25/04/2020 às 07h06min - Atualizada em 25/04/2020 às 07h06min

HADDAD: FORA BOLSONARO E MORO

GILMAR: MORO MANIPULOU A JUSTIÇA

 
Bolsonaro e Moro não são flor que se cheire. Aliás, não são nenhuma flor – são farinha do mesmo saco. Está certo Haddad quando diz que nenhum dos dois é digno do cargo que ocupa. Eles se conhecem muito bem e cada um tem certeza que o outro também não vale nada. E está certo também o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal de Justiça), quando diz que Moro manipulou a justiça em nome de um projeto pessoal de poder. Nós, o Brasil inteiro, queremos os dois, no mínimo, expulsos do nosso cenário político. Tudo que fizeram foi em benefício próprio e em malefício para o Brasil. Leia o que diz Haddad e, em seguida, o que diz Gilmar.
 
Haddad: “Fora! Nem Bolsonaro nem Moro são dignos dos cargos que ocupam.”
 
As acusações mútuas que se fizeram Moro e Bolsonaro são gravíssimas. Moro acusou o chefe de querer interferir politicamente nas investigações da PF. Bolsonaro acusou seu ministro de concordar com a troca do diretor-geral apenas depois de ele, Moro, ser indicado para uma vaga no STF. Como se vê, tudo muito "republicano".
 
Chama a atenção, entretanto, aquilo que eles admitiram de si mesmos. Moro negociou sua ida para o ministério em troca de uma pensão para a família caso viesse a faltar. O homem que ganhou salário de juiz por mais de vinte anos, não raro acima do teto constitucional, negociou uma pensão não prevista em lei. Quem pagaria? Como foi acertado esse arranjo? E os demais brasileiros que arriscam a vida diariamente?
 
Bolsonaro, por sua vez, disse que, de fato, queria nomear um diretor-geral com quem ele pudesse interagir diretamente. Assumiu também que determinou a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro, cidade em que atos suspeitos de seus filhos estão sendo investigados.
 
Em 2007, a PF deflagrou uma operação que tinha como alvo o irmão do presidente Lula, conhecido por Vavá. Tarso Genro, então ministro da Justiça, informou o presidente 11 horas antes da operação. Segundo relato do ministro, Lula teria dito que, se a operação respeitasse as formalidades legais, nada teria a dizer.
A operação ocorreu com estardalhaço, sem que o irmão tivesse conhecimento. Mais tarde, Vavá teria perguntado a Lula se ele tinha sido informado previamente da operação, ao que ele respondeu: "Quem foi informado foi o presidente da República, não seu irmão". Vavá faleceu sem que nada se provasse contra ele. Lula foi impedido de ir ao seu enterro.
 
Bolsonaro jamais entenderá a autonomia da PF, reclamada por Moro. Mas o próprio Moro, bem entendido, tampouco se preocupa em preservá-la. A troca de favores que teria sugerido ao presidente lembra mais uma disputa por poder do que uma visão de Estado. Uma vez no STF, a autonomia da PF não seria mais da sua conta.
Novamente, Moro deixou a admiração aos governos do PT nessa seara. Já na absurda sentença condenatória que tirou Lula da disputa presidencial que liderava, pavimentando a vitória daquele a quem serviria, ele declara que Lula foi o presidente que, como poucos, fortaleceu as instituições de combate à corrupção. Ontem, repetiu-se: os governos do PT garantiram a autonomia da PF, sem o que a Lava Jato não se realizaria.
O que Moro demora a conceder é que quem deu autonomia à PF o fez porque nada temia, e nem imaginava que instituições da República se deixassem instrumentalizar contra quem as fortaleceu.
Nem Bolsonaro nem Moro são dignos dos cargos que ocupam. Fora.
Fernando Haddad
(Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo.)

 
 
O Ministro Gilmar Mendes, do STF, também critica a mídia por criar falsos mitos como o ex-ministro da Justiça. Em seu Twitter faz uma crítica sutil ao ex-ministro Sergio Moro, mesmo sem citar seu nome.
 
Gilmar: Moro manipulou a justiça em nome de um projeto pessoal de poder.
 
Há muito critico a manipulação da Justiça, por meio da mídia e de outras instituições, para projetos pessoais de poder. A criação de heróis e de falsos mitos desenvolveu um ambiente de messianismo e intolerância. Autoritarismo judicial e político são ameaças irmãs à Constituição.
O combate à corrupção exige a ação de milhares de agentes públicos e o respeito à lei e não a atuação isolada de uma pessoa. Aprendamos: não há solução democrática fora da virtude política. Que a história recente nos reserve um reencontro com o Estado de Direito.

 
Brasil247
Folha
Brasil247 (b)

 
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