28/11/2021 às 11h27min - Atualizada em 28/11/2021 às 11h27min

E AGORA?

O AGORA SÃO PAULO NÃO VOLTA...

 
Agora não teremos mais o jornal popular Agora São Paulo, o que pode representar um ponto final na era da imprensa em São Paulo. Foi com uma nota curta na coluna Painel S.A., publicada nessa quarta-feira, 24, que o grupo comunicou o fim do jornal Agora São Paulo. Seu último número impresso circula neste domingo, 28. O site, que apenas reproduzia o conteúdo do papel, fica congelado. Aos leitores do diário será oferecida a possibilidade de transferir a assinatura para a Folha. Aos jornalistas da casa, é dada a opção de mudar para a Redação da irmã maior, a ‘folhona’. "A decisão do Grupo Folha seguiu critérios econômicos baseados em dados de circulação e publicidade", uma decisão que aparenta ser óbvia.
 
O Agora tinha 32.517 assinantes em outubro, 36% menos do que o registrado há dois anos, segundo o IVC, conforme escreveu o concorrente Estadão. Foi criado em 1999 para substituir a Folha da Tarde, que circulava desde 1924, prossegue o texto. "Portanto, o fim da publicação encerra uma história que se iniciou há quase um século", conclui, em tom adequado à decisão.
 
É o fim também de uma longa trajetória de periódicos populares em São Paulo. Notícias Populares, Jornal da Tarde, Diário Popular, depois Diário de São Paulo, Folha da Tarde, depois Agora. Fala-se que o esportivo Lance! talvez também entre na lista. Aqueles tempos de esticar os olhos para ver nas bancas alguma manchete curiosa, capa criativa, provocações futebolísticas e corpos femininos, aqueles tempos já passaram e não têm volta. Os tempos são outros, agora são digitais.
Eram títulos que concorriam, mas em pistas diferentes. Eram alternativas, sérias ou não, aos jornalões da cidade, Folha e Estadão. Caíram, um a um, por uma razão principal: a falta de faturamento.
 
O Agora durou mais. Seu mérito foi envelhecer junto com seu público, orientando os esforços para o assunto que mais importava e vendia exemplares: aposentadoria. Nos últimos anos, era muito raro ver uma manchete que não trouxesse esse assunto. O Agora, no entanto, acaba antes de seu público. A explicação fácil é a internet. O modelo de jornal impresso não se sustenta, e o desta Folha, se a leitura ainda é feita com o papel sujando as mãos, também parece com os dias contados. É um fenômeno mundial, dramático em países de grande população leitora. Impressiona a quantidade de pequenos diários, alguns centenários, que fecham nos EUA, provocando os chamados desertos de notícias. As consequências para essas regiões são graves, indo de um menor controle da atuação dos agentes públicos locais à maior disseminação de notícias falsas. Estudos sobre o problema vêm sendo realizados. Até redes sociais se mostram preocupadas, bancando projetos de abrandamento.
Algo parecido ocorre regionalmente no Brasil. Muitos jornais do interior já fecharam, e transformar-se em site não é opção para muitos. Com o fim do ‘Agora, São Paulo’ vê-se alargada sua faixa de semiárido, que inclui partes da Folha.
Além de aproveitar a expertise em aposentadoria e economia popular do Agora, a Folha absorvia diversos tipos de conteúdo – e precisará de disciplina para manter as rodas girando, pelo menos as que trazem audiência para seu site.
 
Nada disso seria um problema se a transição do impresso para o eletrônico fosse um caminho tranquilo, uma mudança de cultura a ser apreendida pela Redação e disposta em etapas para o público. Só que ela está mais para revolução, das sangrentas, com desafios diferentes a cada esquina. Conteúdo brota nas telas a partir de gente sem qualificação jornalística assim como de pessoal bem preparado e a soldo de agências de publicidade, empresas, bancos de investimentos e outros. Redes sociais mudam as regras do jogo constantemente. Departamentos de TI, fundamentais nesses novos ambientes, consomem orçamentos que já são limitados. A lista só faz crescer.

Nessa grande confusão, uma das poucas vantagens de jornais como a Folha é ter uma marca reconhecida, baseada em um modo profissional de fazer jornalismo. O risco é ver tudo isso se perder junto com o obrigatório descarte do supérfluo, como um dia o impresso será tratado. Ampliando a metáfora aquática, quando jogarmos o bebê fora junto com a água da bacia. Não volta.
 
A partir do texto da Folha, na íntegra aqui. O que se pode acrescentar? Talvez lembrar como era a máquina de impressão em tipos móveis (ou imprensa...) inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, no século XV...
 
Leia mais na Folha.

 
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