O jornalista Vincent Bevins resolveu fazer uma turnê internacional para promover o seu livro sobre ditaduras, “The Jakarta Method”. Tinha sido correspondente do Los Angeles Times no Brasil e resolveu começar por aqui. Infelizmente, a pandemia do coronavírus (Conad-19) chegou junto. Parou tudo, ficou confinado na praça da República, em São Paulo. Ele conta que logo começou algo inusitado. “Familiares nos Estados Unidos e amigos meus na Ásia, onde nos últimos anos fui correspondente, passaram a entrar em contato, perguntando se estou seguro, se o presidente está me ameaçando”.
Esse é o Brasil que temos agora. O ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda do governo Itamar, Rubens Ricúpero descreve a imagem do Brasil no exterior, hoje, como “o lugar de que as pessoas têm medo”. Ou ainda, em sua primeira resposta ao ser questionado sobre o tema: “Seria o caso de perguntar ‘que imagem?’. Como coisa positiva, acabou”.
O ex-chanceler Celso Amorim diz o mesmo. “Não há mais imagem. É a caricatura do Brasil no exterior. Só que a caricatura foi desenhada aqui dentro. E tem um certo rosto.”
Claro que ele se refere a essa aberração da política, presidente Jair Bolsonaro. Para Ricúpero, “já era ruim com o início do governo, mas com a pandemia isso se multiplicou, é o tempo todo, em todo lugar”.
Ele conta que foi procurado na quinta-feira, 28, por uma publicação de análise política de Bruxelas e na sexta (29) para falar a uma rádio de Buenos Aires, sobre... os ataques ao meio ambiente e as ameaças à democracia que estão sendo feitos!
“Em resumo, não sobrou nada do que o Brasil tinha antes, se nós compararmos com aquela famosa capa do Cristo Redentor decolando no Economist, em 2009”, diz ele, para acrescentar: “O grau de atenção internacional ao Brasil, que tinha se elevado muito, continua, mas hoje com sinal contrário”.
No último mês e meio, além das capas com fotos de valas comuns, saíram editoriais alarmados sobre o país, com a opinião institucional dos jornais, no Washington Post, Le Monde, Financial Times, El País e The Guardian. Em todos, o foco é Bolsonaro.
The Washington Post traz o título “Bolsonaro é o pior” no enfrentamento da pandemia. O espanhol El País destacou os “graves riscos” à democracia, por seu apoio a “discursos golpistas” e por dar “mais poder aos militares”. O britânico The Guardian contrastou sua “imagem macho” com a realidade da “reação mais fraca” ao coronavírus (Covid-19).
O jornalista brasileiro Daniel Buarque, autor de “Brazil, um País do Presente: A Imagem Internacional do ‘País do Futuro’” (Alameda, 2013), avalia que hoje “a imagem do Brasil é negativa, mas é especialmente negativa a imagem do governo Bolsonaro”. No caso da pandemia, “tudo é colocado na conta dele, e o Brasil é apontado até como vítima”. Buarque, que prepara doutorado sobre o tema no King’s College London, diz que em seus contatos com acadêmicos voltados ao país é comum diferenciar o Brasil de seu presidente. Otimista, diz que “se não acontecer nada radical até 2022, outro pode ganhar e começar tudo de novo. É uma imagem que pode ser limpa, zerada”.
Que Cristo não perca a cabeça e diga amém a suas palavras...