O impacto da guerra na Ucrânia terá um profundo impacto na economia mundial, reduzindo as previsões de crescimento para 2022, além de atingir frontalmente o modo como a humanidade pensa e se relaciona. O pior para nós é que o Brasil, quem diria!, será um dos lanternas nas taxas de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) entre as principais economias do mundo. Apenas a África do Sul e a Rússia (país que vive uma ofensiva inédita de sanções...) terão um ano mais difícil que a economia brasileira entre os membros do G20.
Dados publicados nesta quinta-feira, 24, pela Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicam que o PIB mundial registrará uma expansão de 2,6%, e não mais de 3,6% como era esperado para 2022. E o Brasil terá uma expansão de apenas 1,3% neste ano – sendo que originalmente a previsão para nosso país era de 1,8%. O crescimento, segundo a ONU, será metade da média mundial, estimada em 2,6%. O Brasil também terá uma expansão muito inferior ao índice de crescimento das economias emergentes - de 3,7% - e ficará abaixo da média da América Latina (2,3%) e da América do Sul (2,3%). Entre os membros do G20, o desempenho brasileiro está entre os piores, com exceção da economia russa (queda de 7,3%) e da economia da África do Sul, com crescimento de 1,1%. O lugar do Brasil é compartilhado pelo Reino Unido, com crescimento também estimado em 1,3%. Eis a previsão de crescimento do PIB para os principais mercados mundiais em 2022:
China 4,8%
Arábia Saudita 4,8%
Índia 4,6%
Argentina 4,6%
Indonésia 3,4%
Austrália 3,3%
Canadá 3%
Turquia 2,5%
EUA 2,4%
França 2,4%
Japão 2%
Coreia 1,7%
Itália 1,6%
Alemanha 1,4%
México 1,3%
Reino Unido 1,3%
Brasil 1,3%
África do Sul 1,1%
Rússia -7,3%
Maior valorização entre as moedas de emergentes O impacto sobre as moedas também já está sendo sentido por conta da guerra. A ONU, por exemplo, destaca como o real foi a moeda que mais se valorizou entre os países emergentes, com alta de 10% desde janeiro. Ao avaliar a situação da América Latina, a entidade deixa claro que nem todos irão na mesma direção. De acordo com a ONU, os gastos de consumo no Brasil, Argentina e México ainda permanecem abaixo dos níveis pré-pandêmicos, enquanto o Chile e a Colômbia têm visto fortes recuperações.
A entidade também destaca como "Brasil, Argentina, Peru e Chile apresentaram importantes fluxos de investimentos, devido às profundas quedas em 2020, e se beneficiaram da forte recuperação dos mercados globais de commodities". "Mas o Brasil já esperava uma forte desaceleração (com crescimento negativo na segunda parte de 2021) devido ao aperto extremo da política monetária, e a Argentina deveria desacelerar, a partir de um ritmo muito rápido em 2021, sob o peso das pressões da dívida externa", avalia a agência.
"Atualmente, estima-se que enquanto os números do crescimento latino-americano diminuirão substancialmente em relação aos altos pontos atingidos durante a recuperação pandêmica, os exportadores de energia e commodities do grupo, que representa a maior parte da produção regional, ainda verão compensações de crescimento relativamente fortes", destaca a ONU.
Mundo desacelera por conta da guerra e a Rússia desaba No que se refere à média mundial, porém, a ONU anunciou uma revisão para baixo do crescimento para 2022, de 3,6% para 2,6% devido à guerra da Ucrânia e às mudanças nas políticas macroeconômicas feitas pelos países nos últimos meses.
Nos EUA, a taxa de crescimento será de 2,4%, abaixo dos 3% previstos antes da guerra. Na China, a taxa cai de 5,7% para 4,8%, além de uma queda de 6,7% para 4,6% na Índia. A maior queda, porém, ocorrerá na Rússia. A ONU prevê um encolhimento de mais de 7% do PIB diante das sanções internacionais e do envolvimento no conflito armado. "A guerra em curso na Ucrânia deverá reforçar a tendência de aperto monetário nos países avançados, seguindo movimentos similares que começaram no final de 2021 em vários países em desenvolvimento devido a pressões inflacionárias, com cortes de despesas também previstos nos próximos orçamentos", analisa a ONU.
A entidade se diz preocupada com uma combinação de enfraquecimento da demanda global, coordenação política insuficiente em nível internacional e elevados níveis de dívida da pandemia. Esses aspectos irão gerar ondas de choque financeiro que podem empurrar alguns países em desenvolvimento para uma espiral descendente de insolvência, recessão e desenvolvimento preso.
"Os efeitos econômicos da guerra da Ucrânia irão agravar a desaceleração econômica em curso no mundo inteiro e enfraquecer a recuperação da pandemia da COVID-19", disse a secretária-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan. "Muitos países em desenvolvimento têm lutado para ganhar tração econômica saindo da recessão da Covid-19 e agora enfrentam fortes ventos de proa da guerra. Quer isto leve ou não à agitação, uma profunda ansiedade social já está se espalhando", completa.
Na avaliação da entidade, mesmo sem interrupções do mercado financeiro de longo prazo, as economias em desenvolvimento enfrentarão "severas restrições ao crescimento". "Durante a pandemia, seus estoques de dívida pública e privada aumentaram. E as questões que recuam durante a pandemia, incluindo a alta alavancagem corporativa e o aumento da dívida das famílias nos países em desenvolvimento de renda média, ressurgirão à medida que as políticas se tornarem mais rígidas", alerta a ONU.
Inflação irá minar o crescimento Outra constatação da ONU é de que a guerra colocou mais pressão sobre os preços internacionais da energia e das commodities primárias, afetando os orçamentos domésticos e aumentando os custos de produção, enquanto as interrupções no comércio e os efeitos das sanções provavelmente terão um "efeito arrepiante" sobre os investimentos a longo prazo. O resultado deve ser uma desaceleração do crescimento mundial. "O aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis terá um efeito imediato sobre os mais vulneráveis nos países em desenvolvimento, resultando em fome e dificuldades para as famílias que gastam a maior parte de sua renda em alimentos", diz a entidade. "Mas a perda do poder aquisitivo e dos gastos reais acabará sendo sentida por todos. O perigo para muitos dos países em desenvolvimento que dependem fortemente da importação de alimentos e combustíveis é mais profundo à medida que preços mais altos ameaçam a subsistência, desencorajam o investimento e aumentam o espectro do aumento dos déficits comerciais", diz o relatório.
Em outras palavras: “Brasileiros, preparem-se para o pior!!!”