A história completa – se podemos dizer assim – tem várias etapas. Começando por Bolsonaro, todos sabem que ele não tem papas (nem pastores...) na língua. Despeja imediatamente qualquer uma das bobagens que circulam por sua cabeça - e parece que o vazio é imenso...
Ele agora está em intensa cruzada em defesa da Hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus (COVID-19). Ok. Aparentemente ele se diplomou em medicina na Academia Militar da Agulhas Negras. Em princípio, poderia até ter razão. Mas, como se trata de Bolsonaro, temos que prever que nada é racional. Através do Twitter, ele diz: “há 40 dias venho falando do uso da Hidroxicloroquina no tratamento do COVID-19. Sempre busquei tratar da vida das pessoas em 1° lugar, mas também se preocupando em preservar empregos. Fiz, ao longo desse tempo, contato com dezenas médicos e chefes de estados de outros países”. E acrescenta que “cada vez mais o uso da Cloroquina se apresenta como algo eficaz”, que “dois renomados médicos no Brasil se recusaram a divulgar o que os curou da COVID-19. Seriam questões políticas, já que um pertence a equipe do Governador de SP?” Tcham! Tcham! Tcham!
Nenhum suspense. Bolsonaro certamente se refere ao infectologista David Uip, coordenador de crise do coronavírus no Estado de São Paulo, e ao cardiologista Roberto Kalil. Segundo Bolsonaro, eles teriam se curado da infecção com o uso da cloroquina, mas se recusariam a revelar. E vai além em um terceiro tweet: “Acredito que eles falem brevemente, pois esse segredo não combina com o Juramento de Hipócrates que fizeram. Que Deus ilumine esses dois profissionais, de modo que revelem para o mundo que existe um promissor remédio no Brasil”.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) os estudos disponíveis acerca da eficácia desses medicamentos ainda não demonstraram eficácia de forma conclusiva. Seu uso foi permitido apenas nos casos graves de forma experimental. Ontem, Luiz Henrique Mandetta - que afinal de contas, além de médico, é o ministro da Saúde - afirmou que ainda está em estudo a autorização do uso da hidroxicloroquina e da cloroquina para pacientes com quadros leves da doença provocada pelo coronavírus.
Até o jornal Financial Times, britânico, traz hoje uma longa reportagem sobre os conflitos de Bolsonaro com os governadores e também com o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Diz o jornal que “o principal conflito entre o líder populista e os demais políticos é em relação a se a resposta ao coronavírus deve ou não ser dada com quarentena”.
Mandetta quase foi demitido por Bolsonaro na segunda-feira, dia 6, mas, segundo alguns analistas, ele sobreviveu apenas por causa de uma intervenção de última hora da influente facção militar do gabinete do presidente, principalmente seu chefe de gabinete, general Walter Braga Netto.
Grande parte do furor em torno de Mandetta parece resultar de sua popularidade. Em uma pesquisa divulgada no domingo, 76% dos entrevistados disseram que seu ministério estava fazendo um trabalho "bom ou ótimo". Bolsonaro, por outro lado, tem um índice de aprovação de cerca de 33%.
Pela avaliação aqui do D&D, Bolsonaro é 100% dispensável. (enquanto isso, o mapa do coronavírus no Brasil assusta cada vez mais...)