Diante do avanço da pandemia em nosso país, a vida do brasileiro vai depender cada vez mais do afastamento de Bolsonaro da presidência. No entanto, não é essa a vontade de 59% dos brasileiros que rejeitam a sua renúncia, conforme informação do Datafolha.
Claro que 37% já defendem o seu afastamento, pois têm consciência do perigo real que ele representa para a vida de todos. Mas é extremamente perigoso para o país vermos a mentalidade da maioria ser formada por meio da chantagem econômica do presidente, que impõe aos mais pobres uma situação de fome e de desespero para em seguida se apresentar como o seu “salvador”, defendendo a volta ao trabalho, contra o correto isolamento social determinado pelo seu ministro da Saúde.
O enfrentamento consequente da pandemia, como mostram exemplos de outros países não aproveitados pelo Brasil, exige a ação forte de um governo coeso e unido à sociedade. Somente assim se pode tomar a tempo as medidas vigorosas necessárias para o enfrentamento eficaz desse inimigo poderoso que não respeita fronteira nacional, classe social nem de credo religioso.
Mas com a sua atitude irresponsável e criminosa Bolsonaro acabou ficando sozinho no mundo. Até o tresloucado Trump, seu ídolo, já recuou da ideia de que a “economia não pode parar” e adotou o isolamento social. Inclusive o ditador das Filipinas, Duterte, que chegou a ameaçar de morte quem desobedecesse a quarentena. Bolsonaro está na contramão de tudo o que o mundo pensa e faz contra a pandemia.
A solução paliativa dos militares para controlar Bolsonaro sem afastá-lo do cargo de presidente, que vem sendo chamada de “golpe branco”, obviamente não vai dar certo, como o próprio faz questão de demonstrar diariamente. E esse golpe meia-boca vai perder qualquer eficácia possível depois do apoio majoritário de Bolsonaro revelado pelo DataFolha. Com essa pesquisa na mão, o capitão vai fazer o general Braga de refém político. Assim fortalecido e como se estivesse reassumindo seus plenos poderes, não nos espantemos se Bolsonaro finalmente demitir Mandetta, ministro que lhe faz sombra.
Fato inegável é que a tática de Bolsonaro de deixar o povo com fome e inseguro - e com isso empurrá-lo para garantir o seu “ganha-pão” - deu certo. Contudo, como o coronavírus não dá a mínima para política, a pandemia continuará se disseminando e matando cada vez mais brasileiros, especialmente nessa situação de caos sociais, meias-medidas e governo dividido.
O governo de São Paulo já projetou 220 mil casos e, sem esperar o inoperante governo federal, já pensa num empréstimo de 100 milhões de dólares ao Banco Mundial, para ampliar o número de leitos de UTIs e comprar respiradores. O Consócio do Nordeste está indo na mesma direção. Ou seja, enquanto o general presidente “operacional” patina, o presidente tresloucado sabota, o posto Ipiranga usa a pandemia para salvar pela undécima vez os bancos, os estados assumem a tarefa que tem de ser feita com eficiência e presteza, de acordo com as orientações da OMS.
O Datafolha mostra um Brasil profundamente dividido em relação à permanência de Bolsonaro na presidência, mas é uma relação de forças que tende a não ser tão permanente como parece. Muitos dos que se dizem contrários à sua renúncia, por não conseguirem ver ou perceber os efeitos mortais da pandemia, também concordam com o isolamento social de que Bolsonaro é totalmente contra.
Da parte do PT e demais esquerdas, penso que devemos intensificar a nossa solidariedade social e defender a orientação do isolamento social com garantia de emprego, auxílio-emergência e segurança alimentar para todos e linhas de crédito para todas as empresas poderem garantir essas condições aos seus trabalhadores – e não a partir de 360 mil reais, como determinou Guedes.
Para enfrentarmos a guerra contra o coronavírus considero essencial a defesa do afastamento imediato de Bolsonaro com o restabelecimento das garantias do Estado democrático de direito e o fim do entulho antidemocrático criado por esse fascista na presidência. Não podemos admitir igualmente a existência de um governo militar “operacional” criado nas sombras, agindo acima de todos e sem nenhum respaldo constitucional.
Está claro que as armas do neoliberalismo, com o seu “Estado-mínimo”, são totalmente incapazes de derrotar a pandemia. O que vemos em meio à crise absoluta da ordem mundial é o destaque da China, da Rússia e de Cuba, três países que souberam enfrentar a pandemia e ajudar os demais, porque têm Estados fortes. O papel do Estado regulador e ativo na economia e nos direitos sociais, como sempre defendemos, ressurge na crise, adquirindo rápida legitimidade social.
Por isso gritamos e agimos: "Pela Vida, Fora Bolsonaro!" conscientes de que com ele na presidência da República nossa vida não estará garantida e somente com o seu afastamento do cargo é que podemos todos derrotar o coronavírus e sobrevivermos para reconstruir o Brasil com base em um novo pacto nacional.
Val Carvalho