O ministro da Casa Civil, general (da reserva) Braga Netto, é o novo sanitarista político do governo Bolsonaro. Com o país imerso na crise sanitária provocada pelo coronavírus e na crise política provocada pela incompetência do capitão que ocupa a presidência da República, os militares chamaram o general. Ele é o mesmo que anos atrás foi o responsável pela intervenção no estado do Rio de Janeiro, a pedido do próprio governador Pezão que, em depoimento ao Daqui& Dali, considera-o "gente boa, competente e bom de diálogo!". Mas também não se pode esquecer que Braga Netto não fez grandes coisas durante a intervenção, além de aparentemente ter sido responsável pela paralisação das investigações para se chegar aos mandantes da morte de Marielle.
Braga Netto já tratou de reformular a estratégia do combate à pandemia em três eixos: 1) dissolver o conflito interno, 2) reconquistar o controle da comunicação sobre a administração da crise e 3) reduzir o poder de fogo de opositores – tratou de aproximar Bolsonaro dos partidos políticos (leia-se “Centrão”) com influência no Congresso. Além disso, anunciou, ontem mesmo, quarta-feira, dia 22, um plano de retomada da economia, chamado de Pró-Brasil. Um movimento que, na verdade, serviria para imobilizar Paulo Guedes, o ministro da Economia. Braga Netto (que conta com inteira confiança de Bolsonaro) já defendeu em reuniões internas que, para ganhar a guerra contra o coronavírus, será preciso, primeiro, vencer as batalhas dentro do próprio governo. Em função disso, tratou de criar o gabinete de crise para acabar com o que chamava de “disse-me-disse’’.
Ele assumiu a Casa Civil em fevereiro, tornando-se o nono militar no primeiro escalão e o primeiro fardado na função, desde a ditadura militar (o último tinha sido o general Golbery do Couto e Silva, um dos ideólogos do regime e comandante do Gabinete Civil, que tinha as mesmas atribuições). Braga Netto foi observador das Nações Unidas no Timor Leste e adido na Polônia e nos Estados Unidos. Como interventor no Rio de Janeiro em 2018, teve atuação marcada pela discrição. Ele ganha cada vez mais espaço no governo. Atuou diretamente na crise entre Mandetta (que era o ministro da Saúde) e Bolsonaro. Desistiu depois que Mandetta criticou Bolsonaro em entrevista na Globo. Passou a dedicar-se mais à guerra da comunicação, levando para o Planalto o controle sobre a divulgação das ações do governo. Na coletivas, era quem falava em nome do governo e chegou a impedir que Mandetta respondesse sobre seu futuro quando foi questionado se ficaria no cargo. Depois da queda de Mandetta, aproveitou para mudar de vez a divulgação das informações oficiais. Ele já teria dito que pretende conter o que chama de "contágio’’ da crise dentro do governo e que, agora, está na fase de "tratamento" interno. Por sua ordem, o foco das entrevistas passaria a ser positivo, como já teria sido nessa quarta, dia 22, com o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, sem a presença dos técnicos da pasta.
Outro ponto importante na comunicação foi afastar a tensão interna chamada de “gabinete do ódio”, associado ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), Filho do presidente. Braga Netto convenceu Bolsonaro de que era preciso tornar os canais de informações propositivos e que não fossem usados para ataques a adversários. Usou como exemplo o vídeo produzido pela Secom (Secretaria de Comunicação) no início da crise. No material, o Planalto pede o fim do isolamento, enquanto Bolsonaro incentiva protestos anticonfinamento. Após a publicação do vídeo, a Secom divulgou nota afirmando que o material era “em caráter experimental” e que não passou pelo “crivo” do governo – como se isso fosse justificativa que se preze...
Braga Netto decidiu abrir espaço para entrevistas controladas em emissoras e veículos que apoiam o governo. Isso irritou o Filho do presidente e a área ideológica do governo, que viram no ministro a personificação de um ex-ministro militar do governo crítico às ações de Carlos: o general Carlos Alberto Santos Cruz. Braga Netto passou a exercer de fato a coordenação entre as pastas, o que foi uma demanda de Bolsonaro, que entende a Casa Civil como ponto de interlocução entre os ministérios.
O militar passou a cobrar planejamento, cronograma e ação, cobrou Onyx sobre os problemas enfrentados no cadastramento da população para o pagamento dos R$ 600 e pediu resultados. A ideia do plano de recuperação da economia em curto prazo também foi uma demanda do general. Além disso, em jogada para ampliar o apoio político, Braga Netto sinalizou aos líderes do Centrão que vai atender os pedidos do bloco e colocou cargos à disposição deles.
Definitivamente, Braga Netto está no comando. E se a oposição não agir rápido, não haverá mais Bolsonaro para ser cassado. Quem sobreviver verá.