Saiu uma nova pesquisa, da Atlas Político, que indica, pela primeira vez, que a maioria da população é favorável à saída imediata de Bolsonaro da presidência da República. É um “XÔ!” nacional - aliás, muitíssimo justo.
A mesma pesquisa indica que Moro, o candidato da Globo, teve sua aprovação alcançando 57%.
As maluquices de Bolsonaro contra o isolamento horizontal no combate ao coronavírus foram mortais para sua imagem. Acrescente-se o apoio à ditadura, a disputa idiota para a escolha do novo comando da polícia federal e o apoio intenso que a Globo deu ao seu grande adversário, Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça. O que já era péssimo tornou-se muito mais péssimo – se isso é possível...
Desde fevereiro o governo sofria abalos, por causa do estranho comportamento de Bolsonaro com relação ao coronavírus e também por causa do baixo desempenho econômico. Além disso, o candidato preferido da Globo deu o grande golpe de pedir demissão, para se firmar como o anti-Bolsonaro da direita. Imediatamente, 64,4% passaram a desaprovar o desempenho presidencial, contra 30% de aprovação. Enquanto isso, Sérgio Moro subia sorridente, alcançando índices que não esperava alcançar tão cedo. Graças a Bolsonaro, o eleitor conservador esqueceu as suspeições sobre a atuação de Moro como juiz da LavaJato, com relação aos vazamentos de mensagens de integrantes da força-tarefa.
Bolsonaro se acha muito esperto, mas é apenas um bobalhão político. Caiu facilmente no conto de Moro sobre a vaga no Supremo – ele estava apenas ganhando tempo e popularidade para tentar a jogada mais ousada, a de candidato à presidência da República. Pior – caiu fácil no bate boca com Moro e entregou de mão beijada informações preciosas trocadas via WhatsApp.
Em meio a esse cabo de guerra, a imagem de Bolsonaro saiu bem arranhada. Segundo indica a pesquisa do Atlas Político feita com 2.000 pessoas, margem de erro de 2,2%, entre os dias 24 e 26 de abril, 68% dos entrevistados discordam da demissão de Valeixo por Bolsonaro, enquanto 72% concordam com as críticas feitas por Moro a ele, como a de tentativa de interferir politicamente em investigações da PF.
O cientista político Andrei Roman, criador do Atlas Político, diz que “há uma queda sem precedentes da imagem positiva que Bolsonaro tinha na nossa série histórica. Isso se reflete em várias perguntas relacionadas, como a pergunta sobre o impeachment. Pela primeira vez, a gente observa uma maioria a favor, num momento em que se começa a discutir mais sobre isso, o que pode criar uma pressão popular sobre o Congresso”.
O bate-boca entre Bolsonaro e Moro colocou o impeachment de volta ao debate público. Os oposicionistas estão aumentando a pressão na Câmara dos Deputados para iniciar um processo, que já recebeu 19 pedidos que acusam Bolsonaro de crime de responsabilidade, sendo oito deles protocolados neste ano. Um vigésimo pedido está na fila e deverá ser entregue nos próximos dias pelo partido que elegeu Bolsonaro, o PSL. Segundo a pesquisa do Atlas Político, 58% das mulheres são favoráveis a um processo de destituição do presidente, enquanto, entre homens, o percentual é de 49%. Nas respostas conforme a crença religiosa, Bolsonaro ainda detém forte apoio dos evangélicos, que têm uma importante base parlamentar no Congresso. Entre os evangélicos, apenas 39% são a favor do impeachment e 53% são contra. Entre católicos, por exemplo, esses percentuais são de 59% a favor e 29% contra.
Enquanto isso, Sérgio Moro vê seu nome se fortalecer politicamente levado pelos braços da Globo. Sua imagem chegou a ficar arranhada com as denúncias da Vaza Jato, quando chegou a ter 48% de aprovação. Voltou a crescer com a crise do coronavírus, com cerca de 53% de aprovação (pesquisa do dia 15 de abril). Graças a Bolsonaro, cresceu mais ainda. O inacreditável é que, de dez líderes políticos incluídos na pesquisa, Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, é o único que supera Moro.
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