29/03/2020 às 23h11min - Atualizada em 29/03/2020 às 23h11min

BOLSONARO FAZ APOSTA ARRISCADA

ESTÁ USANDO O VÍRUS PARA SEGURAR O ELEITOR


Ninguém duvide. O que Bolsonaro mais faz no momento é tentar dar a volta por cima diante do choque coronavírus. E apesar dos pesares está fazendo isso com habilidade. Até o início da pandemia ele vinha se preparando com certa tranquilidade para o enfrentamento eleitoral deste ano, quando soltaria caminhões de dinheiro para eleger uma grande maioria de aliados para os cargos de prefeitos e vereadores. Seria a partir daí - e contando com alguma prostração da oposição - que poderia se fortalecer para chegar à reeleição em 2022. Tudo planava em céus de brigadeiro (ou de voo livre), até que... maldita sopa de morcego de Wuhan! Em poucos dias o coronavírus ganhou fama internacional! E veio bater asas exatamente nos sonhos de Bolsonaro – que logo se transformariam em pesadelos que nem Freud, nem Jung nem o analista da minha prima seriam capazes de interpretar.

Bom, estamos vendo no que deu. O vírus, que atravessou China, Itália, Milão, Trump, Nova York, resolveu marcar presença em ares brasileiros, ameaçando diretamente as ambições de Bolsonaro. Rapidamente ele sacou o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é médico ortopedista e também político – deputado federal. Pronto, explica, aí, Mandetta, mostra a solução! Mandetta misturou o médico com o político, balançou pra lá, pra cá, falou em isolamento vertical, deu a deixa para Bolsonaro deitar e rolar verticalmente e horizontalmente. A questão é que Bolsonaro começou a perceber que estava perdendo o protagonismo para um bando de governadores que defendiam paralização total do país, quarentena geral, um golpe profundo em nossa economia, atingindo principalmente os mais pobres, sem salários ou qualquer outro recurso – que, em troca, poderiam continuar vivos...

Na contramão das recomendações das entidades de saúde para conter a pandemia do coronavírus, Bolsonaro pediu o fim da quarentena. O presidente começou a defender a adoção do isolamento vertical: somente o grupo de risco - idosos e portadores de comorbidades (ocorrência de duas ou mais doenças ao mesmo tempo) - deveria permanecer confinado. Segundo o Bolso, a medida ainda não teria sido totalmente decidida e o martelo deveria ser batido em reunião com o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas enganou-se: o seu ministro da Saúde sentiu melhor a temperatura política e bandeou-se para o lado dos governadores. Passou a reiterar a importância da permanência dos brasileiros nas suas casas para conter a disseminação do novo coronavírus e, portanto, salvar vidas.

Bolsonaro sentiu-se inteiramente só, parecia até que era ele o vírus a ser isolado. Mas não se deu por vencido. O seu público preferencial, de baixa renda e desorganizado, povão, estava inteiramente desamparado. Mais do que nunca estaria ao Deus dará. E se tivesse que fazer quarentena não teria como fazer seus biscates, fazer algum comércio, ganhar um troco salvador, pode até chamar de esmola. Foi para esse público que Bolsonaro partiu com a cara e a coragem. Neste domingo, 29, imagine!, Bolsonaro decidiu contrariar todas as recomendações sanitárias de quarentena e partiu para um passeio em áreas populares da região metropolitana de Brasília, particularmente em Ceilândia, Sobradinho e Taguatinga. Apertou muitas mãos, acenou, conversou com populares e deixou que se formasse alguma aglomeração em torno de si. Rapidamente, formou-se o ambiente propício para muitos cumprimentos e, principalmente, para todos gravarem o momento com os respectivos "telemóveis". Foi o troco que Bolsonaro deu aos governadores. Mas... e se algum dos seus seguidores morrer - o que é bastante provável -, Bolsonaro, qual o voto vai pagar por isso?
HG
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