querem permitir o acesso da PGR a seus arquivos. Eles têm muito a esconder”, alerta Damous. 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também fecha o cerco à Lava Jato. Ele não ficou satisfeito com as explicações da força-tarefa de Curitba sobre o uso de grampos nas investigações. Segundo a colunista de O Globo, Bela Megale, Aras acredita que a Lava Jato esconde aparelhos que eram usados para gravar ligações telefônicas de autoridades, sem autorização judicial. Segundo a jornalista, o procurador-geral da República teria garantido que a investigação vai até o fim. 
 
 
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