Realmente, é um momento muito vergonhoso para o país. A capa do dinamarquês Politiken e seu editorial dizem tudo.
BOLSONARO É O LOUCO DO BRASIL. MANTENHA DISTÂNCIA.
Todas as luzes de alerta ficaram vermelhas quando o povo brasileiro, no final de 2018, elegeu Jair Bolsonaro como presidente do país. Bolsonaro é contra a proteção da floresta amazônica, contra a igualdade e contra os homossexuais. Ele elogiou abertamente a antiga ditadura militar do país e expressa admiração pelos ditadores. Mas mesmo as vozes mais pessimistas não poderiam prever o colapso das normas de governança a que Bolsonaro expôs seu país e seu povo durante a crise do coronavírus (covid-19).
Primeiro veio a demissão do Ministro da Saúde, que procurou seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e instruiu as pessoas a ficarem em casa. Não denunciou o presidente, que não considerou completamente a ameaça do coronavírus e se recusou a fechar o país.
Em seguida, deu-se a demissão do chefe da Polícia Federal na semana passada. Foi tomada uma decisão em um momento em que um de seus filhos está sob investigação por liderar uma rede de fake news e o outro é formalmente acusado de corrupção e vínculos estreitos com a “milícia” do Rio de Janeiro. A troca de acusações fez com que o (agora ex-) ministro da Justiça do país protestasse e acusasse publicamente o presidente de abusar do poder e de fazer pressão sobre a polícia para proteger seus filhos.
O fato de o maior país da América do Sul ter acabado nessa situação é auto infligido. Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente. Mas ninguém merece ter um líder que trata uma pandemia mortal com um encolher de ombros e a observação de que todos devemos morrer mais cedo ou mais tarde.
A crise política está afetando o Brasil, enquanto o país está em profunda crise econômica e mal se recuperou do trauma da deposição da ex-presidente Dilma Rousseff em um processo judicial em 2016. Infelizmente, a saída da crise torna-se longa e difícil. É evidente que Bolsonaro não é adequado como presidente. Mas menos óbvio é como o Brasil se livra dele da melhor maneira possível. Existem duas opções. Nas urnas - ou em um processo judicial.
Sob circunstâncias normais, a melhor escolha seria nas urnas. O problema é que as próximas eleições presidenciais brasileiras serão apenas no outono de 2022. Em mais de dois anos. É muito tempo para lidar com um presidente autocrático, incompetente e incontrolável. O caminho a ser seguido pela oposição não é um caminho tranquilo. Em parte, porque faz apenas quatro anos que a presidente Dilma Rousseff foi deposta. Em parte, porque o país corre o risco de tornar Bolsonaro um mártir entre seus partidários de direita e pode até levar à uma turbulência interna e à polarização.
Mas a alternativa é pior. O presidente Bolsonaro está ferindo mortalmente o seu país. O Brasil não pode esperar. Deve ser criado um tribunal que possa afastá-lo.