19/10/2021 às 07h23min - Atualizada em 19/10/2021 às 07h23min

​CHINA CORTA NA CARNE

E BRASIL SOFRE...


 
 
O crescimento da China ficou mais lento. Cresceu apenas 4,9% no trimestre de julho a setembro. E o Brasil deve ser um dos principais prejudicados por causa disso.
 
Os sinais de desaceleração da economia chinesa no terceiro trimestre são uma péssima notícia para países dependentes de commodities (os produtos básicos), como o Brasil.
É verdade que, pelo tamanho, a China deve ter o seu crescimento global afetado como um todo.  Mas para a economia brasileira será um grande prejuízo, deve ser uma das maiores prejudicadas, com a consolidação de um cenário de desempenho mais fraco do país asiático nos próximos anos.
 
A China foi afetada por uma crise de energia, interrupções nas cadeias de abastecimento, surtos da variante delta do coronavírus e o agravamento das dívidas do setor imobiliário. Isso fez com que a economia chinesa crescesse em ritmo mais lento no terceiro trimestre.
Dados divulgados nessa segunda-feira, 18, mostram que o PIB (Produto Interno Bruto) chinês cresceu 4,9% de julho a setembro, o ritmo mais fraco desde o terceiro trimestre de 2020 e desacelerando 7,9% em relação ao segundo trimestre.
 
O resultado demonstrou uma desaceleração em relação à expansão de 18,3% no primeiro trimestre, quando a taxa de crescimento anual foi amplamente favorecida pela base fraca de comparação com a queda induzida pela pandemia no início de 2020.
Nas contas dos economistas do Itaú Unibanco, para cada 1 ponto percentual de queda no PIB da China, o PIB brasileiro tem uma retração de 0,3 p.p. A projeção atual do banco é que a economia chinesa cresça 5,1% no ano que vem (a estimativa anterior era de 5,8%). Para o Brasil, a expectativa é de crescimento de 0,5% em 2022...
"Portanto, se a desaceleração persistir e a China crescer 4% em 2022, o Brasil, vai crescer apenas 0,2%", resume Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco. Ele lembra que países exportadores de commodities, como o Brasil, tendem a ter um impacto grande pela desaceleração chinesa.
 
A economista Laura Pitta acrescenta que pesou sobre a China o impacto nos serviços da variante delta, que se espalhou rapidamente pelo país.
"Como a China tem uma política de tolerância zero para novos casos de Covid-19, o governo adotou medidas de restrições que tiveram impacto na atividade, enquanto outros países caminhavam para uma situação de convivência com o vírus" (ocorreram 96.546 infecções e 4.636 mortes relacionadas ao coronavírus desde o início da pandemia, enquanto no Brasil...).
Ela lembra que o processo de desaceleração do país asiático é estrutural, e que as taxas de crescimento anuais na casa de 10%, como ocorreu nos anos 2000, se deram em um contexto diferente, por se tratar de um período de forte urbanização do país.
"Hoje, a perspectiva de crescimento é de convergência para patamares perto do de países desenvolvidos. É difícil imaginar a China crescendo mais do que 7% ou 8% daqui para frente."
Os efeitos globais da perda de fôlego na China já estão aparecendo e vão continuar mais fortes, avalia Roberto Dumas Damas, professor de economia do INSPER (instituição sem fins lucrativos de ensino superior e pesquisa, referência em Administração, Economia, Direito e Engenharia). Ele lembra que pesaram sobre o desempenho chinês os projetos de mudança da matriz energética do país, para alternativas mais limpas, o que fez com que o governo desativasse minas de carvão, gerando uma crise de energia agora.
"A crise não é só na China, mas ela veio piorar os planos de recuperação do Brasil, com aumento de preços de defensivos agrícolas chineses, o que vai pesar nos preços dos alimentos no Brasil lá na frente, além da diminuição nas exportações de minério de ferro."
Com uma entrada menor de dólares no Brasil, o câmbio também deve continuar pressionado, diz Dumas.
"Na saída do pior momento da pandemia, quando a economia brasileira mais precisava de tração, estamos vendo esse impulso cair, e o Banco Central deve continuar tendo de subir juros para combater a inflação — são vários fatores contrários ao nosso crescimento no ano que vem."
"O quarto trimestre não deve ser bom lá também, e a recuperação do mundo não vai como se esperava. E no Brasil, estamos cada vez mais próximos de uma estagflação", avalia o professor.
 
Leia também na Folha.

Nota. 肉在哪裡? Ròu zài nǎlǐ? significa "Cadê a carne?"
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