14/05/2020 às 18h02min - Atualizada em 14/05/2020 às 18h02min

​BOLSONARO DECLARA GUERRA AOS GOVERNADORES

DINO: “SE NÃO SABE O QUE FAZER, RENUNCIE”

Agora é guerra! O presidente Jair Bolsonaro convocou um grupo de grandes empresários para “jogar pesado” contra os governadores que mantêm as medidas restritivas para tentar conter a pandemia do coronavírus. A videoconferência aconteceu, na manhã dessa quinta-feira, e foi organizada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, bolsonarista convicto.

Mantendo o governador de São Paulo, João Doria,  como o alvo principal, Bolsonaro repetiu a frase que vem falando nos últimos dias. "Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, decidindo o futuro da economia do Brasil". E chamou os empresários para entrar na “batalha” contra o isolamento social. "Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado. Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra". Bolsonaro adiantou até a estratégia, com previsões alarmistas. "Nós temos que mostrar a cara, botar a cara para apanhar. Porque nós devemos mostrar a consequência lá na frente. Lá na frente, eu tenho falado com o ministro Fernando [Azevedo], da Defesa... Os problemas vão começar a acontecer. De caos, saque a supermercados, desobediência civil. Não adianta querer convocar as Forças Armadas porque não existe gente para tanta GLO [Garantia da Lei e da Ordem]", alertou.

Entre declarações de guerra e ameaças de caos, teve até cenas constrangedoras via internet. Sem saber que os jornalistas estavam acompanhando a vídeoconferência, o presidente Bolsonaro pediu para interromper a transmissão. Segundo a jornalista Carla Araújo, do UOL, o pedido foi para avisar que um dos  participantes estava aparecendo pelado, tomando banho. "Dá uma parada aí, Paulo. Ô, Paulo, tem um colega do último quadrinho ali que tá...", disse Bolsonaro, que estava no Palácio do Planalto, ao lado de Guedes, acompanhando os relatos de empresários. Com “aquela” educação que é uma marca do ministro da Economia, Guedes chamou mais ainda a atenção para a cena. "Tem um cara tomando banho aí. Tem um peladão aí. Fazendo isolamento peladão em casa e tal, beleza". E continuou. "O cara foi ficando com calor e foi tomar um banho frio". Ao constrangido Paulo Skaf, mediador do debate, restou pedir desculpas.

Paulo Guedes também foi responsável  por outro momento inacreditável para o encontro que reunia o presidente do Brasil com os maiores empresários do país. Foi quando o ministro da Economia desse país  que passa por  grave crise política, econômica e sanitária, afirmou que o governo vai apresentar  uma proposta para reduzir encargos trabalhistas, a fim de, segundo ele, gerar mais empregos. “Vamos soltar duas ondas de crescimento. De produção e emprego. Vem redução de encargo trabalhista. Produzir emprego no país vai ser algo bom”, disse Guedes. Mais detalhes desse plano, que tem tudo para ser  considerado  surreal, ele não adiantou e seguiu na “viagem”. “Vamos disparar daqui a um ou dois meses. Vamos voltar para o trilho, para o caminho da prosperidade turbinado", com um otimismo inexplicável.

Logo depois, o mercado financeiro puxou o freio no “trem” do Guedes. Em casas de câmbio de São Paulo o dólar em moeda de papel chegou a ser vendido a R$ 6,25 e na compra no cartão pré-pago, o valor foi ainda maior: até R$ 6,63, segundo levantamento feito pelo UOL. O euro ultrapassou a barreira dos R$ 7, chegando a R$ 7,05.

O governador de São Paulo, João Doria, respondeu os ataques, pelo Twitter. “Mais uma vez, o presidente Bolsonaro deixa de defender a saúde dos brasileiros para atacar quem está trabalhando para proteger vidas. Prefere comícios, andar de jet ski, treinar tiros e fazer churrascos. Enquanto milhares de brasileiros morrem por coronavírus”, dispaou Dória. Como bom nordestino, o governador do Maranhão, Flávio Dino, fez duras críticas a Bolsonaro. “Se a crise econômica fosse causada pelos governadores, por que ela existe em outros países? Quem está causando a grave crise econômica é o coronavírus. Incrível que Bolsonaro finja ignorar isso. E a responsabilidade da gestão econômica é dele. Se não sabe o que fazer, reununcie”, sugeriu Dino.  

Os ataques contra os governadores também foram feitos na saída do Palácio Alvorada para dar munição à claque de apoiadores raivosos. “O Brasil está quebrando. E depois de quebrar, não é como alguns dizem, "ah, a economia recupera". Não recupera. Vamos ser fadados a viver em um país de miseráveis, como tem alguns países da África sub-saariana. Nós temos que ter coragem de enfrentar o vírus. Está morrendo gente? Tá. Lamento? Lamento, lamento. Mas vai morrer muito, muito, mas muito mais se a economia continuar sendo destroçada por essas medidas”, se referindo aos decretos dos governadores e prefeitos. Para Bolsonaro, o bloqueio total é o caminho para o fracasso que levaria à decadência da economia brasileira.
Questionado pelos repórteres sobre a grande diferença entre o número de vítimas do coronavírus no Brasil e de países vizinhos, como a Argentina, Bolsonaro, mais uma vez subiu o tom e fez comparações sem fundamento. 




Depois que a entrevista viralizou nas redes sociais, os internautas levaram a Suécia ao topo dos assuntos mais comentados no Twitter. O jornalista da TV Globo Guga Chacra pediu para alertarem Bolsonaro que a “Suécia que ele passou a idolatrar, é governada pela centro-esquerda. O premier Stef Löfven é do Partido Social Democrata”. A equipe da Mídia Ninja fez umas contas para o presidente Bolsonaro e assim evitar que  continue com comparações erradas. “Bolsonaro pediu para comparar  Brasil com a 'Argentina socialista' e com a “Suécia que não fez quarentena”. Vamos lá! Se fizermos o cáculo por milhão de habitantes (pois são países de diferentes tamanhos), o Brasil tem 65 mortos por milhão, a Suécia 345 e a Argentina 8. Tiro no pé”, definiu a equipe da imprensa alternativa.
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