22/05/2020 às 16h30min - Atualizada em 22/05/2020 às 16h30min

​CRISE ORIENTAL

ESTADOS UNIDOS QUEREM ABOCANHAR HONG KONG


Na quinta, 21, o Congresso Nacional do Povo em Pequim anunciou que irá efetivar uma lei de segurança interna proibindo oposições na antiga colônia britânica, o que violaria a legislação vigente desde que o Reino Unido devolveu Hong Kong em 1997.
Pela proposta discutida na reunião anual do Congresso, o poder central poderá usar força contra atividades consideradas separatistas, terroristas ou de influência estrangeira no território.
"Pequim está tentando silenciar as vozes críticas com força e medo", disse, por mensagem de aplicativo, o ativista Joshua Wong, uma das principais vozes adversárias ao comunismo chinês em Hong Kong.
Desde 2014 na linha de frente de protestos em favor de maior autonomia em Hong Kong, o pró-capitalista Wong afirma crer que apenas a volta às ruas dos manifestantes que abalaram o território a partir de junho do ano passado poderá evitar o que ele chama de "o pior".
Os atos de 2019 começaram em protesto contra uma lei local que facilitava a extradição de honcongueses para a China continental. Mesmo com a retirada da proposta, as manifestações cresceram para atos por mais democracia e só perderam gás com a pandemia.
Para Pak Fu-yi, ativista de Kowloon (porção continental do território de Hong Kong), a repressão que atingiu os primeiros protestos depois do pico da pandemia do novo coronavírus na região tende a se acentuar.
"Com a volta gradual das atividades, as pessoas vão voltar às ruas. Haverá batalhas com a polícia", disse por mensagem eletrônica.
"É uma proposta desastrosa, que vai impactar nossa avaliação do 'um país, dois sistemas'", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
O modelo foi adotado na transição de controle para a China e vale até 2047. Nele, a China comunista é soberana sobre o território, mas Hong Kong reteve autonomia política relativa, liberdade de expressão e no Judiciário, além do capitalismo.
Esse arranjo é essencial para o fluxo comercial chinês, com volume (antes da pandemia) de aproximadamente 60% das transações feitas em Hong Kong, mas a gravidade dos atos de 2019 colocou tudo em xeque.
A crítica americana sobre a ação chinesa em Hong Kong acontece desde 2017, quando Trump chegou ao poder e abriu uma disputa comercial encarniçada com Pequim. Estados Unidos e China passaram a semana trocando acusações sobre a condução da pandemia na OMS (Organização Mundial da Saúde), e houve também sinais militares dados na forma de exercícios de ambas as partes nas águas em torno da China.
Nos protestos de 2019, os americanos se posicionaram ao lado dos manifestantes. Em novembro, o Congresso aprovou, e Trump sancionou, um ato de apoio a grupos pró-democracia honcongueses, para a fúria de Pequim.
A perspectiva desse embate entre americanos derrubou mercados no mundo todo.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng teve a maior queda desde 2015, fechando 5,6% negativos. Na Europa, as Bolsas de Londres e Frankfurt operam em baixa. Na Bolsa paulista também. O barril de petróleo, cuja cotação já está em níveis baixos devido ao impacto do coronavírus na demanda mundial, caiu 5%.
Há muitas incertezas. Editorial do Diário do Povo lembra que a proposta chinesa existe na chamada Lei Básica de Hong Kong, em seu artigo 23, que nunca foi implementado.
Isso é fato. O artigo fala sobre impedir atos como secessão, terrorismo e influência estrangeira, exatamente o que Pequim quer fazer via Congresso agora. Quando o governo honconguês tentou aplicá-lo pela última vez, em 2003, desistiu após atos maciços nas ruas.
O problema é que, legalmente, tudo o que afetar Hong Kong tem de ser aprovado localmente. Ainda não se sabe exatamente como Xi Jinping agirá.
No discurso de Pequim, Hong Kong está sendo usada pelos EUA e outros países para desgastar o regime chinês (o que, obviamente, é verdade). As autoridades apontam a relação de ativistas com centros de defesa da democracia americanos e com empresários honcongueses que têm ligações com Washington. Um deles, o dono de meios de comunicação Jimmy Lai, foi preso recentemente.
Membros da oposição no Conselho Legislativo local protestaram, mas são minoria. Em novembro, 17 dos 18 conselhos locais, a instância mais baixa de poder, foram abocanhados por simpatizantes dos protestos. Mas 40% dos votos ainda foram para partidos pró-Pequim.

O foco agora estava voltado para setembro, nas eleições diretas marcadas para 35 das 70 vagas do Conselho, que é o órgão que pode barrar ou aprovar ações do Executivo. A outra metade é eleita por 28 associações de classe, os chamados distritos funcionais.
Pequim sempre teve a mão mais forte e, afirma Pak, continuará tendo com a nova realidade pandêmica. "A pandemia desmobilizou parte do ativismo, caberá a nós tentar voltar à tona", afirmou.
A executiva-chefe de Hong Kong, Carrie Lam, fez um discurso prometendo cooperação com Pequim. Altamente impopular devido ao rigor contra os manifestantes, ela foi escolhida por um conselho de 1.200 membros que seria orientado por Pequim.
Ainda não houve turbulência em Macau, a outra região administrativa especial chinesa. Há alguns motivos para isso, o principal deles é, obviamente, econômico: a renda per capita lá, alimentada pela indústria dos cassinos, é quase 70% maior do que em Hong Kong. Além disso, os antigos donos do pedaço, os portugueses, tentaram devolver Macau duas vezes antes de conseguir fazê-lo, em 1999. A noção de identidade nacional é mais difusa ainda, já que quase 90% dos moradores falam o cantonês que predomina também na vizinha Hong Kong.

Certamente, a economia, a proximidade e as identidades chinesas falarão mais forte.
 
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