04/08/2020 às 15h46min - Atualizada em 04/08/2020 às 15h46min

UM PRESIDENTE FAZ A DIFERENÇA

A ARGENTINA TEM ALBERTO FERNÁNDEZ, NÓS TEMOS...


Madrugada desta terça-feira, dia 4. Já tinham passado mais de 30 horas de negociações ininterruptas. Do lado de lá, os credores internacionais cobrando da Argentina o pagamento da dívida. Do lado de cá, o Ministério da Economia argentino tentando negociar o que parecia inegociável.
A negociação formal havia começado em fevereiro, com a intenção de ser concluída em março. Mas não foi em março, nem em abril nem em maio, e a enésima data estabelecida como limite, o dia 4 de agosto, estava chegando sem nenhum dos lados disposto a ceder.
 
Dois dias atrás, nas primeiras horas de domingo, o fracasso parecia ser o destino predeterminado. Na melhor das hipóteses, haveria um longo adiamento. Alberto Fernández, o presidente da Argentina, tinha determinado ao seu ministro da Economia, Martín Guzmán, que não recuasse de sua última posição: a Argentina poderia pagar 53,4 dólares para cada cem que eram devidos, nem um centavo a mais. Os detentores de títulos, por seu lado, não aceitavam menos de 56 dólares.
Convencido de que sua oferta era até generosa demais, levando em conta o efeito devastador da pandemia de coronavírus na economia argentina (a previsão é de uma recessão de 12% para este ano), o presidente Fernández decidiu interromper as conversas com os detentores de títulos e iniciar uma negociação com o Fundo Monetário Internacional, ao qual o país deve 44 bilhões de dólares (235 bilhões de reais) tomados emprestados pelo Governo anterior, liderado por Mauricio Macri, e volatilizados após a crise cambial que teve seu ponto culminante em agosto de 2019. Desde 2015, o peso se desvalorizou 87%.
 
Fernández comunicou sua decisão a sua poderosa vice-presidenta, a ex-presidenta Cristina Kirchner, e ao terceiro eixo da coalizão governista, o presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa. Tanto Kirchner como Massa destacaram os riscos envolvidos em manter o país em suspensão de pagamentos: juros proibitivos, mais desvalorizações em relação ao dólar e perda de prestígio internacional. O presidente reconsiderou sua decisão e autorizou o ministro Guzmán a melhorar ligeiramente a oferta: de 53,4 dólares para cada 100 nominais se passou a um valor estimado em 54,8 dólares – ou seja, mais 1,40 centavos de dólar para cada 100 dólares. Guzmán telefonou para Jennifer O´Neill, executiva do poderoso fundo de investimentos BlackRock, e o acordo foi imediato. O BlackRock, o maior fundo do mundo, liderava desde o início o setor mais irredutível dos detentores de títulos. Sua aceitação mudava tudo.

Faltavam detalhes, mas nesta segunda-feira havia euforia nos mercados: as ações argentinas subiram 12%, apenas com a esperança de que o acordo sobre a dívida saísse a qualquer instante. As negociações continuaram durante a noite de segunda-feira, até que, pouco antes do amanhecer desta terça-feira, dia 4 de agosto de 2020, Guzmán anunciou oficialmente que os seis meses de diálogo, discussão, rupturas e retomadas, dificultados pela pandemia (quase todos os contatos foram por videoconferência), tinham sido concluídos com sucesso.
 
Parabéns, Argentina - um país com um presidente de verdade!

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