06/01/2020 às 21h35min - Atualizada em 06/01/2020 às 21h35min

​IRÃ FICA IRADO.

E PEDE EXPLICAÇÕES AO BRASIL.


O Irã, naturalmente, quer saber exatamente o que o Governo do Brasil pensa sobre a agressão feita pelo governo Trump no Iraque, que acabou culminando na morte do general Qassem Soleimani, da Guarda Revolucionária do Irã, atingido por um míssil americano, cinco dias atrás.

O embaixador do Brasil no Irã, Rodrigo Azeredo, está de férias, e foi a encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, que representou o governo brasileiro na reunião no Ministério das Relações Exteriores iraniano. O teor da conversa não foi revelado. O Itamaraty informou que “a conversa, cujo teor é reservado e não será comentado, transcorreu com cordialidade, dentro da usual prática diplomática". Ou seja, cordialidade certamente passou ao largo.

O Itamaraty tinha divulgado uma nota, na última sexta-feira, condenando várias vezes o terrorismo e, sem citar nomes, deu a entender que, para o governo brasileiro, o general iraniano e a própria Guarda Revolucionária poderiam ser classificados como terroristas.
 
"Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos Estados Unidos nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo", diz um trecho do comunicado, intitulado "Acontecimentos no Iraque e luta contra o terrorismo". Parece nota em cima do muro, mas tratava-se de uma nota de não condenação do ato americano.

O governo afirma que "o Brasil está igualmente pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para evitar uma escalada de conflitos neste momento". Destaca, ainda, que o terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, "e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul".
Bolsonaro também deu declarações parecidas, e disse que o Brasil é "aliado de qualquer país no combate ao terrorismo".

A nota recebeu críticas de diplomatas brasileiros da ativa e aposentados, por avalizar o assassinato de um funcionário de um governo estrangeiro, o que é considerado um ato de guerra, e romper a tradição brasileira de considerar como terroristas as organizações dispostas em listas do Conselho de Segurança da ONU. Oficialmente, o Brasil só considera como terroristas os grupos al-Qaeda e Estado Islâmico, seguindo resoluções tomadas pelas Nações Unidas. O governo de Teerã também pediu esclarecimentos para representantes de outros países que se manifestaram sobre a questão. Por exemplo, a Alemanha e a Suíça, que representa os Estados Unidos no Irã.
 
Nesta segunda-feira, 6, uma  enorme multidão se reuniu para a cerimônia fúnebre de Soleimani em Teerã e pediu vingança contra os autores do seu assassinato. Foi o que se ouviu vindo da filha do militar assassinado, de altas autoridades e também de manifestações espontâneas da população iraniana. É claro que toda essa indignação que tomou conta do Irã espera que cada governo deixe bem claro se apoia ou condena o assassinato do general Soleimani feito pelo governo Trump. O Brasil precisa dizer com todas as letras se apoia ou condena. Não há condição de ficar em cima do muro.
 
Leia também no Globo.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »