06/06/2020 às 12h09min - Atualizada em 06/06/2020 às 12h09min

​O VAIVÉM DO ESTADÃO

SER OU NÃO SER FASCISTA

 
O Estadão é um jornal curioso. Curiosíssimo. Tem 145 anos de existência! Diz a Wikipédia que foi fundado com base nos ideais de um grupo de republicanos, em 4 de janeiro de 1875. Tinha o nome de A Província de São Paulo e foi o pioneiro (!) em venda avulsa no país, fato pelo qual foi ridicularizado pela concorrência da época (Correio PaulistanoO Ipiranga e Diário de S. Paulo (1865)). A venda avulsa foi impulsionada pelo francês Bernard Gregoire, que saía às ruas montado num cavalo e tocando uma corneta para chamar a atenção do público. Ao final do século XIX, o Estado  era o maior jornal de São Paulo, superando em muito o Correio Paulistano. Hoje seria um dos três maiores do país, atrás da Folha e do Globo.
 
Em 2018, o Estadão disse que era uma escolha muito difícil optar entre o professor Fernando Haddad, do PT, e o fascista Jair Bolsonaro. Vamos repetir, porque, tratando-se do Estadão, tudo tem que ser em câmera lenta: o Estadão disse que era uma escolha muito difícil optar entre o professor Fernando Haddad, do PT, e o fascista Jair Bolsonaro. Ficou surpreso? Fique mais.
No seu editorial de hoje, 6 de junho de 2020, o Estadão declara, pela primeira vez, que Bolsonaro, esse presidente que nós temos, é "fascista" e "ignominioso". Veja o trecho:
“Procurando associar à violência os atos de protesto contra seu governo, o presidente deixou claro que os atos de domingo não serão travados entre adversários políticos, mas entre inimigos – entre “o pessoal de verde e amarelo, que é patriota”, e “idiotas, marginais, viciados e terroristas”. Segundo Bolsonaro, “este pessoal tem costumes que não condizem com a maioria da sociedade brasileira”. Além de desqualificar opositores no plano moral, que é uma conhecida prática fascista, Bolsonaro os acusou de serem inimigos da liberdade. “Mais importante que a sua vida é a sua liberdade. Esse pessoal não tem nada para oferecer para você. Se você pegar cem desse aí (sic), a maioria é estudante. Se você pegar e aplicar a prova do Enem neles, ninguém tira nota 5. São idiotas que não servem para nada”.
 
Como se não bastasse, o presidente ainda pediu aos pais que impeçam os filhos de participar dos atos contrários ao seu governo. “Quem for possível exercer o controle em cima dos filhos (sic), exerça para não deixar o filho participar. Alguns vão dizer que eu estou cerceando a liberdade. Isso não é liberdade de expressão, o cara vai para o quebra-quebra. E vai ter muito garoto desse usado como massa de manobra, idiota útil”, disse Bolsonaro, procurando desde logo responsabilizar seus opositores por qualquer ato violento.
Horas depois, anunciou que em breve concederá autorização para importação, sem imposto, de armas de uso individual. Na ocasião, afirmou que “a boa medida (sic) vai ajudar todo o pessoal do artigo 142 da nossa Constituição”, referindo-se talvez aos membros das Forças Armadas. Além de definir as atividades militares, esse artigo se limita a classificar as Forças Armadas como “instituições que, sob a autoridade suprema do presidente da República, destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa destes, da lei e da ordem”. Mas, numa interpretação tortuosa e absurda desse texto, Bolsonaro acredita que este lhe confere a prerrogativa de convocá-las quando bem entender e para o que bem quiser. Mesmo advertido para o erro que comete, insiste em repeti-lo.
Em seu ensaio sobre a mentira na política, Hannah Arendt lembra que o engodo e o embuste costumam ser eficientes apenas quando o mentiroso tem ideia clara da verdade do que tenta esconder. Bolsonaro sabe o que quer. Mas em momento algum consegue esconder seus anseios ignominiosos”.
 
Parece que a escuridão do fascismo ajudou o Estadão a ter um click nas ideias. Vamos torcer para que essa luz nunca se apague...
 
Estadão
Brasil247

 
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