04/06/2021 às 16h31min - Atualizada em 04/06/2021 às 16h31min

​CUBA AVANÇANDO SEMPRE

“A DITADURA DO ALGORITMO” É EXEMPLO


Quem observa atentamente os processos políticos na América Latina sabe que muitas coisas estão mudando. Mas todos nós também sabemos que há uma coisa que continua igual: Cuba sempre nos surpreende.

Apesar do bloqueio criminoso, do assédio permanente, da sufocação avassaladora e dos mais variados ataques que esta pequena ilha-nação suportou durante décadas, uma energia misteriosa, que parece ser o seu inesgotável recurso natural, faz com que a Ilha sempre nos surpreenda. Surpresas que muitas vezes se tornam modelos.

E aconteceu de novo: Cuba nos surpreende de onde foi mais atacada. Essa é outra constante na ilha, onde os melhores contra-ataques vêm da maior parte do ataque – é a marca de Fidel. Por exemplo, negam a possibilidade até de importar aspirina e os cubanos respondem com medicamentos e biotecnologia de classe mundial, capazes de mostrar os melhores índices de controle sanitário nesta crise pandêmica, o menor número de mortes no continente e até o desenvolvimento de cinco vacinas diferentes contra a Covid 19. Existe algo mais emocionante?

E uma das agressões mais perigosas e constantes que a Ilha deve suportar hoje ocorre no campo comunicacional. Tanto Raúl Castro como o presidente Díaz Canel alertaram claramente sobre isso: depois do ataque econômico, o ataque comunicacional, promovido e financiado pelos Estados Unidos e seus serviços de inteligência, é o mais perigoso que este território livre da América enfrenta.
Os protagonistas desses ataques comunicacionais contemporâneos são as mídias digitais e as redes sociais – e a doutrina que norteia seus métodos é a chamada Guerra de Quarta Geração (G4G). Esta é uma mistura perigosa. As redes sociais são hoje a maior fonte de informação para amplos segmentos da população. Sua imensa atratividade faz com que todos os jovens e crianças passem grande parte do dia com elas. A batalha se trava na palma da mão, onde os dispositivos móveis nos mostram tendências, modas, fama efêmera e popularidade que se veem nas redes sociais, todas nas mãos de poucas corporações sediadas nos Estados Unidos, são elas as “Gigantes da Tecnologia".

A G4G precisa delas e as usa. É um tipo de guerra cujo campo de batalha não é a frente militar, mas a sociedade como um todo, com predileção por atacar suas dimensões culturais. O objetivo é claro: promover um colapso interno, psicológico e moral do povo, isto é, minar por dentro. Fazer a guerra dessa forma é uma forma de espalhar a agressão por todo o espectro da vida cotidiana. Para tanto, são utilizadas operações psicossociais realizadas por meio de dispositivos de comunicação, como mídias digitais ou redes sociais, entre outros.
Nessa lógica, dezenas de meios de comunicação, ativistas, bots, trolls, cyborgs e notícias falsas estão em permanente mobilização para acentuar, inventar, exagerar e distorcer a realidade cubana. O funcionamento de San Isidro é uma pequena amostra.

Mas, como dissemos, Cuba sempre surpreende, ainda mais quando reage na lógica do contra-ataque. E o contra-ataque revolucionário no plano tecnocomunicacional já começou e traz em suas entranhas as marcas de uma revolução: audácia, educação, profissionalismo e criatividade.

O lançamento do documentário "A Ditadura do Algoritmo" faz parte desse contra-ataque. Cuba sabe muito bem: é preciso educar para resistir e vencer. E nessa excelente e muito interessante peça audiovisual de 52 minutos, produzida por uma equipe de profissionais cubanos e dirigida por Javier Gómez Sánchez, vemos uma produção de alto valor educativo para todos os públicos. Ao longo de quase uma hora e no âmbito de um trabalho de edição impecável e notável, aprendemos da boca dos cubanos sobre o papel que a atividade automatizada, os algoritmos, as redes sociais, as notícias falsas e as comunidades virtuais hoje desempenham nesta batalha pela verdade que se trava na Ilha.

Parte importante do valor deste documentário está na variedade desses depoimentos: ouvimos especialistas no assunto, tanto em questões relacionadas à infraestrutura tecnológica quanto ao uso político das redes. Não se pode deixar de se surpreender com a clareza e o conhecimento que esses profissionais têm sobre o tecno-digital, apesar do bloqueio tecnológico a Cuba. Vemos também depoimentos de ilhéus vítimas do que é conhecido como trolling nas redes sociais, ou seja, a publicação massiva e hostil de mensagens ofensivas, degradantes e provocativas contra comunicadores revolucionários, no âmbito de ataques coordenados e promovidos por plataformas e mídia digital financiada por Miami.

Mas o documentário não fica apenas na denúncia. Também observamos uma autocrítica direta e sem maquiagem da maneira como o campo revolucionário tem enfrentado essa variante do ataque contra-revolucionário. É uma dívida que está vencida e atrasada em saldá-la, muitas vezes devido a uma rigidez conservadora e improdutiva que a força dos acontecimentos nos força a rever e desmoronar.

Esse caminho já foi iniciado em Cuba, os discursos de Raúl e Díaz Canel na abertura e no encerramento do Oitavo Congresso foram, nesse sentido, claros, críticos e autocríticos: devemos fazer melhor do que foi feito até agora e reagir na dimensão da batalha comunicacional com nitidez, firmeza e criatividade. 


Por Pedro Santander Molina (Doutor em Linguística e professor da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, onde preside o Capítulo Acadêmico).

Conheça "A Ditadura do Algoritmo" e deixe-se surpreender.
CubaDebate

 
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