15/06/2020 às 16h59min - Atualizada em 15/06/2020 às 16h59min

EUA REVOGAM LIBERAÇÃO EMERGENCIAL DA CLOROQUINA PARA TRATAR A COVID-19

FDA AFIRMA QUE EFICÁCIA DO MEDICAMENTO NÃO É COMPROVADA

O discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, e do aliado dele, presidente Jair Bolsonaro de apoio ao uso da hidroxicloroquina no tratamento dos pacientes contaminados com o coronavírus foi derrubado, nessa segunda-feira, pela agência americana FDA. Ela revogou a liberação de emergência e disse que “não é mais razoável acreditar que as formulações orais de hidroxicloroquina e de cloroquina podem ser eficazes”.

A FDA atua como a Anvisa no Brasil. 

A agência afirmou que tomou a decisão baseada em novas informações e reavaliou os dados que estavam disponíveis quando liberou o uso de emergência para tratar os pacientes com Covid-19, em 28 de março. Naquele momento, a FDA permitiu o tratamento apenas para pacientes com casos graves da Covid-19 e internados em hospitais. O medicamento deveria ser administrado por um profissional de saúde com uma receita médica. Agora, a agência acredita que as dosagens da hidroxicloroquina não têm um efeito antiviral.

A Organização Mundial de Saúde várias vezes informou que fazia testes com a cloroquina, mas que “precisa de tempo” para entender os reais efeitos do remédio. Segundo a OMS, não há como sugerir cientificamente que ele seja administrado pelos sistemas de saúde. 

No Brasil, importantes especialistas e centros de pesquisas  também não concordam com o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. Em 18 de abril, a Fundação Oswaldo Cruz divulgou uma nota afirmando que as altas doses da cloroquina não eram indicadas para o tratamento de pacientes graves contaminados com o coronavírus. Os pesquisadores da Fiocruz também ressaltaram que ainda não era possível atestar a eficácia do medicamento para tratar a doença. 

Mas como Donald Trump, o presidente Bolsonaro não acredita na Ciência, brigou com a OMS e até com os ex-ministros da Saúde, Henrique Mandetta e Nelson Teich, em defesa da cloroquina, mesmo sendo alertado para os efeitos colaterais e a não comprovação científica. 

Em 31 de maio, o governo dos EUA anunciou que estava enviando para o Brasil 2 milhões de doses da cloroquina. O comunicado até dizia que o medicamento ia ser usado para “ajudar a defender enfermeiras, médicos e profissionais de saúde do Brasil contra o vírus” e no tratamento dos pacientes brasileiros infectados. Se essas doses chegaram e por que vieram para o Brasil, até hoje não se sabe. Dias depois, 6 de junho, Bolsonaro até comemorou nas redes sociais. 

“A cloroquina voltou”, sobre a retirada da plataforma da revista The Lancet, a pedido dos autores, de um estudo global que concluía que a cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, não ofereciam nenhum benefício para os pacientes, inclusive podendo aumentar o risco de morte em 30% dos casos. Apesar de todas as dúvidas no mundo, o Brasil continua produzindo a cloroquina. Depois que o médico carioca Nelson Teich discordou, entre outros pontos, do uso do medicamento até em pacientes que não apresentam sintomas de contaminação do coronavírus e pediu demissão, no dia 15 de maio, a “porta foi aberta” no ministério da Saúde para os novos protocolos do aplicação do medicamento no SUS. O general Eduardo Pazuello, que não é médico, virou ministro da Saúde interino e baixou novas diretrizes para o uso da cloroquina no sistema de saúde. Agora não só os pacientes graves, como já era permitido, mas também com sintomas leves da Covid-19, já podem ser tratados com a cloroquina. O protocolo diz ser necessário o consentimento do médico e do paciente. Mas há informações que logo que o teste dá positivo, muitos pacientes têm recebido o medicamento entre os remédios que levam para fazer o tratamento em casa. Estudos revelam que efeitos colaterais de altas doses da cloroquina causam arritmia cardíaca, um alto risco para a vida do paciente.  

 

Leia mais no El País e G1

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