25/06/2020 às 19h20min - Atualizada em 25/06/2020 às 19h20min

OS GAFANHOTOS ESTÃO CHEGANDO...

SÓ FALTA O METEORO!

O Rio Grande do Sul e Santa Catarina entraram em estado de emergência fitossanitária devido ao risco da chegada da nuvem de gafanhotos ao Brasil. O ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou a medida, nessa quinta-feira, no Diário Oficial da União. 

O estado de emergência, que vale por um ano, permite a implementação de um plano para combater o surto da praga Schistocerca cancellata, se chegar às áreas produtoras dos dois estados.

Segundo as últimas informações, a nuvem de gafanhotos está a cerca de 250 quilômetros da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina.

Ela teria se formado no Paraguai, nas províncias de Formosa e Chaco, onde há plantações de cana-de-açúcar, mandioca e milhos. Especialistas argentinos estimam que a nuvem esteja indo em direção ao Uruguai.

Como o fenômeno é mais comum em altas temperaturas, uma notícia tranquilizadora vem do Serviço de Meteorologia do Rio Grande do Sul. Uma frente fria se aproxima do sul do estado e deve trazer ventos de Norte e Noroeste, deslocando a nuvem para a fronteira Oeste, Missões e Médio e Alto Vale do Rio Uruguai.

Técnicos do ministério da Agricultura fazem o acompanhamento em tempo real.    


Afinal, que nuvem é essa, quais as causas e consequências que podem agitar ainda mais esse mundo que vive há meses sob o domínio do medo da pandemia do coronavírus?

O Daqui&Dali pediu à jornalista do Rio de Janeiro Sônia Regina Gomes, formada em Gestão Ambiental, para responder essas perguntas. Segue o texto.

“Como se já não bastasse a pandemia do Covid- 19, com 54.434 mortos no país, a dengue, a zika, agora reciclada também, segundo alerta da Fiocruz, o sarampo, as falcatruas no sistema da Saúde e as trapalhadas, mentiras e ataques à democracia pelo governo federal, e seus seguidores, o Brasil se vê ameaçado por outra praga: uma nuvem de cerca de 1 quilômetro quadrado de gafanhotos vindos da Argentina.

Se alcançarem o Sul do país, os insetos vão fazer a festa! E com poucas possibilidades de encontrarem predadores naturais pelo uso massivo de agrotóxicos no Brasil.  Só no ano passado, dezenas de milhões de abelhas, responsáveis indiretamente pela produção de alimentos no mundo, morreram pela pulverização de defensivos agrícolas na região, dominada pelo arroz, trigo e soja, e pela pecuária. O veneno não só eliminou  as pragas das plantações, as formigas e carrapatos dos pastos. Atingiu ainda  aves, roedores, anfíbios,  répteis e outros insetos que fazem o controle natural das pragas, inclusive os gafanhotos,  como também os seres humanos, os córregos e a criação doméstica. O uso de veneno para um número restrito de culturas, para grandes extenções de pasto, o manejo incorreto da terra, põem em risco a população,  os recursos naturais e a biodiversidade, causando o desequilíbrio ambiental.

Mesmo o Rio Grande do Sul já tendo realizado a colheita do arroz, a nuvem de gafanhotos, com cerca de 50 milhões de insetos, pode comer em um dia 200 mil toneladas de plantas, o que equivale ao que 350 mil pessoas consomem em igual período. E para conter essa população voraz só uma superdose de veneno. A frota de aviões pulverizadores já está de prontidão. Isso porque o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Atualmente tem 625 tipos liberados, sendo 10 só este ano.  Dos 96 ingredientes ativos desses produtos, 28 foram banidos da União Europeia; 36 da Austrália; 30 da Índia e 18 do Canadá. Será um massacre ambiental.
 

O uso de veneno para um número restrito de culturas põe em risco a população, os recursos naturais e a biodiversidade. Da mesma forma, o desmatamento desordenado. O Brasil é o país que mais desmata no mundo. Em 2019, a Frente Parlamentar Ambientalista divulgou que 99 por cento dos desmatamentos, e queimadas, foram  ilegais. Só este ano, o desmatamento na Amazõnia foi maior que no ano passado, um recorde histórico dos últimos quatro anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), o que gerou ameaça de investidores estrangeiros de retirarem investimentos do Brasil. No governo Bolsonaro o desastre ambiental acelerou.
 

O presidente já declarou que assinar Acordos Climáticos, para reduzir os danos ao meio ambiente, pode comprometer a soberania nacional.  As mudanças climáticas favorecem o surgimento de pragas, como as nuvens de gafanhotos. Calor e clima seco, ausência de chuvas, desequilíbrio ecológico fazem aparecer nuvens de gafanhotos também pela Ásia e África. No Brasil, desde a década de 1940 que não há registro de uma. Mesmo tendo assinado o Acordo de Paris, que visa a recuperação de biomas, e se comprometido a investir para recuperar o desmatamento, essa prática só está presente em 15 por cento dos projetos implantados no país. O cerrado é o bioma mais prejudicado, devastado pela pecuária, a atividade crush do presidente. É nessa região que temos os nossos gafanhotos, que já nos deram trabalho. A continuar esse desequilíbrio, se não engolirmos Bolsonaro, vamos cuspir gafanhotos!”

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