Dom Walmor Oliveira de Azevedo, de 65 anos, é o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ele considera preocupante o comportamento do presidente Jair Bolsonaro na crise do coronavírus e diz que a instabilidade política prejudica a resposta do país à pandemia. Em outras palavras, considera Bolsonaro um maluco que está atrapalhando o combate ao coronavírus (Covid-19).
A CNBB foi uma das entidades que assinaram uma carta, divulgada logo depois de Bolsonaro dizer na TV que o coronavírus não passa de um “resfriadinho”. A carta acusa o presidente (!) do Brasil de ameaçar a saúde pública com uma “campanha de desinformação”. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entre outras, também subscreveram essa manifestação.
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CARTA CRÍTICA AO PRESIDENTE, ESCRITA COM OAB E ABI
A sociedade civil tem o dever e a responsabilidade de dirigir-se ao governo federal, apresentar ponderações, advertir. A democracia se fortalece com a participação. Quando as entidades signatárias da carta e tantas outras se manifestam, buscam colaborar. A CNBB dialoga permanentemente com instituições da sociedade civil, inclusive com as quais tem discordâncias em muitos aspectos, pois sabe que o diálogo é caminho para amadurecimentos. Todas as pessoas e instâncias da sociedade civil devem cultivar a capacidade para humilde escuta. É processo enriquecedor. Pelo diálogo, descobrimos convergências, nascem manifestações de entendimentos. Não embates com o governo, ou mesmo ação ideológica, com interesses políticos partidários. A CNBB busca colaborar com o Brasil e ajudar aqueles que exercem o poder. Isto requer coragem para manifestar discordâncias.
CRISE POLÍTICA SOMADA À CRISE SANITÁRIA NO PAÍS As turbulências políticas, com seus desdobramentos econômicos, desestabilizam o país, geram imprevisibilidade. Vivemos em uma sociedade polarizada, em que as diferenças, lamentavelmente, motivam inimizades. Sem o mínimo de entendimento, a democracia se enfraquece, pois os próprios Poderes começam a ser questionados. Com a democracia enfraquecida, perde-se o qualificado exercício da cidadania. Em vez de haver união pelo bem comum, impera o egoísmo, fechamentos ao redor das próprias convicções. E a população sofre.
RISCOS EM POSICIONAMENTO OPOSICIONISTA A CNBB está ciente das muitas incompreensões que decorrem de uma sociedade polarizada. Mas permanece firme, ao lado dos mais pobres, manifestando-se de modo independente das convicções ideológicas ou político-partidárias.
DESINFORMAÇÃO E NOTÍCIAS FALSAS NA CRISE Na chamada sociedade da informação, as fake news são itinerário para a morte. Veja o exemplo desta pandemia. As falsas notícias que relativizam a gravidade da situação induzem pessoas a não se precaver e, com isso, estarem mais vulneráveis ao contágio. A Igreja Católica tem oferecido formação para agentes de pastoral que se dedicam à comunicação. O fenômeno exige mobilização de diferentes instâncias da sociedade, desde as famílias às escolas. Superar esse mal exige qualificada capacitação humanística. Para o cristão, é ainda mais grave partilhar fake news. Jesus Cristo é a verdade, palavra de Deus. Quem se dedica à mentira se opõe a Jesus. Nesse sentido, a relação da igreja com as entidades científicas é de respeito e colaboração. A ciência é dom de Deus para a humanidade. Mas, é importante ressaltar, nem todas as respostas podem ser encontradas pelo pensamento racional.
PÁSCOA SOB PANDEMIA Certamente será a mais diferente Páscoa que vivi. Mas a vida tem seus mistérios e esta Semana Santa não será menos rica em espiritualidade.
Walmor Oliveira de Azevedo, 65 Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte desde 2004 e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) desde maio de 2019. Nascido em Côcos (BA), foi professor universitário e tem doutorado em teologia bíblica pela Pontífícia Universidade Gregoriana, de Roma.