09/03/2020 às 07h06min - Atualizada em 09/03/2020 às 07h06min

​PUTIN DÁ UM DIRETO EM TRUMP

REDUZ O PREÇO DO PETRÓLEO PARA BRIGAR COM O XISTO AMERICANO

 
Às 10h16 da manhã de sexta-feira (dia 6) úmida e triste (6h16 da manhã em Brasília), o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, entrou na sede da OPEP no centro de Viena já sabendo que seria dada uma reviravolta no mundo: Putin iria virar de cabeça para baixo o mercado global de petróleo.
Qual era a informação bomba? A Rússia não estava disposta a reduzir ainda mais a produção de petróleo. Qual o efeito imediato? O preço do petróleo cairia, deixando os outros países produtores (OPEP+1, que por enquanto volta a ser apenas OPEP...) indignados com a óbvia queda no faturamento.
 
A justificativa russa é simples. A ampliação dos efeitos negativos do coronavírus joga para baixo a economia da China e de outros países da Ásia, da Europa, dos Estados Unidos, de todo o mundo - afinal, a queda no consumo do petróleo é um efeito óbvio. Como é óbvio também que isso só faz favorecer o xisto americano, que tem um custo de produção menor. Ou a Rússia tratava de reduzir preços, ou seria engolida pelo xisto americano. Foi o que fez Putin, comprando briga com toda a OPEP, principalmente com a Arábia Saudita, que promete vingança.
 
O Kremlin explica que entendeu que sustentar os preços altos enquanto o coronavírus devasta a demanda de energia seria um presente para a indústria de xisto dos Estados Unidos. Alega ainda que os frackers (injeção de água a alta pressão em um poço, a fim de abrir fissuras subterrâneas para a extração de gás natural ou óleo) adicionaram milhões de barris de petróleo ao mercado global, enquanto as empresas russas mantiveram os poços ociosos. Agora era hora de apertar os americanos.
 
Após cinco horas de negociação educada, mas infrutífera, em que a Rússia definiu claramente sua estratégia, as negociações fracassaram. Os preços do petróleo caíram mais de 10%. Não foram apenas os comerciantes que ficaram surpresos: os ministros ficaram tão chocados que não sabiam o que dizer, de acordo com uma pessoa presente no encontro. De repente, a reunião teve a atmosfera de um velório, disse outro.
 
Por mais de três anos, Putin manteve a Rússia dentro da coalizão da OPEP+1, aliada à Arábia Saudita e aos outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, para conter a produção de petróleo e apoiar os preços. Além de ajudar o tesouro da Rússia - as exportações de energia são a maior fonte de receita do Estado... - a aliança trouxe ganhos de política externa, criando um vínculo com o novo líder da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
 
Mas o acordo da OPEP+1 também ajudou a indústria de xisto dos Estados Unidos e isso deixou a Rússia cada vez mais irritada, viu que a disposição do governo Trump era de usar a energia como ferramenta política e econômica. Ficou especialmente irritado com o uso de sanções pelos EUA para impedir a conclusão de um oleoduto que liga os campos de gás da Sibéria à Alemanha, conhecido como Nord Stream 2. A Casa Branca também tem como alvo os negócios venezuelanos da produtora estatal de petróleo Rosneft da Rússia.
"O Kremlin decidiu sacrificar a OPEP+1 para barrar os produtores de xisto americanos e punir os EUA por mexer com o Nord Stream 2", disse Alexander Dynkin, presidente do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais em Moscou, um think tank estatal. "É claro que perturbar a Arábia Saudita pode ser uma coisa arriscada, mas esta é a estratégia da Rússia no momento - geometria flexível de interesses".
 
Aqui no Brasil, evidentemente, jorram preocupações. A Petrobras sai prejudicada e passa a energizar a sanha privatizadora de BolsonGuedes.


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