(por PEPE ESCOBAR) Mesmo antes do presidente dos EUA, Donald Trump, dirigir-se à opinião pública mundial após o ataque de mísseis iranianos em retaliação pelo assassinato do major-general Qasem Soleimani, uma das principais fontes de informações dos EUA enviou essa análise em resposta a uma pergunta detalhada:
“É muito improvável que Trump aumente a escalada, neste momento, e essa pode ser a oportunidade que ele precisa para deixar o Oriente Médio, exceto os Estados do Golfo. Trump quer sair. O fato de Israel poder ser atingido em seguida pelo Irã (como prometido, entre outros, pelo EGRI - Exército de Guardiães da Revolução Islâmica e pelo secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah) provavelmente fará com que os israelenses se afastem, e não que Trump bombardeie o próprio Irã.
“O DEBKA-Mossad (espionagem israelense) reconheceu que os mísseis ofensivos do Irã não podem ser evitados. O segredo é que ele avança colado ao solo, fora do alcance das telas de radar”, acrescentou a fonte, referindo-se ao míssil de cruzeiro Hoveizeh, com alcance de 1.350 km, já testado por Teerã.
“O que é surpreendente é que o Iraque tenha permitido a entrada de tropas americanas em seu país depois de ver mais de um milhão de pessoas assassinadas pelos EUA” (incluindo as 500.000 crianças mortas - durante os anos 90, como reconhecido por Madeleine Albright). “A União Africana (UA) informou que isso ocorre porque o Iraque é mais corrupto do que a Nigéria.”
"A questão-chave aqui é o que aconteceu com a defesa do míssil Patriot nessas bases que estavam em alerta máximo - assumindo que isso não é semelhante aos mísseis de Trump atingindo edifícios vazios na Síria, após a operação química de bandeira falsa", concluiu a fonte. "Não vi nenhum relatório de que algum míssil de defesa estivesse funcionando, o que para mim é muito significativo."
Judd Deere, vice-secretário de imprensa da Casa Branca, confirmou na terça-feira à noite as informações que publiquei no Facebook apenas na quarta-feira de manhã, porque eu estava na prisão do Facebook por 24 horas devido às minhas informações sobre o assassinato de Soleimani.
A versão da Casa Branca é que o presidente Trump, em um telefonema, agradeceu a Tamim bin Hamad Al Thani pela "parceria do Catar com os Estados Unidos" e discutiu o Iraque e o Irã.
Segundo minha fonte, que é muito próxima da família real do Catar, Trump de fato enviou uma mensagem a Teerã via emir. A mensagem tem duas partes. Trump prometeu que as sanções seriam canceladas se não houvesse retaliação de Teerã (algo que Trump simplesmente não teria meios de garantir, considerando a oposição de Capitol Hill); e que haveria uma ‘desescalada’ se Teerã apresentasse uma resposta "proporcional".
O próprio ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, descreveu os ataques com mísseis iranianos como uma "resposta proporcional".
E isso explica por que Trump não foi à TV na terça-feira à noite nos EUA para anunciar a guerra total - com os neo-conservadores berrando por isso.
Ainda não sabemos em detalhes - porque ninguém está falando -, mas há muita diplomacia de nível ultra-alto nos bastidores, especialmente entre o Irã e a Rússia, com os chineses em alerta máximo, mas muito discretos.
Existe um amplo consenso no Eixo da Resistência de que a China é muito mais importante do que os chineses realmente pensam. Especialmente no Levante (termo geográfico impreciso que se refere, historicamente, a uma grande área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada a oeste pelo Mediterrâneo e a leste pelo Deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia; não inclui a Península Arábica, o Cáucaso ou a Anatólia ), onde todos olham para a China como um futuro parceiro, substituindo progressivamente a hegemonia dos EUA.
Tal como está, o que o Irã e a Rússia estão discutindo diplomaticamente carrega o imprimatur chinês - pois há um componente muito forte da Organização de Cooperação de Xangai em ação. O presidente Putin é bastante ativo no tabuleiro de xadrez: ele esteve na Síria e depois na Turquia. E, segundo fontes russas, o ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov está enviando algumas mensagens apropriadas ao secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em termos inequívocos.
Leia também no
ASIA TIMES