18/01/2020 às 07h27min - Atualizada em 18/01/2020 às 07h27min

​XÔ, DÓLAR!

PAÍSES DO BRICS QUEREM OUTRA MOEDA

 
Os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) querem reduzir a dependência com relação ao dólar americano, por isso procuram soluções para as suas transações comerciais. Natalia Stapran, diretora do Departamento da Cooperação Econômica Multilateral do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, disse (em entrevista ao Sputnik China) que a China vê com muito interesse as transações com seus parceiros do BRICS em moedas nacionais.
E os países-membros do BRICS já concordaram, em reunião em novembro, no Brasil, em desenvolver um sistema de pagamentos comum que seja alternativa ao SWIFT (em português, Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), para que seja possível mais tarde recorrer a suas moedas nacionais no comércio mútuo.
 
O valor das transações dos países do BRICS no comércio internacional cresceu 15 vezes nos últimos 15 anos, de US$ 26,5 bi para US$ 388 bi, representando 17% de todo o mercado mundial e captando mais de 20% do total do investimento estrangeiro direto mundial.
 
Dólar furado?
 
O uso do dólar americano no comércio mundial tem caído. Segundo Kirill Dmitriev, diretor do Fundo de Investimento Direto da Rússia (RFPI, na sigla em russo), nos últimos anos o volume das transações comerciais internacionais em dólar caiu de 92% para 50% (quase a metade). Enquanto isso, em rublos, cresceu de 3% para 14% (quase cinco vezes mais).
 
Os BRICS querem fugir do SWIFT, que praticamente monopoliza as transações interbancárias internacionais. Eles temem que o SWIFT, que está sob controle americano, possa ser usado como instrumento de pressão política. Há o exemplo da exclusão do Irã feita pelos Estados Unidos, o que provocou a queda do PIB, o aumento da inflação e a desvalorização da moeda iraniana.
Os Estados Unidos também ameaçam periodicamente excluir a Rússia do SWIFT. E a China anda preocupada. Se de início a China não mostrou grande pressa em se afastar do dólar e evoluir para modos de pagamentos alternativos, o conflito comercial com os Estados Unidos demonstrou o risco de a China depender do sistema financeiro americano, disse Natalia Stapran, que acrescentou que as transações em moeda nacional facilitariam as trocas comerciais.

"A questão tem sido discutida ativamente, mas com a China nem sempre é fácil debater isso", disse Stapran.
"A partir do momento em que o uso de moeda nacional passou a ser um meio de contornar as sanções impostas e que a China receou que pudesse vir a ser atingida por elas, os chineses passaram a interessar pela alternativa", acrescentou.
 
Desde 2015, a China tem um sistema próprio de pagamentos em yuans, o Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço (CIPS, na sigla em inglês), que já agrupa mais de 20 bancos locais e estrangeiros, oferecendo serviços de compensação e liquidação, pagamentos e transações internacionais em yuans. O sistema permite maior agilização das transações por independer de bancos correspondentes.
 
A Rússia também toma providências

O Banco Central da Rússia tem desenvolvido desde 2014 um sistema semelhante e alternativo ao SWIFT, para se precaver das ameaças americanas – é o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras, SPFS (na sigla em russo). E a Índia aparentemente pretende também desenvolver um sistema próprio de pagamentos.
 
Considerando que já há países com sistemas desenvolvidos ou em projeto, a última Cúpula dos BRICS, em Brasília, propôs unir esforços para ser criado um sistema alternativo e comum de pagamentos mútuos, afirmou à Sputnik Andrei Bokarev, diretor do Departamento das Relações Financeiras Internacionais do Ministério das Finanças da Rússia.
 
Segundo Bokarev, a proposta de um sistema privativo do BRICS passaria por introduzir mecanismos relacionados com a abertura de contas correspondentes dos bancos comerciais do quinteto. E nas operações deveriam ser usados da melhor forma os recursos privativos dos bancos centrais. Mas Bokarev alerta que o sucesso da implementação da medida não depende só das entidades reguladoras nacionais – é necessário igualmente um compromisso de todos os participantes, principalmente dos bancos e das empresas. Seria necessário agora determinar os parâmetros para a formação de um sistema de pagamentos e que estes sejam aceitos por todos os países que formam o BRICS, buscando criar um sistema análogo ao SWIFT. O ponto de partida poderia ser o SPFS russo, que pode ser estendido a todo o quinteto (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
 
"O fundamental para o sucesso do sistema seria a sua simplicidade. Quanto mais eficaz, maior seria a sua demanda. E, para isso, não basta o crescimento do volume comercial - é também necessária uma interconexão satisfatória", segundo Bokarev.
 
No nível bilateral Rússia–China, já foram dados passos importantes, tendo sido decidido criar sinergias entre os dois sistemas próprios já implementados. Os pagamentos entre ambos serão processados por "gateways" (conversores) de rede que não causariam grande incômodos. Aliás, nada impede estender o sistema aos outros 3 membros do BRICS.
 
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