Na contramão dos líderes mundiais, o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) insiste em minimizar a pandemia do coronavírus e aprova uma campanha milionária para acabar com o isolamento social e, segundo especialistas, de uma maneira irresponsável, chamar o povo para voltar ao trabalho. A campanha irresponsável “O Brasil Não Pode Parar” já invadiu a internet e tomou as ruas de algumas cidades brasileiras. Em carreatas, com os carros cheios de passageiros, os seguidores de Bolsonaro descumprem os decretos dos governadores e já programaram novas carreatas nesse fim de semana.
Na Bahia, a reação foi rápida. O governador Rui Costa (PT-BA) mandou a Secretaria de Segurança Pública proibir manifestações e carreatas que pedem a volta ao trabalho mesmo com a contaminação do coronavírus já tendo causado a morte de 77 pessoas e contaminado 2.915 no Brasil, segundo os últimos dados divulgados nessa quinta-feira, dia 27. Pelas redes sociais, o governador baiano criticou os empresários irresponsáveis que só pensam em benefício próprio.
"A Secretaria de Segurança Pública não permitirá manifestações de quem só pensa no lucro e quer matar pessoas. Vi cards das carreatas. Para serem honestas, essas pessoas, ao invés de propor carreata, deveriam deixar o carro na garantem e pegar o buzu, o metrô e a van. Propor carreata com carro de luxo de R$ 200 mil é fácil, desde que o povo não esteja correndo o risco de vida. Determinei que a SSP aja com rigor. Estamos em estado de calamidade pública. Não vamos permitir que aquelas pessoas que pensam somente na máquina registradora incentivem a morte e o ódio das pessoas", afirmou Rui Costa. Ele também mandou recado ao governo Bolsonaro. "O Brasil precisa de união e de que o governo federal coordene de forma serena e harmoniosa os estados e municípios. Chega de briga, ódio e xingamento. Isso não vai salvar vidas humanas. Basta! Ninguém aguenta mais isso! O povo quer que os políticos coloquem a politicagem de lado e cuidem da nação, do país e da vida humana", afirmou.
A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) também criticou a campanha do governo federal e ameaça ir à Justiça para responsabilizar o presidente Bolsonaro pelas consequências da mudança no isolamento social. Em carta, os prefeitos questionam se o governo federal vai assumir as responsabilidades que cabem aos governos locais, como o atendimento direto à população.
"A depender da resposta do governo federal ao presente ofício - pois o posicionamento até o momento tem sido dúbio e gerado insegurança na população -, não restará outra alternativa aos prefeitos que não seja recorrer à Justiça brasileira com pedido de transferência ao presidente da República das responsabilidades cíveis e criminais pelas ações locais de saúde e suas consequências", diz o documento, assinado pelo presidente da FNP e prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB).
O PDT Nacional vai entrar na Justiça para impedir “O Brasil Não Pode Parar” que o ex-ministro Ciro Gomes chamou de uma “aberração”. “É o ÚNICO governante do MUNDO a fazer isto”, reagiu Ciro com letras maiúsculas. O outro que fez, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, já admitiu que a campanha #MilãoNãoPara foi um erro: "Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus".
O ex-ministro da Saúde do governo da ex-presidenta Dilma Roussef, deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), já protocolou, nesta sexta-feira, 27 de março, uma ação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para uma análise e suspensão da campanha do governo Bolsonaro que defende o isolamento vertical para conter o coronavírus. Padilha justifica que a propaganda “afronta dispositivos legais”. “Implicará em um impacto imensurável para a vida de milhões de brasileiros, além de afrontar a determinação da Organização Mundial de Saúde, dos maiores especialistas do mundo e brasileiros, do próprio ministério da Saúde, dos Estados e Municípios”, ressaltou o médico Alexandre Padilha. “O ato de ficar em casa é a melhor forma do poder público tentar controlar a propagação do coronavírus”, reafirmou o deputado que pede a imediata suspensão da campanha que teria custado R$ 4,8 milhões.
Os internautas brasileiros também discordaram da campanha que fala para a população voltar a trabalhar e discordaram dos partidários de Bolsonaro que saíram às ruas em carreatas. No Twitter, a hastag #Carreata chegou ao topo rapidamente. Em resposta ao bolsonaristas, os internautas colocaram as imagens dos caminhões do exército italiano levando os caixões fechados das vítimas do coronavírus. Os números da tragédia na Itália não param de subir e assustar o mundo. Nesta sexta-feira, 27, o país bateu um novo triste recorde mundial, 919 novas vítimas. As imagens do Papa Francisco, na vazia praça de São Pedro, no Vaticano, durante tradicional cerimônia da Igreja Católica, emocionaram o mundo e dividiram a preferência no Twitter com os internautas que não querem que o Brasil enfrente o mesmo drama da Itália. A hastag #PapaFrancisco também chegou aos trendings topics da rede social.
No fim da tarde dessa sexta-feira, os internautas responderam à campanha do governo para acabar com o isolamento social “O Brasil Não Pode Parar". A hastag #OBrasilTemQuePararBolsonaro já era o assunto mais comentado no Twitter. Uma das postagens tinha um vídeo mostrando como os moradores das ruas da Cidade Baixa, em Porto Alegre, receberam a carreata dos apoiadores de Bolsonaro.
