Vivemos uma época em que o óbvio tem que ser lembrado a cada instante. A incompetência, o descaso, o desrespeito à coisa pública, tudo isso tomou proporções estratosférica no governo desse Messias que descobriu o milagre da multiplicação de cargos para os amigos. Em uma de suas façanhas mais recentes, nomeou o amigo dos Filhos, Alexandre Ramagem, para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Aliás, Alexandre Ramagem também foi o coordenador da segurança de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.
Alexandre de Moraes, o ministro do STF que suspendeu a nomeação, entendeu que a indicação tem 'desvio de finalidade' pelas relações, digamos, “familiares” com os Bolsonaros. Ele atendeu a um pedido feito (sabiamente) pelo PDT junto ao STF. "Analisando os fatos narrados, verifico a probabilidade do direito alegado, pois, em tese, apresenta-se viável a ocorrência de desvio de finalidade do ato presidencial de nomeação do diretor da Polícia Federal, em inobservância aos princípios da impessoalidade, da moralidade e do interesse público", escreveu o ministro.
Ramagem foi nomeado nessa terça-feira, 28, e já estava despachando na sede da PF. A cerimônia de posse seria na tarde desta quarta-feira. Mas Moraes fez questão de lembrar a todos que, embora o presidencialismo garanta amplos poderes para o presidente, o cumprimento de princípios constitucionais e da legalidade dos atos tem que ser mantido. Destacou que o Poder Judiciário não pode interferir "subjetivamente" na administração pública, mas permite impedir que o Executivo "molde a administração pública em discordância a seus princípios e preceitos constitucionais básicos".
Nos últimos dias, Bolsonaro chegou a admitir que tinha relação de confiança com Ramagem, que antes de ser indicado para comandar a PF era diretor da Agência Brasileira de Inteligência. Informação que dá consistência à declaração de Sérgio Moro de que Bolsonaro estava tentando fazer interferências políticas na PF, frear inquéritos contra seus aliados e obter informações de inteligência do órgão. No domingo, a Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF) chegou a enviar carta aberta a Bolsonaro alertando para clima de "instabilidade" e "crise de confiança" dentro da PF por causa das acusações e da possibilidade de indicação de um diretor-geral atendendo a critérios pessoais do presidente.
Na verdade, é o país inteiro que envia uma carta aberta a nosso Jair M. Bolsonaro: apesar de ter “Messias” no nome, você não foi ungido por Deus...