As críticas à política do governo brasileiro em relação à defesa das terras indígenas agora também partem da ONU. A relatora da ONU para Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, em entrevista exclusiva ao UOL, por telefone direto de Manilha, Filipinas, alertou que o presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade sobre os ataques dos garimpeiros às terras dos Wajãpi, semana passada no Amapá. Durante a invasão, o cacique Emyra Wajãpi, de 68 anos, teria sido morto pelos garimpeiros. O corpo foi encontrado em um rio no município Pedra Branca do Amapari. "Um dos elementos é o fato de que o presidente tem feito anúncios de que terras indígenas podem ser usadas para atividades produtivas. Essa é uma das razões que explica a situação, além dos interesses econômicos sobre essas terras", disse. A relatora da ONU ressaltou: "Ele é o chefe-de-estado e, ao fazer tais pronunciamentos nessa linha, então claro que esses grupos vão tentar controlar essas terras, invadir esses territórios. Trata-se de um ato ilegal e, portanto, é de responsabilidade do governo proteger o território". O governo mandou a Polícia Federal e o Batalhão de Choque da PM estadual para a região invadida, mas, se depender do presidente Jair Bolsonaro, a tensão deve aumentar. Nessa segunda-feira, em Brasília, ele reafirmou que pretende legalizar o garimpo no país, inclusive nas terras indígenas. Contrariando as informações da FUNAI, Bolsonaro partiu para o ataque. “Usam o índio como massa de manobra, para demarcar cada vez mais terras, dizer que estão sendo maltratados. Esse caso agora aqui… Não tem nenhum indício forte que esse índio foi assassinado lá. Chegaram várias possibilidades, a PF (Polícia Federal) está lá, quem nós pudemos mandar já mandamos. Buscarei desvendar o caso e mostrar a verdade sobre isso aí”. A ONU também quer saber e Victoria Tauli-Corpuz pede que a morte do cacique seja alvo de um inquérito. "Deve haver uma investigação e os autores devem ser levados à Justiça". A relatora da ONU citou acordos como Mercosul-UE como instrumento da comunidade internacional para pressionar o governo brasileiro. "Espero que países da Europa que fecharam esses acordos comerciais relembrem ao Brasil sobre suas responsabilidades e compromissos de direitos humanos e respeito aos direitos de indígenas, assim como proteger a Amazônia", afirmou... - Em maio, o presidente francês Emmanuel Macron recebeu o cacique Raoni e outras lideranças indígenas, em Paris, e prometeu o apoio na defesa das nações indígenas brasileiras e da preservação da Amazônia. Esses dois pontos estão sendo analisados pela Assembleia Nacional francesa para validar o acordo Mercosul-UE. Depois dos ataques dos garimpeiros às aldeias do Amapá, as discussões têm tudo para ser intensificadas.