O Observatório Carioca da Pandemia, uma iniciativa do vereador carioca Reimont (PT-RJ), promoveu, nesta sexta-feira, 29, um importante encontro virtual de deputados federais, deputados estaduais e vereadores, de oposição e outras correntes políticas, em defesa da vida da população do Estado do Rio de Janeiro.
A notícia de que o prefeito do Rio, Marcello Crivella (Republicanos-RJ), e o governador Wilson Witzel (PSC-RJ) já planejam reduzir o isolamento social, no momento em que o número de mortes causadas pelo coronavírus no estado já ultrapassa as estatísticas da China, Índia e Rússia, foi o alerta para a união contra essa irresponsabilidade. O último relatório da Secretaria Estadual de Sáude, divulgado nessa quinta-feira, 28, registrou 251 mortes, terceiro dia consecutivo com mais de 200 mortes em 24 horas. O total de vítimas chegou a 4.856 e ainda há 1.286 óbitos em investigação. Em todo o estado são 44.886 casos confirmados de contaminação. Mesmo assim, o prefeito Marcelo Crivella insiste que a pandemia foi “dominada” e sinaliza o início da reabertura do comércio, bares, restaurantes, museus e serviços de transportes a partir desta segunda-feira, 1º de junho. Crivella, acusado de só pensar na reeleição, com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, também já fala em reabrir as escolas do município. Na semana passada, a prefeitura mudou o método para registrar os mortos vítimas da pandemia. Os relatórios passaram a divulgar o números de enterros e não contabilizaram as mortes que ainda não tinham o resultado do teste do coronavírus. Nessa “mudança” sumiram 1.200 mortes. Como a reação foi muito negativa, a secretaria municipal de Saúde voltou a divulgar as mortes, mas disse que só depois que o resultado confirmasse a morte por coronavírus será inserida no mapa da pandemia.
"O prefeito não pode reabrir o comércio. Vai matar mais cariocas. Depois que esse irresponsável se aliou ao outro irresponsável de Brasília está fazendo isso. É uma abertura irresponsável, cedendo à pressão do mercado e em detrimento da vida. É uma estupidez, só pensa na reeleição, como o presidente também. É importante que o Legislativo se manifeste”, reagiu o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ).
Crivella recebeu essa proposta de reabertura da Associação de Hotéis do Rio e associações de moradores da Barra da Tijuca. Nos planos do bispo licenciado da Igreja Universal estão a reabertura das igrejas e templos, e a volta do futebol. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou a falta de controle do poder público. “Não tem produção de medicamentos e de insumos para o atendimento, não tem investimento na Ciência. A falta de ética e escrúpulos dá margem a divulgação de mensagens dúbias. Querem colocar o povo para trabalhar sem nenhuma segurança, tudo por pressão do governo federal. Não há distribuição de cestas básicas, falta de aposta para garantir comida”.
As comunidades do Rio tiveram voz através do jornalista e defensor dos direitos humanos dos moradores das favelas, Itamar Silva, que reforçou o abandono dos governos nas áreas mais carentes da cidade. O número de mortes pelo coronavírus disparou e a ajuda não aparece. A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), nascida e criada na favela, ampliou as críticas de Itamar. “As comunidades são as primeiras que se organizam entre si e saem em busca da saúde. Eles se juntam para cuidar um do outro. Não têm água para tomar banho, lavar as mãos, nem álcool gel. Não pode acabar com o isolamento. As pessoas estão morrendo na Zona Oeste, como perdi uma irmã e um sobrinho. Os profissionais de Saúde não têm os equipamentos de segurança. Muitos morrem na porta dos hospitais, depois do plantão. Nós seremos uma voz extremamente necessária para a população retomar suas atividades. Precisamos construir aqui no Rio de Janeiro o que está sendo feito na Câmara e no Senado. Uma frente de oposição para conter os exageros desses governos fascistas, mas nós não somos uma oposição ao povo. O Rio de Janeiro precisa começar a discutir essa cidade depois da pandemia”.
O enfrentamento aos governos fascistas também foi o tom da participação do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) “O Brasil é o segundo país em mortes causadas pelo coronavírus no mundo, mas não podemos descuidar das ações fascistas do governo federal. Precisamos fazer uma pressão internacional, conseguir apoio de importantes lideranças políticas mundias para que pressionem o Brasil pela preservação da democracia e a vida dos brasileiros”.
Os vereadores de diferentes correntes políticas também participaram do encontro virtual. O presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felipe (DEM-RJ), no sétimo mandato de vereador, ressaltou a importância do ato nesse momento da pandemia. Outra antiga vereadora carioca, Rosa Fernandes (PSC-RJ), elogiou a união de forças para defender a vida. “Não dá para ter disputa partidária. A independência entre os poderes fortalece as instituições. A redução de números de equipes da saúde é um reflexo da falta de investimentos na saúde sucateada. A pandemia chegou e encontrou uma realidade pouco favorável e se agravou. As fake news foram o maior agravante de todo esse problema contra o isolamento. Prejuízo para a vida e para o país. A desorientação fortalece as pessoas a tomarem a atitude que melhor lhe convêm. A prioridade da cidade hoje está nos campos de grama sintética, no asfalto e na publicidade. Vergonhoso”, criticou a vereadora.
Foram mais de duas horas de discussões e propostas. Ao final, o vereador Reimont, organizador do encontro, anunciou que será divulgada a “Carta do Rio de Janeiro Em Defesa da Vida” e que os vereadores e deputados estaduais vão enviar uma carta ao Papa Francisco relatando a triste situação que enfrenta a população do estado do Rio de Janeiro durante a pandemia do coronavírus.