05/04/2021 às 08h21min - Atualizada em 05/04/2021 às 08h21min

VIVER NA SOMBRA

O SONHO AMERICANO


São mais e mais migrantes rumo aos Estados Unidos. O governo Biden já prendeu mais de 170.000 na fronteira sudoeste agora em março – o maior número em qualquer mês em pelo menos 15 anos e quase 70% a mais do que em fevereiro. Milhares de crianças estão retidas em centros de detenção e agentes de fronteira libertam um número crescente de famílias de migrantes para os Estados Unidos.
Mais de 18.700 crianças e adolescentes desacompanhados foram detidas no mês passado, depois de cruzarem a fronteira, incluindo nas entradas dos portos. Isso foi quase o dobro dos cerca de 9.450 menores detidos em fevereiro e mais de quatro vezes os 4.635 menores desacompanhados que cruzaram em março do ano passado.

Esse grande aumento coloca grandes desafios políticos e logísticos, imensa responsabilidade para a novíssima administração Biden. Isso inclui a necessidade de transferir mais rapidamente crianças e adolescentes desacompanhados para abrigos de emergência em instalações militares e centros de convenções nos Estados Unidos. Muitas das crianças procuram juntar-se aos pais, familiares ou outras pessoas que conhecem e que já se encontrem no país. Mas o número crescente de familiares viajando juntos está criando outro problema para a administração.

Durante grande parte do inverno, mesmo enquanto os Estados Unidos recebiam menores desacompanhados, funcionários do governo usavam uma regra de emergência estabelecida pelo governo Trump durante a pandemia para afastar a maioria das famílias migrantes e adultos solteiros que cruzavam a fronteira.
Mas a situação está se tornando mais complicada. Foram mais de 53.000 migrantes chegando com famílias em março, mais do que o dobro dos cerca de 19.250 em fevereiro.

As autoridades americanas também estão tendo que lidar com mudança na lei mexicana, que tornou mais rígidas as condições para aceitar famílias centro-americanas expulsas pelos Estados Unidos. Por causa da nova lei no México e da falta de espaço em abrigos mexicanos para crianças, os Estados Unidos não podem mais enviar a maioria das famílias com uma criança menor de 7 anos de volta para o outro lado da fronteira.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos estão sem capacidade de deter um grande número de famílias, deixando os oficiais de fronteira com poucas opções além de libertar todos, com ordens de comparecer no futuro para que seus casos sejam julgados. Será que comparecem?

“Estamos entrando na fase dois deste evento extraordinário de migração”, disse Cris Ramón, consultor de imigração baseado em Washington. “Neste ponto, os indivíduos que estão chegando significam que a administração terá que enfrentar os desafios de não apenas cuidar de crianças desacompanhadas, mas terá que cuidar dessas famílias”.

A superlotação das instalações fez com que os agentes de fronteira liberassem mais famílias para as comunidades ao longo da fronteira, de acordo com as autoridades. Alguns dos que foram libertados não foram totalmente informados sobre os detalhes de suas próximas aparições no tribunal, disseram os agentes.

Os agentes deixaram famílias com crianças em estações de ônibus em comunidades fronteiriças, de onde continuam suas viagens para o norte, para parentes nos Estados Unidos. As autoridades de fronteira encontraram mais de 1.360 migrantes viajando com parte de suas famílias e expulsaram apenas 219, de acordo com os documentos. Em 26 de março, mais de 2.100 famílias foram detidas e apenas 200 foram mandadas de volta para o sul.
“Estamos vendo os números aumentarem dia a dia. Eles aumentaram tremendamente, especialmente em março”, disse Hugo Zurita, diretor executivo da Good Neighbor Settlement House (Casa de Acomodação Bom Vizinho) em Brownsville, Texas, que fornece refeições quentes e itens, como roupas, álcool para as mãos e máscaras, para famílias de migrantes na estação de ônibus.

Os parlamentares Republicanos, prometendo tornar essa uma questão central dos seus esforços para retomar o controle do Congresso, acusaram repetidamente o governo de encorajar o aumento da migração com a promessa do presidente Biden de ter políticas mais compassivas para com os migrantes do que as impostas pelo presidente Donald Trump.
“Eles certamente usarão isso como uma arma contra nós”, lamenta o deputado Henry Cuellar, Democrata do Texas. “Isso está prejudicando o bom trabalho de Biden. Ele fez um ótimo trabalho com as vacinas. Isso nos afastou das boas mensagens que recebemos.” (esse deputado está pensando o quê? Já conversou com a vice Kamala?)

O governo Biden continuou a usar uma regra de emergência pandêmica para expulsar rapidamente os adultos solteiros, que continuaram a ser a maioria dos apanhados na fronteira em março. Os defensores dos imigrantes criticaram a regra por violar as leis de imigração que dizem que os migrantes têm o direito de solicitar asilo ao chegar ao solo americano.
A Casa Branca conversou com pelo menos um membro do Congresso sobre a possibilidade de expulsar jovens de 16 e 17 anos para o México, segundo uma pessoa a par das discussões.
O governo também definiu sua resposta como focada no combate às raízes da migração, nomeando a vice-presidente Kamala Harris (que teve familiares imigrantes) para trabalhar com os líderes da região para impulsionar a economia na América Central e reiniciar um trabalho  que permita que algumas crianças se inscrevam em sua região de origem com permissão para morar nos Estados Unidos com um dos pais ou outro parente.

“Não somos ingênuos quanto ao desafio, mas nosso foco são soluções e ações para ajudar a lidar com os menores desacompanhados que estão cruzando a fronteira e dar menos incentivo para vir”, disse Jen Psaki, secretária de imprensa da Casa Branca, na sexta-feira, 2.
A entrada de menores desacompanhados representa o maior desafio logístico para Biden. Ao contrário dos casos de adultos solteiros ou migrantes que viajam com a família, a administração, por lei, é responsável pelo cuidado de crianças e adolescentes desacompanhados até que possa encontrar alguém que os abrigue nos Estados Unidos.

Quase 5.000 crianças e adolescentes estavam em centros de detenção originalmente criados para reter adultos na quinta-feira, 1º, incluindo mais de 3.300 detidos por mais de 72 horas permitidas pela lei federal, de acordo com documentos do governo. Em 72 horas, eles devem ser transferidos para o sistema de abrigo administrado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Mais de 13.300 menores foram mantidos no sistema de abrigos na sexta-feira, 2, de acordo com a secretaria. O governo prevê que até o final de maio serão necessários mais de 35 mil leitos para menores em postos de fronteira e abrigos de emergência. Alejandro Mayorkas, secretário de Segurança Interna, disse no mês passado que o governo esperava encontrar neste ano o maior número de migrantes na fronteira em 20 anos.
“Não há como interromper isso”, disse Ronald D. Vitiello, ex-diretor em exercício da Imigração e Fiscalização Alfandegária e chefe da Patrulha de Fronteira sob a administração de Trump. “Só fica muito pior. É realmente lamentável.”

Biden agora implantou a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências para encontrar abrigo adicional para os menores em um esforço chamado “Operação Apolo” (Apolo é o Deus do Sol, na mitologia grega), certamente uma referência a uma vida nova. A administração ainda está avaliando migrantes em novas instalações em um hotel em Dallas, Fort Benning, na Geórgia e Sleep Train Arena, em Sacramento, de acordo com documentos do governo.
“Eles deveriam estar planejando isso há um mês”, disse Ramón. “Agora eles precisam pensar dois ou três meses antes para ter uma solução para lidar com isso.”
Como se fosse possível encontrar solução fácil entre tanta desigualdade...

Leia mais em The New York Times.
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